Um verdadeiro levante popular. Foi o que aconteceu na cidade de Lucas do Rio Verde nesta segunda-feira (1), quando centenas de pessoas, entre agricultores, representantes de entidades e lideranças políticas de vários municípios da região médio-norte de Mato Grosso se concentraram no auditório da Câmara de Vereadores e se espalharam pelas vias de acesso ao Legislativo, durante ato convocado para marcar um protesto da coletividade contra a ação da Polícia Federal e do Ministério Público na chamada Operação Terra Prometida, deflagrada no dia 27 de novembro.
Além de representações de Lucas do Rio Verde, Tapurah, Itanhangá e Nova Mutum, o ato contou com a participação do agricultor e vice-governador eleito Carlos Fávaro (PP). Ele se pronunciou com veemência contra a truculência como vem sendo conduzida a ação contra possível grilagem de terras.
– Nós todos aqui temos a convicção de que não existe uma organização criminosa e isso precisa ser transmitido à sociedade. Se houve algo ilícito, que seja investigado, mas de forma alguma a Polícia Federal e o Ministério Público poderiam colocar na vala comum, ao lado de bandidos, essas pessoas que conhecemos, que são homens de bem – discursou Fávaro, recebendo muitos aplausos dos demais manifestantes.
O objetivo anunciado da operação Terra Prometida, de acordo com a procuradora da República Ludmila Bortoleto, é investigar e punir possíveis irregularidades na concessão e venda de lotes rurais destinados à reforma agrária, notadamente no assentamento Itanhangá, coordenado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e localizado no município de Itanhangá (nome originário do tupi-guarani e que significa “terra do demônio”). Depois do Itanhangá, outros assentamentos devem ser investigados.
Todos os presentes à manifestação em Lucas, todavia, entendem que os agentes da Polícia Federal invadiram os lares de agricultores com anos de dedicação ao seu trabalho e às suas comunidades, constrangendo-os e expondo-os à execração pública, arrastando alguns deles para a prisão – como no caso do presidente da Fiagril e ex-prefeito de Lucas, Marino José Franz (PSDB) –, sem provar, devidamente, a culpa de quem quer que seja.
Em sua fala, o prefeito Pedro Ferronato (PTB) lembrou que até que se construísse o armazém da Fiagril, produtores de Ipiranga do Norte tinham que rodar 200 quilômetros para negociar as suas produções. Os prefeitos de Tapurah, Luiz Eickhoff (PDT), e de Nova Mutum, Adriano Pivetta (PDT), também protestaram contra a ação policial e propuseram atitudes mais duras da sociedade contra os desmandos que aconteceram na operação. O deputado estadual Dilmar Dal Bosco (DEM) repudiou a acusação de que possuiria lotes no programa de assentamento rural e pediu cautela ao MPF antes de acusar pessoas inocentes.
Para se contrapor à pretensa truculência da operação Terra Prometida, foi lançado, durante o ato, o Movimento Terra Produtiva, para desdobrar as ações e manifestações em defesa dos agricultores presos e investigados. No próximo sábado (6), seus integrantes já irão participar de audiência pública federal, convocada a partir da Câmara dos Deputados pelo deputado federal Nilson Leitão (PSDB), em que toda a ação deve ser decodificada diante dos olhos do público.
Durante a audiência, ainda sem local definido, os manifestantes terão a oportunidade de confrontar o posicionamento dos representantes do Incra, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, além de contar com a participação de representantes da Assembleia Legislativa, prefeitos e vereadores.
Entre os manifestantes existem aqueles, como o ex-candidato a deputado estadual Xuxu Dal Molin (PDT), que defendem também a multiplicação dos atos de protestos, e já levantam a possibilidade de que, na semana que vem, o movimento venha a patrocinar “uma barulhenta interdição da BR 163”, como forma de atrair a atenção de todo o país para a injustiça que, segundo argumentam, estaria se abatendo sobre as famílias de destacados produtores da região.
O vereador Airton Callai (PSD), presidente da Câmara de Lucas, em fim de mandato, mostrou-se preocupado com o impacto que a prisão de dirigentes de uma empresa de porte internacional, como é o caso da Fiagril, possa ter sobre a produção agrícola do Estado. A normalidade da economia regional, segundo Callai, só será restabelecida com a libertação de todos os agricultores presos e um amplo esclarecimento da motivação da operação montada pelo Ministério Público Federal.
Em nota divulgada esta semana, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) pontuou que “no caso da Operação Terra Prometida estão sendo ou foram investigadas pessoas com consideráveis serviços prestados ao desenvolvimento de Mato Grosso, e que não deveriam ter seus nomes jogados na vala comum da criminalidade, sem que, antes, lhes fosse assegurado o amplo exercício do direito de defesa e do contraditório, através do devido processo legal. Se forem julgados culpados, que sofram as penas da lei. Mas quem lhes restaurará o bom nome e a credibilidade se, ao final, forem julgados inocentes, quando se viram execrados desde a fase investigatória?”