Opinião

Portinari devora Hans Staden

Sessenta anos sem Candinho! Assim era chamado Cândido Portinari (1902-1962), pintor de mais de 4.600 obras, verdadeiras aulas de história do Brasil. Suas telas são o modo que o artista de Brodósqui encontrou para nos ensinar a olhar para dentro de nós. Estampam um vasto conhecimento sobre vivências de gentes de um país chamado Brasil, retratadas com cores e formas tão diversificadas. Muitas de suas obras imprimiram outro olhar ao cubismo do espanhol Pablo Picasso. Nelas acham-se as caras, os costumes, a alegria e a dor do povo brasileiro.

 

Em 1940, Portinari recebeu um convite do The Limited Editions Club para ilustrar uma nova edição do livro das memórias de Hans Staden, um alemão que no século XVI foi capturado pela etnia Tupinambá e depois de oito meses escapou de ser devorado no ritual de canibalismo. Em 1557, de volta à Alemanhã, Staden escreveu Duas viagens ao Brasil. Ilustrado com gravuras sobre os costumes sagrados e profanos dos indígenas, o livro destacou-se naquela época como um grande sucesso.

Um ano após o convite, Portinari entregou ao editor norte-americano 26 desenhos sobre as memórias do aventureiro alemão, mas foram censurados em virtude de refletirem um teor demasiadamente forte. Somente em 1998 o livro Portinari devora Hans Staden nos presenteou com a oportunidade de conhecer a totalidade dos desenhos do artista, depois de permanecer inédita por quase sessenta anos.

Índio roendo osso (1941)

Escreveu Jorge Amado (1912-2001): “Cândido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros – camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem – são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura…” As tintas da “obra imorredoura” de Portinari, que o intoxicaram em proporções fatais, bailaram nos movimentos de seus pincéis, dando cor e forma às identidades da alma brasileira.

O luxuoso livro Portinari devora Hans Staden está à disposição de leitores que optarem passar a tarde na Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça. Ah! Podem também dar um passeio no Portal Portinari: Portinari.org.br. Imperdível!

 

Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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