Circuito Entrevista

Prefeito de Cuiabá abre o Palácio Alencastro para o Circuito Mato Grosso

Fotos: Andréa Lobo

Josiane Dalmagro/ Airton Marques

Há dois anos e cinco meses no comando da Prefeitura de Cuiabá, o prefeito Mauro Mendes (PSB) se dedica a implantar um novo ritmo em sua gestão, com a apresentação de resultados e ações mais populares. 

Na saúde, seu principal foco durante a campanha política de 2012, o gestor municipal ainda enfrenta grandes dificuldades para resolver a superlotação das unidades e a reclamação dos profissionais que atendem a população, por exemplo. No entanto, conquistas nesta área primordial já começam a aparecer, como a entrega da obra do Hospital São Benedito, que só irá funcionar de fato se o Governo Federal cumprir com o seu papel e arcar com cerca de R$ 7 milhões/mês. Além disso, o novo Pronto Socorro está prestes a começar a ser construído.

Em entrevista exclusiva ao Circuito Mato Grosso, Mendes tratou de explicar este novo período prometido em suas campanhas institucionais na mídia, que pregam o “tempo de colheita” para a capital mato-grossense.

Além de seu papel como gestor, o socialista também fez uma analise sobre a política e declara a imprevisibilidade de seu futuro público a partir do ano que vem, com a realização das eleições municipais, onde ele se considera candidato natural a reeleição, mas não confirma se será novamente postulante a gestão da Prefeitura.

Circuito Mato Grosso:  – Prefeito, o senhor falou nesse último mês que teve grandes eventos e a Prefeitura vem anunciando nova fase de colheitas. O que seria essa fase na gestão Mauro Mendes à frente da Prefeitura?

Prefeito Mauro Mendes – Após dos anos e três meses de administração, nós conseguimos plantar e começar a colher alguns resultados do nosso esforço na administração municipal. No mês de abril deste ano, mês de aniversário da cidade, nós oficializamos muitas entregas de ações que foram desenvolvidas ao longo de 2014 e algumas também de 2013. O tempo da administração pública não permite você pensar, planejar, executar e colher os frutos na velocidade que todos nós gostaríamos, principalmente eu que estava acostumado com a iniciativa privada. Então desde abril nós pudemos comemorar isso. Na área de infraestrutura entregamos 200 km de asfalto, 120 km de asfalto novo na cidade de Cuiabá, entregamos creches, reforma de creches, reforma de escolas, equipamentos esportivos, regularização fundiária e fechamos no dia 30 com a entrega do Hospital São Benedito, que vem aí para quebrar um tabu histórico aí – há 31 anos Cuiabá não tinha a inauguração de um equipamento de saúde pública, um hospital público.

CMT – O Hospital São bendito foi inaugurado, mas ainda há um prazo para estar em pleno funcionamento. Qual é esse prazo e o que ainda está pendente para que ele entre em atividade?

MM – Nós fizemos a entrega da obra e a partir de agora começa o processo de start up, de ativação de um Hospital. Temos a previsão de 45 dias, um prazo em que nós vamos contratar as pessoas, vamos fazer o treinamento delas, fechar os últimos detalhes e acertar com o Ministério da Saúde o custeio, que está estimado em 7 milhões de reais por mês, para esse hospital. O projeto que nós apresentamos ao Ministério da Saúde contemplava isso, o Ministério aprovou em duas etapas. Primeira etapa foi a compra de equipamentos, nós compramos e ficou para que assim que o hospital estivesse pronto nós iriámos negociar o custeio. Nós finalizamos o hospital, cumprimos a nossa parte, que era alugar o imóvel, reformar, ampliar, colocá-lo em condições de uso com os custos correndo por conta da Prefeitura para então iniciar o seu funcionamento. Cumprimos a nossa parte, agora temos que aguardar o Ministério cumprir a dele.

CMT – O local deve desafogar o Pronto-Socorro de Cuiabá?

