Opinião

POSTAIS A MARIO DE ANDRADE

“Tudo está tão bom, tão gostoso…” é a frase que completa o título do livro “Postais a Mário de Andrade”, organizado por Marcos Antonio de Morais. O livro apresenta os cartões-postais enviados por diversos amigos a Mário de Andrade – Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Manuel Bandeira, Villa-Lobos, Anita Malfatti, Brecheret, Portinari, Jorge Amado, Paulo Prado, Gabriela Mistral, dentre outros. Localizados em caixas, entre seus pertences e páginas de diversos livros, chegaram à rua Lopes Chaves, Barra Funda, entre as décadas de 1930 a 1940. 

Dentre os 110 postais catalogados por Morais, apenas um traz a estampa de indígenas. Esse postal foi enviado a Mário de Andrade, de Goiânia para São Paulo, em 25.06.1942, por Luiz Heitor Correia (1905-1992), musicólogo, folclorista, bibliotecário do Instituto Nacional de Música, diretor da Revista Brasileira de Música e da programação de música erudita do programa radiofônico Hora do Brasil. No verso, pode-se ler: “Ao querido Mário, um abraço. Estamos fazendo coleta muito interessante. Já temos 10 discos com modas de viola e catiras, inclusive os ritmos de palmeado e sapateado. Hoje vamos gravar por extenso um ‘Congo’ e uma ‘dança dos Tapuias’. Também filmamos”.

À frente vê-se uma reprodução de fotografia de dois índios, de perfil, um atrás do outro, a carregar pelos ombros as extremidades de uma vara e, ao centro, um enorme pirarucu. A legenda do verso da foto em preto e branco não identifica o grupo étnico dos índios, apenas “Índios carregando peixe”. Ainda que não se apresentem adornados com colares, cocares e pinturas corporais, pelo corte de cabelo de ambos, arrisco supor que são da etnia Karajá, habitantes seculares das margens do rio Araguaia, nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso.   

Em um espaço pequeno, os textos nos versos dos postais endereçados a Mário de Andrade conseguiram recuperar traços da biografia do autor de Macunaíma, a eternizar preciosos instantes da história do movimento modernista no Brasil, a comprovar seu infindo interesse pela diversidade desta terra.

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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