Olinda Altomare Opinião

Porque gostei de BARBIE, o filme

Depois de ouvir muitas críticas, resolvi explicar por que gostei.

Longe de ser um filme infantil, Barbie (2023), dirigido por Greta Gerwig e com roteiro de Gerwig e Noah Baumbach, é uma obra que transcende a expectativa de uma simples adaptação de uma boneca icônica para as telonas. Com um elenco liderado por Margot Robbie, Ryan Gosling e America Ferrera, o filme adota uma abordagem ousada e reflexiva para explorar questões complexas de gênero, identidade e poder.

Sobre a perspectiva de igualdade de gêneros e violência doméstica, observamos que desde o início, Barbie subverte as expectativas ao mergulhar em uma análise crítica das normas de gênero, apresentando a personagem Barbie como uma figura que representa tanto as expectativas irreais impostas às mulheres quanto o potencial de uma feminilidade independente e empoderada. No entanto, o filme vai além de uma celebração da figura feminina ao abordar como as relações entre os gêneros influenciam a sociedade e como a igualdade de gêneros pode ser uma via para diminuir a violência e os conflitos interpessoais.

Podemos ver o retrato dos papéis de gênero no enredo.

A história se passa em “Barbieland”, uma sociedade aparentemente utópica onde as Barbies são dominantes e os Kens, secundários e superficiais. Essa inversão inicial dos papéis tradicionais serve para destacar as dinâmicas de poder e desigualdade que existem no mundo real. Quando Barbie (Margot Robbie) e Ken (Ryan Gosling) vão para o “mundo real”, encontram uma sociedade completamente diferente, onde as mulheres enfrentam desafios e barreiras significativas, enquanto os homens ocupam posições dominantes.

Essa dualidade ajuda a ilustrar como as normas de gênero podem gerar tensões e conflitos. Ken, ao descobrir o patriarcado no mundo real, tenta implementá-lo em Barbieland, o que gera uma série de consequências caóticas e, simbolicamente, espelha a maneira como sistemas de poder podem levar à opressão e à violência, especialmente em contextos onde as relações são baseadas na desigualdade.

O filme destaca que a solução para os conflitos e, por extensão, para problemas sociais como a violência doméstica, reside na busca por uma igualdade de gêneros verdadeira e justa. Quando Ken tenta impor um sistema patriarcal em Barbieland, o resultado é uma quebra na harmonia e na paz social. A narrativa deixa claro que o poder concentrado em apenas um gênero, seja masculino ou feminino, leva a desentendimentos e abusos de poder, ressaltando a igualdade de gêneros como solução.

Na reta final, o filme enfatiza a importância de um equilíbrio, onde tanto Barbies quanto Kens possam existir em um espaço de respeito e igualdade, sem a necessidade de dominação de um sobre o outro.

 Essa mensagem é fundamental quando se considera a violência doméstica, que muitas vezes é fruto de relações desiguais de poder e controle. A obra sugere que uma sociedade em que os gêneros se respeitam e compartilham poder equitativamente tem mais chances de ser um espaço onde a violência doméstica e outras formas de opressão sejam reduzidas.

Destaque para America Ferrera, que interpreta Gloria, uma mulher do mundo real, que entrega um monólogo poderoso sobre as expectativas contraditórias e a carga emocional imposta às mulheres. Essa cena é central para a mensagem do filme, pois aborda a pressão de “ser tudo para todos” e como isso contribui para a perpetuação de sistemas desiguais. Essa reflexão remete à necessidade de quebrar esses padrões para que haja uma verdadeira igualdade e, assim, diminuir a frustração, a raiva e a violência que podem emergir de relações desiguais.

Assim o filme Barbie utiliza seu enredo envolvente e humor afiado para fazer uma crítica profunda às estruturas de poder de gênero, oferecendo uma visão de como a igualdade entre homens e mulheres é fundamental para o progresso social e a solução de problemas complexos, como a violência doméstica. Ao explorar um cenário onde o poder é redistribuído e os gêneros trabalham juntos de forma harmoniosa, Greta Gerwig apresenta uma obra que não só diverte, mas também propõe uma visão de esperança e mudança social baseada na equidade.

Vale a pena assistir.

Foto: reprodução

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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