MM – O São Benedito será destinado a cirurgias de alta complexidade. Quando estiver em total capacidade de atendimento – pois em um hospital como esse você não entra já fazendo 100% de atendimento, há um processo de ativação de todas as modalidades que vamos atender lá – serão em torno de 500 cirurgias por mês, o que certamente irá ajudar a desafogar o Pronto-Socorro, salvar muitas vidas e aliviar o sofrimento de muitas pessoas que estão aí nas longas e intermináveis filas, coisa que já dura décadas aqui na cidade de Cuiabá.

CMT – Também há uma parceria com o governo do Estado, certo?

MM – Esse financiamento, no projeto, prevê uma participação do Estado e o governador Pedro Taques já confirmou a parte dele dizendo que vai aportar então, no mínimo, 2 milhões de reais por mês.

CMT – O senhor tem menos de dois anos para concretizar a maior promessa feita durante a campanha, o novo Pronto-Socorro.  Ele será entregue até a conclusão deste mandato?

MM – Estamos trabalhando para que isso ocorra. Infelizmente o tempo da administração pública é diferente e você tem que fazer tudo de acordo com a lei e seguir os passos e procedimentos. Primeiro, definimos uma área, contratamos uma empresa para fazer o projeto, o projeto ficou pronto. Depois que ele ficou pronto nós fomos fazer a sua devida aprovação nos órgãos – Vigilância Sanitária, Bombeiros, Prefeitura – e a partir daí fazer a licitação. Estamos finalizando, neste momento, a licitação da obra, conseguimos os recursos, por parte da Prefeitura e do Governo do Estado e vamos iniciar a obra nas próximas semanas. Essa é uma grande vitória, esse hospital está 15 anos atrasado para o início de sua construção e quando o atual Pronto-Socorro, há mais de três décadas, começou a operar, Cuiabá tinha outra realidade que nós não temos hoje. Portanto, não estamos atrasados uns poucos meses não, estamos atrasados mais ou menos 15 anos, quando já deveríamos ter começado.

Me sinto muito feliz por ter conseguido dar os passos seguros, concretos e firmes para transformar esse desejo e esse sonho em mais do que uma promessa de campanha, em uma realidade para a população de Cuiabá e de Mato Grosso. E vamos continuar os passos para que ele seja uma obra entregue nos próximos meses. Se ficar pronto no meu mandato, ótimo! Se ficar um mês depois, eu vou ficar igualmente feliz, pois ajudei Cuiabá a deixar de ter isso como uma utopia e estar se transformando em realidade.

CMT – Como o senhor avalia a atual situação da saúde em Cuiabá, tendo em vista que o atual Pronto-Socorro está em péssimas condições e o novo provavelmente não ficará pronto no seu mandato?

MM – A saúde é um problema do Brasil inteiro. Colocaram na Constituição que o Brasil ia dar saúde de graça para toda a população, se nem os Estados Unidos – país mais rico do planeta – consegue fazer isso. No Brasil, coloca-se muita coisa no papel, na Constituição e nas leis, mas na prática elas não acontecem. No Brasil tem a piada, né, lei que pega, lei que funciona, lei que é pra valer e lei que não é pra valer. A própria Constituição tem dezenas de itens que não são cumpridos por ninguém neste país, então saúde é uma delas. O SUS tem um grande financiador, que é o governo federal. Quem financia saúde pública no Brasil não é Prefeitura, é o Sistema SUS, é o Fundo Nacional de Saúde, e o dinheiro de lá é insuficiente para todos os brasileiros terem uma saúde de qualidade, por isso que a saúde em Cuiabá e no Brasil inteiro vive sendo notícia. É um sistema que foi concebido de uma forma muito bonita, só que na prática não tem dinheiro para sustentar sua efetiva realização. Em Cuiabá nós temos muitas dificuldades, é a capital de um Estado em que a saúde não funciona no interior, é uma capital que tem que atender uma demanda muito maior do que os recursos que nós temos.

