Caos, filas imensas, reclamações acerca do preço do combustível, algumas discussões. Esse foi o cenário percebido pela reportagem do Circuito Mato Grosso durante todo este final de semana e, de maneira reduzida, a manhã desta segunda-feira (28) nas imediações e em diversos postos de combustíveis de Cuiabá e Várzea Grande.
Todos os locais para abastecimento situados nas rotatórias da capital estão fechados ou vendendo apenas diesel e etanol. A corrida que levou ao desabastecimento para o mais utilizado derivado de petróleo começou na quarta-feira (23) à noite, quando as primeiras filas começaram a se formar em postos localizados nas avenidas do CPA e Miguel Sutil. Nesses lugares, a gasolina começava a ser vendida a R$ 4,39 (comum) e R$ 4,49 (aditivada), enquanto o álcool oscilava entre os R$ 2,47 e os R$ 2,69. O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Mato Grosso (Sindipetroleo), entretanto, divulgavam notas dizendo que o abastecimento seguia normal.
Agora, os mais baratos dessas regiões estão com preços para a gasolina entre uma média de R$ 4,69 (comum) e R$ 4,89 (aditivada). O álcool subiu menos, entre os R$ 2,57 e os R$ 2,89. Mas houve exceções no auge do desespero, quando ainda não havia acordo anunciado pelo presidente Michel Temer.
“Fomos abastecer num posto da rodovia Palmiro Paes de Barros, minha mãe viu um local sem fila nenhuma, enquanto todos os outros estavam fechados ou sem gasolina. Ela parou na bomba e mandou encher o tanque. Na hora de pagar, a surpresa: o litro de álcool estava R$ 3,97”, contou uma jornalista que pediu para não ser identificada, mas entregou o nome do posto: Podium, ao lado do cemitério Parque Bom Jesus de Cuiabá.
Para os postos das imediações dessa rodovia, que leva ao município de Santo Antonio de Leverger, convergiram vários motoristas, pois notícias em grupos de WhatsApp espalharam a ideia de que por ali havia combustível disponível. “Há postos por ali, região do Parque Cuiabá até o antigo posto policial da saída para Santo Antonio com combustíveis e preços não muito abusivos”, contou Juliana Farias, 63 anos.
Desde domingo, os postos localizados na Miguel Sutil, entre a rodoviária de Cuiabá e a ponte Mário Andreazza, incluindo os bairros Verdão e Santa Isabel, estavam completamente vazios e fechados. Até mesmo o estoque de diesel combustível deles havia esgotado. A maioria permaneceu fechado na manhã desta segunda-feira. O posto localizado ao lado do Hipermercado Extra, próximo à trincheira do Santa Rosa, era das poucas exceções e só disponibilizava álcool.
Estratégia para evitar confusão
No meio da tarde de domingo (27), no posto localizado na rotatória de acesso à UFMT, uma fila estendia-se até a Estrada do Moinho, pois corria a notícia de que uma carga de gasolina e álcool chegara até ali. Era verdade, e os motoristas que a levaram contaram a estratégia utilizada para escapar à fúria dos colegas.
“Utilizamos vias alternativas e caminhões menores, mas mesmo assim preferi não usar o uniforme da empresa, pra evitar confusão com os companheiros. Mesmo com a escolta, preferi não confiar que não fôssemos parados”, contou Luís Augusto (nome fictício), 40 anos, caminhoneiro a descansar por ali, enquanto descarregava e ele ajudava numa outra curiosidade advinda destes tempos. Filas quase inexistentes para o álcool, enquanto eram imensas para a gasolina. Isso foi percebido nos 15 postos visitados pela reportagem entre o sábado (26) pela manhã e esta segunda-feira (28). O motivo? A crença em maior autonomia do derivado de petróleo.
“É óbvio que o carro roda mais com gasolina, você é jornalista e não sabia disso?”, respondendo questionando um professor de 32 anos, enquanto abastecia em um posto localizado logo após o retorno para Cuiabá localizado na avenida Mário Andreazza, após a ponte, já em Várzea Grande. Ele só esqueceu a proporcionalidade e o fato de não ter dinheiro o suficiente para encher o tanque. Não adiantou muito tentar explicar a ele que com o dobro de álcool, ele acabaria rodando mais do que com gasolina.
O prejuízo no país estimado para os últimos sete dias de paralisação é de R$ 26 bilhões em negócios não fechados, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. Vários caminhoneiros falam que não seguirão o acordo porque não são representados pelas entidades que o assinaram. Em Cuiabá (veja matéria neste mesmo site), já tem gente pegando carona nas exigências dos caminhoneiros.