A cada dois anos a população protagoniza a mesma cena. Os políticos se transformam de figuras inacessíveis de gabinetes, nunca dispostos a atender quem os procura, a simpáticos andarilhos das cidades. Sempre dispostos a comer pastel, abraçar criancinhas e participar de festivos comícios.
Você vê essa cena em seu bairro com muita frequência? Provavelmente é porque vive em uma das grandes zonas eleitorais de Mato Grosso. Regiões com uma grande concentração de moradores e que são alvos dos candidatos, pois representam um número grande de eleitores.
Comunidades que por si têm o poder de eleger um candidato. Seja na esfera municipal ou estadual. Esses bairros são vistos como uma espécie de passaporte para o cargo político. Uma verdadeira “menina dos olhos dos candidatos”.
Especialmente em Cuiabá, a disputa pelo voto deve ser mais acirrada nessas regiões. A capital concentra o maior colégio eleitoral de Mato Grosso, com 19% dos eleitores do estado. Em números absolutos, são 435.659 pessoas aptas a votar. Um prato cheio para os sonhos políticos de quem deseja ser o futuro governador do Estado que tem no total 2.299.132 eleitores aptos no momento.
Na capital, o maior foco de eleitores está principalmente dentro e no entorno de bairros que compõem as zonas eleitorais de número 51 e 55 (vide mapa). O Circuito selecionou os locais de votação que têm mais de 4 mil eleitores em Cuiabá e recriou um roteiro por onde os futuros candidatos devem seguir assim que lançarem seus nomes na disputa.
Os bairros do Grande CPA e Pedra 90 serão os principais alvos. Para se ter uma ideia, o candidato que se propuser a trabalhar em prol das necessidades das duas regiões e convencer os eleitores de que irá atuar sem abandoná-los pode conseguir se eleger sem precisar fazer campanha em outros bairros. Mas, para isso, precisa se aliar aos presidentes dos bairros e outras lideranças comunitárias.
Um dos presidentes de bairro do CPA, Rauny de Oliveira, reconhece que isso é uma realidade. O presidente de bairro do CPA afirma que eles são os primeiros alvos abordados pelos candidatos.
Ele mesmo recebe candidatos em sua residência para falar sobre os problemas dos bairros. Porém, nas palavras do representante da comunidade, para conseguir uma aliança e apoiar um candidato, existe um comprometimento e garantia de investimentos nas necessidades locais. “Eu já recebi candidatos aqui na minha porta querendo apoio para conseguir se eleger. Recebo a todos, a gente senta, conversa, mas na hora em que eu apresento os projetos com as necessidades do bairro e pergunto se ele irá ter um comprometimento em executar tudo caso venha a ser eleito, não recebo nenhuma garantia e o candidato some e não aparece mais”, relata Rauny.
Além disso, o representante argumenta que existe uma troca de papel com a relação à imagem de presidente e candidato no sentido de eles quererem estar à frente de algum serviço que foi realizado no bairro, mas que só aconteceu porque eles cobram de forma insistente até conseguir resultado positivo de determinada necessidade.
“Quando tem inauguração de alguma obra, a gente é obrigado a deixar o vereador que está tentando reeleição ficar à frente, dizendo que a pessoa responsável por tudo foi ele. É claro que tudo isso é uma grande mentira, tudo começou porque as lideranças de bairro só pararam quando conseguiram uma resposta positiva e definitiva”, afirma o presidente de bairro.
Outra dificuldade relatada pelo morador é com relação aos benefícios para o bairro, pois em tempos de eleição tudo fica mais difícil. Os candidatos que já estão no poder fazem chantagem oferecendo o trabalho apenas se tiverem apoio da comunidade.
“Conseguir melhoria ou alguma demanda para o bairro é muito mais difícil na eleição, pois eles só querem trazer algo para a comunidade se for para pedir votos, só assim para conseguir algo. Depois disso, as melhorias começam a chegar ao bairro”, afirmou o presidente.
O que acontece no CPA não é muito diferente daquilo que se busca no Pedra 90. Por lá, os moradores também recebem visitas de candidatos, e o presidente de bairro também é alvo de persuasão para conseguir cada vez mais eleitores.