Estou fazendo a minha parte, até muito mais do que eu imaginava que conseguiria fazer. Eu nunca havia imaginado conseguir fazer o São Benedito e foi uma forma que encontramos de aliviar a dor das pessoas que precisam e colocar mais um equipamento que vai ser muito importante para melhorar o atendimento. Nós temos mais UPAS em projeto, temos algumas unidades básicas de saúde que vão entrar em funcionamento ainda este ano e em 2016, e eu não tenho dúvida nenhuma que nós vamos deixar uma saúde pública muito melhor do que nós encontramos. Mas tudo isso fica dependendo da quantidade de dinheiro que o governo federal terá capacidade de repassar para Cuiabá. 

CMT – Os médicos acabam de voltar de uma greve. A reclamação é quanto à posse de novos profissionais e falta de condições de trabalho. Qual a verdadeira situação dos médicos em Cuiabá e por qual motivo a população reclama tanto da falta de atendimento médico?

MM – A falta de médicos acontece muitas vezes porque eles não cumprem os seus horários. Nós estamos tendo uma queda de braço grande e alguns poucos médicos insistem naquela velha prática de querer ganhar oito horas e trabalhar quatro, ganhar quatro e querer trabalhar uma. Estamos combatendo isso, já demitimos dois médicos este ano por não cumprirem a carga horária sistematicamente comprovada ao longo dos anos e estamos fazendo alguns enfrentamentos e todo enfrentamento gera reações. Eu acredito que a maioria dos profissionais é gente correta, que trabalha da forma adequada, mas aqueles que persistirem nas velhas práticas terão muita dificuldade. Nós vamos continuar trabalhando nessa direção, sabemos que tem que melhorar muito a saúde pública em Cuiabá, agora isso só vai acontecer quando tiver realmente um financiamento capaz de suportar a enorme despesa que é a saúde pública.

CMT – Quando os médicos que passaram no concurso para a Prefeitura serão chamados?

MM – Estão previstos para o mês de maio a finalização e o chamamento já para tomar posse os 85 médicos.

CMT – Em novembro de 2013 o senhor anunciou o Parque das Águas. Em que pé está esse projeto e o que falta para ele sair do papel?

MM – Fizemos o projeto, conseguimos o recurso, entramos na Caixa Econômica, estamos lá há meses aguardando aprovação. É uma verdadeira dificuldade aprovar alguma coisa na Caixa Econômica e na licitação para contratação dessa obra o edital já foi publicado e está estimado em R$ 11 milhões. 

CMT – Sobre a orla do Porto, as obras começaram, mas a população ainda se pergunta quando ela ficará pronta. Qual a data para inauguração e qual o motivo da demora?

MM – Em dezembro de 2015 nós entregamos essa obra e o Parque Tia Nair também para dezembro de 2015. A obra é complexa, foram seis meses com a obra paralisada por conta de alguns proprietários que tinham quiosques ali e houve demora de seis meses para conseguir autorização judicial para tirá-los do local. É uma obra feita na beira do rio, temos que preservar algumas árvores em condições absurdamente difíceis, causando o menor prejuízo possível. É uma obra feita manual e artesanalmente. Durante o período de chuvas, essas obras, com terraplanagem, ficam praticamente paralisadas, então de dezembro para cá trabalhamos muito pouco. Já terminamos essa primeira fase e temos lá outro impedimento que são as obras da Secopa ali no córrego 8 de Abril, o que também impediu o avanço.

CMT – Transporte Público. Mais da metade da frota de ônibus da capital tem mais de seis anos de uso e está praticamente sucateada. Enquanto isso a população paga umas das mais caras tarifas do país. Como equipar essa desigualdade?

MM – Primeiro, eu não sei se é uma das tarifas mais caras do Brasil, ela foi em determinado momento. Deve estar aí pela oitava, décima, pois quando foi feira essa análise, depois disso várias prefeitura e capitais também reajustaram as suas tarifas. Aqui nós temos gratuidade para os estudantes e essa gratuidade é paga pela tarifa e paga pela Prefeitura, e isso faz com que a tarifa seja cara. Se nós tirássemos essa gratuidade, como muitas cidades não têm, nós teríamos uma das mais baratas, cairia para R$ 2,70, não seria R$ 3,10 como agora. Então, tem que entender o motivo de ela ser cara.  Segundo, a qualidade da frota realmente não está boa, estou insatisfeito, por isso determinei que até o mês de junho nós vamos fazer a licitação para tentar contratar novas empresas ou empresas que atendam as novas regras que nós vamos criar no edital de licitação.

