Após o atraso no plantio da soja em Mato Grosso, decorrente da má distribuição das chuvas, produtores começam a avaliar com mais precisão o resultado dessa safra. Quem começou a colheita das variedades precoces está retirando do campo uma quantidade menor de grãos. Já para a colheita das outras variedades, a expectativa é melhor, com a volta das chuvas regulares.
A alta do dólar foi relativamente boa para os produtores. Os preços das commodities melhoraram, mas o custo de produção aumentou substancialmente com a valorização da moeda norte-americana, por conta dos insumos, que são importados. Ainda assim, a elevação do dólar pode ser vista como uma espécie de compensação diante das adversidades climáticas que prejudicaram o desenvolvimento das plantas.
Segundo informações do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a produtividade das lavouras deve cair em quase metade das propriedades do Estado. As regiões leste e norte foram as mais atingidas pela falta de chuvas. Na última safra, a média estadual foi de 52 sacas colhidas por hectare, sendo que a previsão para esta colheita caiu para 50,7 sacas por hectare.
Mesmo considerando que a colheita ainda está começando, esse rendimento pode ser muito menor, em propriedades localizadas nas regiões mais afetadas pela seca. “Por enquanto a produtividade está bem abaixo do esperado. Temos relatos bem variados, de produtores que estão colhendo de 15 até 45 sacas [por hectare] sendo que o normal é render de cinquenta sacas pra cima. Tem uma discrepância muito grande de produtor pra produtor, devido à época do plantio e às condições de cada região”, explica o gerente de planejamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Cid Ferreira Sanches.
Colheita
Por enquanto, menos de 10% das lavouras foram colhidas. Até a metade de fevereiro deve ser concluída a colheita das espécies precoces. Muitos produtores adiaram o plantio das variedades médias e tardias, e por isso ainda é cedo para saber como será o desenvolvimento dessas lavouras.
Por enquanto, a previsão é de que a safra dessas outras variedades ocorra dentro do esperado. “Como o plantio acabou atrasando, ainda não tem como estipular como será a colheita. Só no final de fevereiro pra gente saber como essas variedades plantadas mais tarde vão se desenvolver, mas até agora parece que não vamos ter mais perdas. De qualquer forma, com essa perda das precoces, a produtividade geral das fazendas vai cair bastante”, afirma Sanches.
Ano ruim
Produtor de soja há 33 anos, Osvaldo Rubin Pasqualoto afirma que esta foi a pior safra das últimas três décadas, por conta dos veranicos. Até o momento, foram colhidos 20% dos grãos em sua propriedade, no município de Jucimeira. “Estamos com uma perda de 10% em relação ao ano passado, com a produtividade caindo de 55 pra 50 sacas [por hectare]. Este é o pior dos últimos 30 anos”, analisa.
Alta do dólar
Como boa parte desta safra começou a ser vendida bem antes do plantio, há cerca de sete meses, os produtores tiveram na alta do dólar certa compensação diante das perdas. “Eles pegaram um pouco dessa variação do dólar. Se não fosse isso, o prejuízo seria muito grande por conta das perdas e do alto custo de produção, que foi um dos mais altos da história do estado”, avalia o gerente de planejamento da Aprosoja.
Para Pasqualoto, a expectativa é que pelo menos os custos sejam cobertos e que um prejuízo maior possa ser evitado. “Nós investimos muito para essa safra e como vamos colher menos, é um ano que não vai ser fácil. A alta do dólar pelo menos está atenuando um pouco a perda da produtividade. Se a gente empatar e não tiver um grande prejuízo, já está bom”, diz.
Os produtores de Mato Grosso plantaram mais de nove milhões de hectares de soja nesta safra. A previsão inicial era colher 29 milhões de toneladas do grão. Agora, a expectativa é que continue chovendo, porém não em demasia. Durante o mês de janeiro o clima colaborou, mas chuvas excessivas ainda podem prejudicar as lavouras e também a colheita.