O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou nesta quarta-feira, 16, ao discursar para o Clube Econômico de Chicago, que as tarifas têm grande probabilidade de gerar ao menos um aumento temporário da inflação e que elas podem tornar os efeitos inflacionários mais persistentes.
“O nível dos aumentos tarifários anunciados até agora é significativamente maior do que o previsto. O mesmo provavelmente se aplicará aos efeitos econômicos, que incluirão inflação mais alta e crescimento mais lento”, disse ele, ao citar uma queda relevante da inflação, apesar de ainda se manter acima da meta do BC dos EUA de 2%. “Não há experiência moderna lidando com tarifas deste porte”, acrescentou.
Para Powell, a obrigação do Fed é manter as expectativas inflacionária a longo prazo “bem ancoradas”, mas uma provável interrupção “por anos” das cadeias de suprimentos das montadoras podem levar à uma persistência da inflação.
Mandato duplo
O presidente do Fed reconheceu que o BC dos Estados Unidos pode não avançar em seu mandato duplo – estabilidade de preços e pleno emprego – neste ano, mas espera retomar o progresso em 2025. “Acredito que nos afastaremos ou não faremos progresso para atingir o mandato duplo neste ano”, afirmou.
No discurso no Clube Econômico de Chicago nesta quarta-feira, Powell destacou que os efeitos da política monetária atual devem afastar o Fed de suas metas no curto prazo, colocando-o em um cenário delicado. “Podemos nos encontrar em um cenário desafiador, com objetivos de mandato duplo em tensão”, disse. Embora essa tensão ainda não seja evidente, ele admitiu que a autoridade monetária dos EUA pode ter que tomar “uma decisão difícil” no futuro.
O desemprego deve subir com a desaceleração econômica, mas, por enquanto, o mercado de trabalho permanece forte. “O crescimento salarial é sustentável, e o mercado de trabalho ainda está forte”, afirmou Powell. “Estamos no máximo ou próximo do pleno emprego”, completou. No entanto, ele alertou que “sem estabilidade de preços, não podemos alcançar condições fortes do mercado de trabalho”.
Sobre os déficits públicos, Powell foi enfático ao dizer que “estamos com déficits muito grandes em pleno emprego”. Quanto aos cortes de empregos no setor governamental, ele avaliou que “as demissões do governo ainda não são grandes o bastante para ter efeito na economia”.
Bem posicionado
O presidente do Federal Reserve afirmou também que o BC dos Estados Unidos está bem posicionado para esperar por maior clareza antes de considerar quaisquer ajustes na postura política. Segundo ele, a economia dos EUA ainda está em uma posição sólida, mas as políticas do governo do país estão evoluindo e “efeitos permanecem altamente incertos”.
“Ainda é incerto quais serão as novas políticas comerciais em última análise”, enfatizou Powell, ao mencionar que a incerteza elevada gera um ambiente menos atrativos e que os mercados estão processando o que está acontecendo. “Os mercados estão com dificuldade para lidar com tanta incerteza, o que significa volatilidade – que deve permanecer -, mas estão organizados e funcionando como seria de se esperar”, acrescentou.
Em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, Powell defendeu que a forte expansão nos últimos dois anos aconteceu por conta da imigração e que as fortes importações registradas no primeiro trimestre deste ano devem pesar no avanço do PIB.
O presidente do BC norte-americano ainda disse na ocasião que o Fed está pronto para fornecer dólares aos BCs globais, caso haja escassez, e defendeu que o sistema bancário parece bem resiliente e sugeriu prosseguir e concluir a Basileia III. “Não estamos longe do que eu acredito que seria um bom resultado”, disse.
Powell também afirmou que as criptomoedas estão se tornando “mais populares” e que ainda não se sabe o impacto da inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho e que, por mais que a inovação tecnológica não substitua o trabalho humano no longo prazo, a tecnologia pode trazer mudanças drásticas.
Decisões amparadas nos ‘melhores dados’
O presidente do Federal Reserve afirmou ainda que o BC dos Estados Unidos tomará as decisões de política monetária baseada nos “melhores dados” e que os dirigentes não serão pressionados por questões políticas, ao responder perguntas no evento do Clube Econômico de Chicago. Os convidados presentes aplaudiram a fala de Powell.
Nas últimas semanas, o presidente dos EUA, Donald Trump, realizou diversos comentários de que o Fed deveria reduzir os juros e que a inflação “está resolvida”, em publicações na Truth Social.
“A independência do Fed é uma questão da lei e deve ser respeitada”, enfatizou Powell.