CMT – Qual seria a solução para reduzir o valor: retirar a gratuidade ou cobrar dos outros responsáveis, como os governos estadual e federal?

MM – O município tem em torno de 10% dos alunos que andam de ônibus, a maioria é da rede particular, da rede estadual, da rede federal, de cursos. Cuiabá tem vários tipos de gratuidade e todas elas acabam indo para a tarifa; esse é o problema. As pessoas imaginam que existem coisas de graça, eu queria que alguém me dissesse em que lugar do planeta tem alguma coisa de graça! Tem sempre alguém pagando por aquilo, pois tudo que se usa em algum momento é pago por alguém. Então, aqui em Cuiabá o estudante não paga, mas a empregada doméstica paga por ele, o trabalhador paga, o empresário paga e a Prefeitura paga a outra parte, que é 50%. A solução é redistribuir isso entre os entes federativos, o Estado pagar a sua parte, a União pagar a sua parte e os estudantes privados pagarem a sua parte.

CMT – Existe uma negociação da Prefeitura com esses entes?

MM – Esse é um tema bastante sensível, nós nunca abrimos essa negociação, mas em algum momento certamente será necessário fazê-lo ou parar de reclamar da tarifa cara, simplesmente entendendo porque é que ela é cara, pois tem gente andando sem pagar e muita gente pagando por isso.

CMT – O senhor citou a questão da licitação no transporte público e também tem esse entrave com a conclusão do VLT. Como está essa questão? Pode-se fazer uma licitação para contratação, mas há possibilidade também de os modais serem interligados. Essa nova licitação já vai contar com essa questão do VLT? É possível fazer isso?

MM – O ideal seria nós estarmos licitando um sistema com o VLT em funcionamento, isso foi prometido lá atrás e não foi cumprido. Já poderíamos ter licitado isso antes, não fizemos porque tínhamos uma promessa do VLT para maio, para junho, para dezembro de 2014, e nada disso aconteceu. O novo governo tem um enorme desafio na mão para dar uma solução a este problema que criaram para todos nós, e é um problema sério e grave, pois foi uma decisão errada, tomada lá atrás. Agora, eu não posso, como prefeito da cidade, ficar esperando a solução do VLT, pois até o presente momento isso continua indefinido, sem prazo de conclusão, e para melhorar o transporte coletivo a forma mais adequada que nós encontramos foi licitar e contratar serviços numa nova regra, com o menor preço possível. É isso que nós faremos e vamos tentar também prever uma possível entrada do VLT em algum momento e como isso será absorvido pelas empresas que irão ganhar essa licitação.

CMT – Sobre as obras da Copa: durante a construção das obras de mobilidade urbana para o Mundial, a Prefeitura pouco se posicionou, pois era uma responsabilidade do Governo do Estado. Hoje, vemos várias obras com algum tipo de problema: com atrasos ou entregues com defeitos. Qual é o posicionamento da Prefeitura em relação às obras?

MM –  A construção dessas obras é responsabilidade do Governo do Estado. A Prefeitura não fazia parte deste contrato – não era um elemento ativo. Nós procuramos manter um clima amistoso, cordial e cooperativo com o Governo, para que as coisas andassem e não atrapalhássemos o evento que seria assistido por milhões de pessoas em todo o planeta. Neste aspecto, nunca fomos coniventes e nem omissos com relação à qualidade, sendo esta a obrigação das empreiteiras e de quem fiscaliza o contrato. Se não foi feito, há cinco anos de garantia, e eu tenho certeza que o atual Governo vai exigir isso que é previsto em contrato na legislação, que é: aqueles que ganham o contrato e fazem qualquer tipo de obra dar cinco anos de garantia e responder por qualquer vício de construção.

