Dados dos boletins epidemiológicos da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso apontam que a população negra é a mais atingida pela pandemia do novo coronavírus. Na Capital, o índice de mortes deste grupo por conta de complicações da covid-19 chega próximo aos 80%.
Informações disponibilizadas no Painel Interativo covid-19, que pode ser acessado aqui, demonstram que a população negra, composta por negros e pardos, representa mais de 45% dos infectados pelo vírus. Paralelamente, brancos são cerca de 15%, indígenas 2,88% e amarelos menos de 1%.
Soma-se a essa situação o fato de que a margem das pessoas que tiveram o perfil racial ignorado durante levantamento é de cerca de 35%.
Em se tratando de porcentagem de mortos, as estatísticas em relação às pessoas negras são ainda mais expressivas, uma vez que este grupo representa mais de 54% dos óbitos – mais que o dobro que brancos, que é a segunda população mais atingida.
Na Capital mato-grossense, de acordo com o informe epidemiológico divulgado no dia 22 de agosto, negros são 72% dos infectados e cerca de quase 80% dos mortos em virtude do coronavírus.
O número de óbitos entre negros é 4 vezes maior que o índice de mortes de brancos, segundo maior grupo em índice de mortes, em Cuiabá.
Quando considerados os perfis dos óbitos, ainda que com variações entre os boletins do estado e da Capital, homens com comorbidades são os que mais morrem, sobretudo aqueles com mais de 50 anos.
Conforme os balanços, as mulheres se infectam mais, mas os homens são mais hospitalizados e também os que mais morrem por conta do vírus.
Ao portal Gazeta Digital, o presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir), Manoel Silva, afirmou que os dados apontados pelas secretarias só confirmam a exposição da população negra diante da pandemia.
Exercendo atividades essenciais, negros são o grupo mais vulnerável ao contágio, de acordo com o presidente do Cepir. "É lamentável, mas tudo isso mostra a nossa realidade, que a maioria das pessoas negras está ligada aos serviços essenciais. São os motoristas de ônibus, vendedores, atendentes de farmácia, por exemplo. E tudo isso faz a gente refletir que somos pessoas que ou trabalhamos ou morremos de fome. Somos a maioria dos serviços essenciais, somos a maioria dos que necessitam trabalhar para ter o sustento das nossas famílias".
"Os homens negros são aqueles que mais estão à frente dos serviços essenciais, aqueles que mais precisam sair de suas casas para dar o sustento de sua família. Então, esses dados remetem sim a nossa realidade. Com a liberação do decreto, muitos desses homens negros são vendedores ambulantes, vendedores de loja, pedreiros. Devido ao local no qual o negro está inserido no mercado de trabalho corroboram para esses dados, que são lamentáveis", enfatizou a liderança.