Isso ocorre porque o local abriga uma das maiores zonas eleitorais da capital, cerca de 80 mil pessoas. O bairro pode inclusive eleger um deputado federal, cargo cobiçado por muitos aspirantes políticos.
Com este grande número, toda zona torna-se um grande atrativo para qualquer candidato, ainda mais em se tratando de um lugar que requer atenção do poder público, pois faltam investimentos básicos em saúde, educação, saneamento, água, esgoto e serviços bancários.
Com tantos problemas, os candidatos enxergam no local uma possibilidade de conquistar votos e querem ali montar seu palanque para discursar e persuadir o maior número possível de eleitores.
A caça aos votos no estado
Mato Grosso tem 2.562.203 eleitores cadastrados. Deste montante, 2.299.132 estão aptos a votar. Os 263.071 restantes estão impedidos de votar por vários motivos – débitos com a Justiça Eleitoral, não ter votado nas duas últimas eleições (já que por lei o voto é obrigatório no Brasil) ou até mesmo a cassação dos seus direitos políticos. A biometria ainda não impede o cidadão de votar nas eleições deste ano (ver mais informações no box abaixo).
Com base nos dados do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TER-MT), o jornal mostra quais pontos do estado podem ser alvos dos candidatos das eleições deste ano para buscar seus votos e assim conquistar as cadeiras no Poder Executivo ou Legislativo.
Logo de cara, percebe-se que algumas regiões podem eleger um candidato: Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Sinop, Sorriso e Tangará da Serra. Esses seis municípios têm os maiores colégios eleitorais do Estado. Sozinho, cada um deles consegue eleger um senador, um deputado federal e de cinco a oito deputados estaduais, aproximadamente.
Nas eleições de 2014, cada atual representante de Mato Grosso no Poder Legislativo precisou de no mínimo 500 mil votos para conseguir uma cadeira no Senado, 60 mil votos na Câmara Federal e 15 mil na Assembleia Legislativa. O gráfico abaixo cruza a quantidade de eleitores para as dez maiores zonas eleitorais de Mato Grosso com o montante de votos necessários para os candidatos vencerem a eleição.
Mato Grosso tem 57 zonas eleitorais e 7.950 seções eleitorais (cada urna é uma seção eleitoral) que estão distribuídas em 1.498 locais de votação. Nas eleições deste ano, serão definidos os representantes para os cargos de presidente da República, governador, senador, deputado federal e deputado estadual.
Biometria não vale para Eleições 2018
A biometria não vai impedir os eleitores de votar neste ano. Assim, quem não fez a revisão do cadastro eleitoral poderá votar normalmente sem a leitura biométrica. Quem já fez o recadastramento, poderá votar com a biometria. As duas formas de votação estarão disponíveis. É o que o TRE chama de eleição híbrida.
Nas últimas semanas, houve uma alta busca para a revisão eleitoral em Cuiabá e Várzea Grande. Com o risco de ter o título eleitoral cancelado, grandes filas se formaram para o cadastramento biométrico em postos de atendimento espalhados por Cuiabá e Várzea Grande. Apesar da força-tarefa da Justiça Eleitoral em criar mais pontos de atendimento, eles perceberam que não conseguiriam atender à demanda e cadastrar biometricamente até 80% dos eleitores no dia 30 de março.
Assim, o TRE decidiu prorrogar o prazo da revisão eleitoral. O prazo para recadastramento se estenderá ao dia 23 de novembro deste ano. No entanto, entre 10 de maio e 4 de novembro, os postos não farão o cadastro biométrico. Nesse período, os tribunais eleitorais estarão fechados e irão se dedicar para os preparativos das Eleições Gerais de 2018. A revisão do recadastramento retomará em 5 de novembro.
Segundo a assessoria do TRE, 1.013.600 estão cadastrados biometricamente em Mato Grosso. Só em Cuiabá, apenas 260.033 já fizeram a revisão eleitoral. O percentual de eleitores cadastrados era de 60,61% em Cuiabá e 61,11% em Várzea Grande.