CMT – Hoje a responsabilidade dessas obras continua com o Governo do Estado?

MM – Continuam todas com o Governo de Estado. Ainda não foram entregues ao Governo e depois que entregarem, aí sim ele poderá passar à Prefeitura, para que possamos acompanhar o dia a dia até a execução dessa garantia. Por enquanto, nada disso foi feito.

CMT – Foi lançado este mês o asfaltamento em alguns bairro da Capital. Há algum cronograma de novos trechos de asfalto, e se tem, quais serão os bairros beneficiados neste primeiro momento? Sabemos que há bairros que têm necessidade urgente.

MM – Cuiabá tinha praticamente 700 km de ruas sem asfalto. Entregamos os primeiros 120 km de asfalto novo e 200 km de recapeamentos, seremos o prefeito que mais fez asfalto em toda a história de Cuiabá. É muito, mas é pouco diante de toda a demanda ainda existente. Lamentavelmente não temos dinheiro para fazer mais do que estamos fazendo.

CMT – Cuiabá não cresce na mesma proporção que arrecada recursos?

MM – Durante muitos anos não se fez o que precisava ter sido feito. Se todos os prefeitos tivessem feito no seu mandato o que nós fizemos em dois anos e três meses, Cuiabá não tinha um palmo de rua sem asfalto.

CMT – Três anos depois e a CAB Cuiabá apresenta problemas na prestação de serviço aos cuiabanos, além de não ter cumprido metas importantes assumidas no contrato de concessão com a Prefeitura. Como o senhor está acompanhando esta questão e o que fazer para obrigar a concessionária a regularizar as deficiências? A nova agência reguladora será capaz de fiscalizar?

MM – Nós nomeamos a nova agência reguladora, a Arsec (Agência de Regulação de Serviços Públicos Delegados de Cuiabá). Demos posse aos novos diretores e demos a eles o prazo de 30 dias para apresentar um diagnóstico e um encaminhamento para esse grave problema da concessão na cidade de Cuiabá. A CAB não está desempenhando bem seu papel, a população não está satisfeita, continua faltando água na torneira dos cuiabanos e eu já avisei a eles [CAB] que vamos ter problemas sérios. Não gostaria, mas eles não me deixam outra alternativa a não ser uma forma de reequilibrar esse contrato para defender o interesse do cidadão cuiabano. 

CMT – Agora, com o pedido de recuperação judicial de duas empresas geridas pelo Grupo Galvão – que também é gestor da CAB Cuiabá –, a Prefeitura se preocupa com a possibilidade do não cumprimento dos serviços de água e esgoto? Há garantia financeira que sustente as ações da concessionaria? 

MM – Eles já foram notificados pela Prefeitura dentro do prazo estabelecido em contrato (30 dias), vencido em meados do mês de abril, para comprovar a capacidade financeira para continuar executando os investimentos previstos no atendimento das normas da concessão. Se não fizerem isso, por si só, já será um motivo para nós revermos a decisão lá atrás tomada. 

CMT – Como empresário, o senhor acredita que isso pode acabar prejudicando os serviços em Cuiabá? E há possibilidade de quebra de contrato?          

MM – Certamente. Para que eles respondam pela concessão eles têm que ter capacidade de investimento. Uma empresa que está em recuperação judicial, envolvida no maior esquema de corrupção deste país, com os créditos bancários cortados, dificilmente terá condição de honrar o contrato assumido com o município. Mas demos a ela, segundo o contrato, um prazo de 30 dias, para que eles demonstrem capacidade financeira; se não o fizerem, nós iremos analisar as medidas, e nos parece óbvio o que será.

CMT – O senhor acredita que a quebra do contrato de concessão será pior para a prestação de serviços relacionados a água e tratamento de esgoto? A Prefeitura teria capacidade de reassumir esse serviço?

