O prefeito do Rio, Eduardo Paes, entrou pessoalmente em contato com a família de Eduardo Marinho Albuquerque, uma das vítimas da queda da ciclovia na Avenida Niemeyer, nesta quinta-feira (21). Ele disse que a prefeitura busca o diálogo para ressarcir as famílias. O prefeito também voltou a falar sobre o fechamento da ciclovia em caso de ressaca. Segundo Paes, não havia havia recomendação nesse sentido.
Em entrevista coletiva neste sábado (23), o prefeito disse que conversou com um dos cunhados de Eduardo. Segundo ele, representantes da prefeitura também já fizeram contato com a família do gari comunitário da Rocinha, Ronaldo Severino da Silva.
"Busquei contato com as duas famílias, pessoas já conversaram com o cunhado de uma das duas vítimas do acidente. A prefeitura vai buscar, de maneira adequada, um diálogo direto para ressarcir essas pessoas do ponto de vista material", garantiu Paes.
"Não existe possibilidade de colocá-la (ciclovia) abaixo. Hoje parece meio óbvio que deveria haver um plano de contingência num caso de ressaca, que no mínimo as pessoas fossem informadas para não utilizar a ciclovia em caso de ressaca. Não houve nenhuma recomendação nesse sentido", disse Paes.
Paes, que estava na Grécia para participar da cerimônia de acendimento da tocha olímpica, chegou de viagem na noite desta sexta-feira (22). O prefeito fez as primeiras declarações sobre o acidente logo após chegar à cidade. Ele disse que houve atraso na obra e concluiu que existiu falha na construção. Paes também anunciou que presidente da Fundação Geo-Rio, Márcio Machado, pediu afastamento do cargo.
"Nunca houve uma recomendação por parte da Geo-Rio para fechar a ciclovia quando há ressaca. Então, você provavelmente tem um problema estrutural, além de um não encaminhamento de uma operação de uma ciclovia naquelas condições. Em caso de ressaca, de mar alto, devia-se botar um aviso indicando que a ciclovia não deveria ter sido utilizada. A prefeitura que deveria ter feito isso. Me sinto totalmente responsável."
Homicídio culposo
A Polícia Civil do Rio abriu inquérito por homicídio culposo (sem intenção de matar) para apurar a queda de 20 metros da ciclovia. A investigação está a cargo da 15ª DP (Gávea) que já fez duas perícias no local do acidente e começou a ouvir testemunhas.
Na próxima semana, serão convocados para prestar depoimento os responsáveis pelo projeto, execução da obra e também fiscalização. O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) também abriu investigação para apurar as responsabilidades dos engenheiros na obra.
Muitas perguntas continuam sem respostas, conforme mostrou o RJTV nesta sexta-feira. A empresa Concremat, que contruiu a ciclovia, também tem contrato com a prefeitura em outras seis obras financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ela é responsável pelo gerenciamento da ligação entre os BRTs (Transolímpica/ Transoeste/Transbrasil), Duplicação do Elevado do Joá e das obras do Entorno do Parque Olímpico do Engenhão. No caso da ciclovia Tim Maia, a empresa também gerenciava a obra, ou seja, a Concremat supervisionava a Concremat.
Além disso, junto com as construtoras Audax e a Planservi, a Concrejat é responsável pelo gerenciamento, fiscalização e supervisão de obras de infraestrutura da Linha 4 do Metrô. Em 2014, o Tatuzão, equipamento que constrói os túneis do metrô, ficou parado após um afundamento do solo e provocar a abertura de duas crateras em Ipanema, na Zona Sul.
Fiscalização e responsabilidades
A reportagem do RJTV teve acesso aos nomes da comissão de vistoria da Geo-Rio, formada para fiscalizar a obras da ciclovia. São os engenheiros Fábio Lessa Rigueira, Luiz Otávio Martins Vieira, Fábio Soares de Lima e Ernesto Ferreira Mejido e o geólogo Elcio Romão Ribeiro.
Também nesta sexta, a prefeitura do Rio também divulgou os nomes dos engenheiros do consórcio Contemat-Concrejato que projetaram e executaram a obra da ciclovia. O projeto estrutural é de autoria do engenheiro Marcello José Ferreira Carvalho. O próprio Marcello e os engenheiros Ioannis Saliveros Neto e Hercules Bruno Neto são os responsáveis pela execução.
Só que de acordo com um dos oito termos aditivos assinados entre o consórcio e a Geo-Rio, empresa municipal contratante e responsável pela fiscalização, o engenheiro Hércules Neto foi substituído pelo engenheiro Danilo Alves Pereira, em dezembro do ano passado. Os motivos da substituição ainda não foram informados.
Posicionamento prefeitura
A Prefeitura do Rio ainda não se posicionou sobre o fato da Concremat ter sido contratada para gerenciar o próprio contrato de financiamento. A produção do RJTV não conseguiu contato com os engenheiros e o geólogo da Geo-Rio citados na reportagem. Também não foi possível contato com os engenheiros da Concremat citados pela prefeitura como responsáveis pela obras. A Concremat ainda não respondeu à solicitação.
Fonte: G1