Cuiabá está coberta por densa fumaça há dias e a situação ficou ainda mais crítica nos últimos dias. A cortina cinza prejudicou a visibilidade no trânsito e agrava doenças respiratória, além de irritar olhos. A posição geográfica da capital também não favorece a dispersão dos resquícios de incêndios, como explica o biólogo Tony Schuring.
Desde julho o Pantanal está em chamas e toda a fumada gerada pela queimada á levada para as cidades e também para Cuiabá. Soma-se a isso, os incêndios na Chapada, estrada da Guia e na cidade. Tudo agrava o calor e problemas respiratórios, que já estão com atenção redobrada por conta dos altos números de contaminação pelo novo coronavírus.
O biólogo Tony Schuring Siqueira afirma que há explicação meteorológica para o fato da fumaça de concentrar na cidade e não dispersar para outras localidades.
Mato Grosso está no centro da América do Sul e os ventos vindos dos oceanos não chegam às cidades, o que não gera movimento para arrastar a fumaça.
“Estamos em cima da linha do Equador, bem no meio da América Latina. Temos algumas desvantagens meteorológicas no que diz respeito às correntes de vento. Quando as correntes entram pelo nosso litoral, sofrem uma pressão contrária por conta da Cordilheira dos Andes. Esse vento não consegue fazer o arraste em cima de Mato Grosso por conta de sua extensão e posição geográfica”, explica o biólogo.
Outro ponto que favorece a concentração da fumaça é que Cuiabá está muito abaixo do que as cidades ao seu entorno. Isso significa que qualquer fogo que surgir no Pantanal ou Chapada terá a fumaça empurrada para a Capital.
“Sem essa corrente de vento por estarmos em uma depressão, essa fumaça acaba estacionando”, frisa Schuring.
A situação deve mudar ainda em setembro, quando os ventos mudança e sinalizam chuva. O Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) aponta 90% de chance de precipitação no fim de semana.
No entanto, esses ventos trarão dias difíceis para a capital. O vento frio irá encontrar o ar quente e provocar vendavais na cidade. Na segunda-feira (14) já foi registrado ventos fortes que arrancaram telhado de imóveis no bairro Alvorada.
“Com esse vento forte, a fumaça vai acabar dissipando. O que também traz uma grande mácula ao estado. Além de campeão de queimadas a gente vai contaminar vários lugares com esses resquícios de fumaça que irão viajar com o vento e chuva. Elas vão chover em outros estado, em outros países e levar toda essa contaminação”, relata o biólogo.
Para o profissional, toda a situação vivida pelo estado com queimadas é gerado por falta de planejamento. Ele cita que as áreas de criação de gado no Pantanal tem crescido e é comum que criadores ateiem fogo na vegetação para liberar pasto, no entanto essa queimada precisa ser planejada para que não fuga do controle.
“Quando o pessoal pensou em colocar fogo, mesmo que seja uma região de muito vento, houve um descontrole das queimadas, que ocasionou a queimada de ligares de lugares que não estava previsto para serem queimadas. Teve fogo subindo serra, a margem de rio, em topo de morro. Posso chamar isso de despreparo”, explica.
Segundo o biólogo não houve planejamento e medidas preventivas para casos de incêndios e reforça que queimada deve ser tratada o ano todo. “O pessoal só fala de fogo depois que queima”.
“Dizem que o Cerrado aguenta fogo, é resiliente, mas não todo ano. Se queima sempre, ele perde as características e isso nunca mais volta”, explica.