MM – De forma alguma. A Prefeitura de Cuiabá não tem, nunca teve e provavelmente nunca terá capacidade para fazer os investimentos necessários para atender o saneamento e a universalização do abastecimento de água do município. Durante décadas ficou nas mãos do Governo do Estado e nas mãos da Prefeitura, e não deram conta de fazer. Podemos ter errado na concessionária, mas eu acredito que o melhor caminho é de se fazer a concessão para a iniciativa privada.

CMT – Assim como o Governo Federal e do Estado, a Prefeitura “reclama” das dificuldades de recursos e de se manter em dia com as suas despesas e investimentos necessários. O senhor chegou a realizar uma reforma administrativa, com redução de secretarias e cortes de comissionados. Quais foram os resultados já alcançados e há outras medidas ainda necessárias?

MM – Estamos fazendo todo o esforço possível para economizar na máquina, de modo que sobre algum dinheiro para ser investido na cidade. Por isso reduzimos o número de secretarias, demitimos servidores comissionados. No ano passado nós perdemos 50 milhões de reais em investimento por conta da redução das receitas, em relação ao nosso orçamento, mas mesmo assim conseguimos entregar muitas ações. Agora, estamos em um ano muito difícil, mas vamos fazer o possível para manter o mínimo de investimento em Cuiabá. Vamos garantir a construção do novo Pronto-Socorro, assim como dar continuidade nas obras que iniciamos. Agora, não dá para fazer milagre. Posso até ser um administrador com uma razoável experiência, mas eu nunca aprendi a fazer chover dinheiro. O dinheiro tem que vir da arrecadação de impostos e da atividade econômica.

CMT – O senhor será candidato à reeleição no ano que vem?

MM – É uma decisão que vou tomar lá em 2016. Até lá tenho muitos projetos e ações para fazer e o resultado disso será determinante até mesmo para minha decisão própria. 

CMT – O Palácio Paiaguás está nos seus planos?

MM – Se eu não sei ainda o que farei em 2016, o que dizer em 2018? Mas eu já tenho claro que se Pedro Taques for candidato em 2018 ele terá o meu apoio para continuar governador de Mato Grosso.

CMT – Ainda sobre o futuro político: caso o senhor não permaneça no Palácio Alencastro, Brasília pode estar nos seus planos?

MM – Existem possibilidades, posso parar, assim como posso continuar como prefeito, mas neste momento não ocupo o meu tempo com essas conjecturas e exercícios de futurologia. Tenho muitos problemas que me afligem no dia a dia e que estão em uma escala de urgência maior do que pensar em 2016. Não sou uma pessoa ansiosa, cada momento com a sua agonia.

CMT – Mesmo não anunciando a sua candidatura para o segundo mandato, seus adversários já começam a debater o cenário político de 2016. Já existe alguma articulação interna para viabilizar sua candidatura? 

MM – É natural que isso aconteça, que os partidos se movimentem, que as pessoas tracem cenários para o ano que vem, assim como é natural que alguns queiram ganhar um minuto de fama lançando candidatura extemporânea ou começar a fazer o seu nome ser conhecido. Eu não preciso fazer nada disso, tenho que trabalhar e é isso que tenho feito. Vou ser julgado pelos resultados que serei capaz de entregar e não pelo momento em que direi se sou ou não candidato. 

CMT – Então o senhor se vê como candidato natural?

MM – Isso é natural, é o que a história politica tem demonstrado, mas isso passa primeiro por uma decisão minha, em 2016.

CMT – O senhor está prestes a passar o Diretório Estadual do PSB (Partido Socialista Brasileiro) para o deputado federal Fábio Garcia. O que o levou a tomar essa decisão?

MM – No ano que vem serão realizadas as eleições municipais nos 141 municípios de Mato Grosso, o que vai exigir do presidente do partido um tempo para se deslocar a todas as regiões, para a organização partidária. Não seria justo comigo, nem com o município de Cuiabá e o partido e muito menos com a minha família, ficar administrando isso dentro do meu gabinete ou nas horas vagas. Não teria tempo para andar pelo estado e dar a devida atenção aos candidatos em seus municípios.

