A produtividade do trabalhador brasileiro comparada com a de nações desenvolvidas é muito ruim. Mesmo confrontada com a de países em desenvolvimento, nosso desempenho aparece muito mal, basta ver que de 64 estados pesquisados só três são piores que o Brasil.
Por certo, há muitas e complicadas explicações que educadores, executivos de empresas, psicólogos, economistas e sociólogos conhecem para justificar uma posição tão constrangedora para um país da importância do Brasil. Nossos números são humilhantes: pesquisas apontam serem necessários quatro trabalhadores brasileiros para produzir o que apenas um americano gera.
Existe um fato que não precisa de sociólogo ou psicólogo para ser apontado como um dos mais decisivos para puxar para baixo o desempenho do trabalhador brasileiro: o uso indevido e recorrente do telefone celular no ambiente de trabalho.
Consta que durante a semana um trabalhador brasileiro consome 91 horas grudado na internet. Dessas, somente 19 são usadas no trabalho. Esses números são totalmente diferentes nos países da Europa e nos Estados Unidos. Nesses, são gastas em média 25 horas semanais. Ou seja, nós desperdiçamos 3 vezes mais tempo que essas nações desenvolvidas, quase sempre seguindo postagens de celebridades. São atletas, artistas, cantores e os tais influenciadores digitais que sabendo do gosto das pessoas por fofocas e exibicionismo, as mantém abastecidas com posts que lhes rende uma grana preta em propagandas e monetização das plataformas.
O Google informa que as 10 celebridades brasileiras mais “seguidas” somente no Instagram têm mais de 700 milhões de seguidores e que 99 milhões de brasileiros usam esta rede social diariamente. Apenas o Neymar tem 212 milhões de seguidores, número muito semelhante ao da população brasileira de todas as idades. Note que não estão incluídos os seguidores do TikTok, Twitter, LinkedIn, Facebook, etc.
Se este “vício” tem realmente o poder de erodir ainda mais a capacidade produtiva do nosso trabalhador, como penso que tem, temo que este seja um mal em franca prosperidade. A razão é que hoje as crianças de 8 a10 anos já estão com celular e, imitando seus pais, escolhem os atletas, cantores, artistas, influenciadores ou humoristas que vão seguir. Esta talvez seja a primeira geração a ser exposta tão precocemente aos efeitos das redes sociais e não sabemos ainda se haverá danos sérios à personalidade ou se saberão lidar com isso.
Os pais dessas crianças que hoje estão na faixa dos 40 anos só vieram conhecer este fenômeno dos ídolos de internet e influenciadores digitais a partir dos 20 anos.
Claro que não é possível atribuir somente à internet nossa baixa produtividade, pois antes dela já éramos improdutivos. As razões devem ser buscadas na educação insuficiente, na falta de escolas profissionalizantes, no desinteresse dos empregadores em investir em seus funcionários.
Mas o problema não é a falta de dinheiro público para as escolas: o Brasil destina à educação percentual do PIB maior que os países da OCDE.
Renato de Paiva Pereira