Vivemos na república do caos. Quanto mais caos melhor. Quanto mais dantesco, mais proeminente. Desde a hora em que acordamos somos bombardeados por notícias ruins de todos os lados: Dilma continua no Poder, Aécio ainda é a oposição, FHC tem amante, Lula não desiste, inflação, corrupção, delação, violência nas ruas, violência nas estradas, Bolsonaros julgando nossas virtudes, desastres ecológicos, crescimento econômico só não é pior do que o da Venezuela. Claro que o momento não é dos melhores, mas hoje só notícia banhada a sangue é que vende. O que esquecemos é que nós, pessoas do bem, somos a maioria. Esquecemos que a cada vez que alguém diz não, existem cinco que dizem sim. O mundo deveria ser repleto de boas notícias. Esquecemo-nos de dizer que existem milhões que acreditam na caridade. Esquecemos que ainda tem gente que pensa com amor.
– Amor… caridade…. fica bonito saindo assim da sua boca, mas não se esqueça que aqui é Brasil, João! Até o cara da AACC roubou a gente. Os caras roubaram das crianças com Câncer.
– Mas Flor, se a gente pensar assim acabou tudo.
– João, o Brasil já acabou faz tempo. Escuta o que eu te digo. Brasileiro é carinhoso, amoroso, bondoso, caridoso até a água bater na bunda.
– Então vamos embora do Brasil.
– Com o Euro a 5 por 1? Vamos viver de quê!?
A discussão ia se acalorando até que escutamos um tossido. Ficamos em silêncio. Mais uma tosse. Seguido de outra e outra, Flor grita séria, João!!!!!, eu corro até o carrinho.
Era Maria Flor engasgando com a maçã.
Começo a bater nas costinhas, enfio dedo na goela dela, sai o pedacinho da maçã. Olho pro rostinho dela vermelho, meu bebê assustado, chorando. Nos abraçamos bem forte. Os três juntinhos. Olhamos para Maria e ela sorri. Beijo carinhosamente a Flor. Nem sei mais o que discutíamos. Definitivamente não era uma prioridade. Maria Flor sorri mais uma vez. Sentamos no sofá e ligamos a TV.
– Vai amor, futebol não, coloca no Jornal Nacional.