CMT – Qual a avaliação que o senhor faz desses dois anos em que esteve à frente do partido aqui no estado?

MM – Um partido que até determinado momento tinha um presidente, o deputado Valtenir Pereira, que deixou a sigla a 30 dias das filiações partidárias. Conseguimos fazer algumas filiações, perdemos praticamente todos os prefeitos, que foram para o Pros (Partido Republicano da Ordem Social), ficando apenas eu como prefeito da capital. Saímos das eleições de 2014 como grandes vencedores, fazendo dois deputados federais e mais dois estaduais.

Agora, com a fusão com o PPS (Partido Popular Socialista), vamos crescer em número de prefeitos, já que muitos querem retornar e outros aderir a esta nova sigla. Teremos um senador nos nossos quadros (José Medeiros) e vamos ser a maior força politica no nosso estado.

CMT – Falando nesta fusão do PSB com o PPS, o senhor está acompanhando a questão? Já existe uma definição, por exemplo, de qual sigla seria adotada?

MM – Possivelmente será chamado de PSB40. Em Mato Grosso não temos nenhuma dificuldade com o PPS nessa fusão. Eu com o Percival (Muniz), prefeito de Rondonópolis, com Eduardo Moura e outros líderes do partido temos relacionamento histórico e bastante profícuo. 

CMT – Como o senhor avalia a possível filiação do governador Pedro Taques ao PSB, caso se confirme sua saída do PDT (Partido Democrático Trabalhista)?

MM – Essa filiação ao PSB passa primeiro por uma decisão de sair do PDT. O governador é um profundo conhecedor da legislação e conhece as razões e motivações pessoais que o levaram a tornar pública essa cogitação. Nós só podemos dizer que teremos muita honra em tê-lo nas nossas fileiras partidárias, pois somos parceiros desde 2010 e é extremamente natural estarmos juntos em 2016 e até que a morte nos separe. Muito mais do que sigla partidária, nós somos do partido do bem, de quem quer fazer o bem à sociedade.

CMT – O senhor enfrentou certa dificuldade com a Câmara Municipal no início de mandato, quando o grupo de oposição, liderado pelo então presidente João Emanuel (PSD), era maioria e mostrava resistência a algumas medidas do Executivo. Mas, hoje, como está o relacionamento com os parlamentares, já que o senhor conta com o apoio de grande parte deles?

MM – Tivemos um momento de dificuldade nos primeiros meses, lamentavelmente por uma posição equivocada de alguns, principalmente do então presidente (João Emanuel), mas o tempo acabou se incumbindo de mostrar quem estava certo e errado. Ele acabou tendo um fim que não desejo a ninguém. De lá para cá as coisas melhoraram muito. Hoje nós temos uma relação respeitosa, a Câmara faz um trabalho cooperativo com o Executivo, fiscaliza e faz uma boa crítica. Estabelecemos uma era do ganha-ganha, sem brigas e picuinhas, cada um cumprindo o seu papel em benefício da cidade.

CMT – Para finalizar: quais são as prioridades de investimento da Prefeitura neste momento, diante de tantos problemas?

MM – A prioridade neste momento é manter o equilíbrio entre receita e despesas, não abrindo mão de alguns programas já iniciados, como o “Novos Caminhos”, que leva asfaltamento aos bairros. Isso está acontecendo em alguns bairros, lamento não conseguir realizar isso em toda a cidade, mas seria até impossível mesmo se tivéssemos todo o dinheiro, pois precisamos de projeto, tempo para licitar e tempo para executar. Mas estamos dando um grande passo. Em julho vamos passar a casa dos 150 km e já seremos o prefeito que mais fez asfalto em Cuiabá. Os investimentos na saúde, a obra do novo Pronto-Socorro, colocar o Hospital São Benedito em marcha, as UPAs que nós estamos construindo, melhorar o atendimento na saúde, assim como melhorar o sistema de atendimento na educação nas escolas e creches, colocando-a num nível que não há na maioria das instituições particulares de Cuiabá. 

Redação

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