Com tanta variedade de conteúdo na internet, crianças têm consumido cada vez mais produtos de streaming, que são transmissões online de filmes, séries e músicas. Essa situação tem provocado a atenção das marcas, que buscam atrair esse público com publicidades relacionadas a brinquedos, aparelhos tecnológicos, roupas e até mesmo estilo de vida. No atual contexto de isolamento social, entreter a criança com vídeos na internet parece ser uma prática sem grandes riscos, porém é preciso ter alguns cuidados e monitorar sempre o conteúdo que elas estão consumindo.
Não é raro perceber que as crianças se sentem mais atraídas por vídeos online e passam horas assistindo, tempo que antes era voltado para a televisão. As marcas já perceberam essa mudança e começaram a investir em publicidade, assim como em patrocínios de produtores de conteúdos que já tenham conquistado um público relevante.
Essas táticas publicitárias provocam uma necessidade de cuidado redobrado dos pais ou responsáveis pelo cuidado da criança. De forma que é sempre bom conferir quais são os canais, filmes ou desenhos mais acessados, se o conteúdo é relevante e condiz com a faixa etária indicada.
“A publicidade infantil ocorre de forma subliminar, às vezes as crianças não percebem que está sendo ofertado determinado produto, porque elas estão assistindo desenhos e não notam práticas de repetição para tentar seduzi-las, por exemplo. Por isso é muito importante que os pais façam um acompanhamento do que seus filhos estão assistindo”, explica a coordenadora de Educação para o Consumo do Procon-MT, Cristiane Vaz.
Em agosto, o Núcleo de Inteligência e Pesquisas da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon-SP realizou a pesquisa “Crianças e adolescentes na internet – segurança” , ao todo participaram 1.122 consumidores que responderam sobre a relação das crianças e adolescentes em idade de 6 a 17 anos com a internet e se os pais estão atentos ao uso da rede por seus filhos. De acordo com os dados divulgados, cerca de 42,16% dos pais entrevistados consideram que têm o controle total sobre o acesso à internet dos filhos, enquanto 52,96% disseram ter controle parcial. Já 4,88% revelaram não ter monitoramento algum.
Ao abordar sobre a relação dos conteúdos com a publicidade, a pesquisa levantou informações sobre a frequência em que o filho de cada entrevistado manifesta querer comprar algo que foi anunciado na internet. De acordo com o relatório, “a maioria, 56,27% (323) respondeu que às vezes, 9,58% (55) sempre e 34,15% (196) nunca”.
A publicidade infantil é um tema recorrente em discussões sobre os direitos do consumidor e, principalmente, no que diz respeito à educação e proteção infantil. Prevista no Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC), a prática é considerada abusiva, uma vez que se aproveita “da deficiência de julgamento e experiência da criança”, como estabelece o Art. 36º do documento.
Muitas propagandas que surgem na internet não dependem necessariamente da busca ou conexão do internauta, por vezes estão ligadas a mecanismos de pesquisas usados em outras ocasiões.
“Ainda que o objetivo do acesso não seja pesquisar algum produto ou serviço para compras, crianças e adolescentes têm contato com os anúncios e são ‘convidados’ a comprar. Os resultados apontam que o contato com a publicidade existe e que há uma efetiva influência no desejo de compras”, revelou dados disponibilizados pelo Procon São Paulo.
Para Cristiane Vaz, com a vida cada vez mais online, é preciso que todos façam esse esforço de monitoramento, uma vez que existem diversas maneiras de fazer campanha publicitária de forma subliminar.
“A publicidade infantil, por meio online, avançou de uma forma que até os órgãos de controle passaram a ter dificuldades de supervisionar, porque precisamos de denúncias e elas raramente são registradas. Ou seja, os pais precisam prestar mais atenção em publicidades e, verificando se são abusivas ou enganosas, é importante formalizar uma denúncia. Já que essas publicidades chegam hoje de maneiras diversas na internet, o controle tem que ser coletivo”, salienta a coordenadora de Educação para o Consumo do Procon-MT.
No começo do ano, em fevereiro, em a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao ministério da Justiça e Segurança Pública, propôs um projeto de nova regulamentação sobre a publicidade infantil no Brasil, visando determinadas flexibilizações em relação às normas já estabelecidas. A proposta sofreu manifestações contrárias de órgãos de proteção à crianças e adolescentes e segue em processo de construção.
Monitoramento ajuda a evitar conteúdos duvidosos
Confira dicas de como lidar melhor com os anúncios online:
– Tenha cuidado com as informações compartilhadas em aplicativos instalados no celular, lendo sempre os termos de privacidades e uso de dados.
– Esteja sempre atento ao uso das tecnologias pelas crianças. É essencial saber ao que elas têm acesso, com quais canais elas interagem e quais as mensagens que estão sendo ditas nesses veículos.
– Fique atento e monitore a forma como os perfis ou canais nas redes sociais falam sobre as marcas, como as propagandas são feitas e avalie se é de maneira honesta.
– Existem bloqueadores de publicidade disponíveis gratuitamente. Com eles é possível filtrar alguns dos anúncios. Isso irá ajudar a evitar que as crianças sejam expostas frequentemente.
– Invista em educação para o consumo com as crianças. Converse sobre consumo consciente e conhecimento sobre o que é realmente verdade em propagandas.