Por: Thays Oliveira
“Se Deus quiser, um dia eu quero ser índio, viver pelado, pintado de verde num eterno domingo, ser um bicho preguiça”. O que dizer sobre a representação do índio na música popular brasileira, literatura e na realidade perversa do imaginário social? O tom poético personificado através da música da grandiosa Rita Lee nos revela um ser pacato, em perfeita harmonia com a natureza. Na literatura, José de Alencar produziu a célebre trilogia indianista, sobretudo, destaco Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna. Por trás da sutil delicadeza com que a índia é representada, paira também uma zona de conflitos e mistérios, o início da miscigenação, a mistura de raças e culturas.
Saindo da trama fictícia e adentrando a realidade, o encontro dos europeus com os nativos do Brasil desencadeou inúmeros acontecimentos e consequências desagradáveis. Para o filósofo Rousseau o homem é um animal bom, por natureza, porém o processo de civilização o corrompe. Estariam os indígenas próximos ao ideal rousseniano. De modo geral, não existe um ponto intermediário para analisar esta questão, estando os pensamentos tão oscilantes entre os extremos de “bom selvagem” ao de mau selvagem. Mas, uma coisa é inegável: o choque cultural que esse encontro promoveu recai cargas maiores sobre a cultura indígena.
A exposição (leia-se: imposição) a uma nova cultura amplia o leque de desafios. Um desses diz respeito à proteção social aos povos indígenas, pois índios também sentem fome, adoecem e envelhecem. A Constituição Federal/88 dispõe que todos são iguais perante a Lei, sendo assim, a qualidade de vida e acesso aos serviços socioassistenciais, previdenciários e de saúde é um direito incontestável que deve alcançar a todos e respeitar a particularidade única de cada segmento. É preciso lançar um olhar crítico capaz de ler a atual realidade vivida dentro das aldeias, pois a vida em sociedade se mescla e o etnocentrismo que ainda circunda as relações sociais precisa vir abaixo.
* Thays Oliveira é graduanda do 8º semestre do curso de Serviço Social do Univag.
