Política

Policial revela sala de escutas telefônicas da PM em prédio na Capital

Foto Andrea Lobo

Temendo por sua vida, de seus familiares e represálias na Polícia Militar, a 3ª sargento da PM Andréa Pereira de Moura Cardoso foi à Corregedoria Geral da PM, na última sexta-feira (26), e revelou que a instituição possuía uma sala dedicada à interceptações telefônicas, em Cuiabá.

No documento exposto pelo site MidiaNews, a policial conta que procurou a corregedoria após ter conhecimento da prisão do ex-comandante-geral da PM, coronel Zaqueu Barbosa, e do cabo Gerson Ferreira Gouveia Júnior, na última terça-feira (23).

À corregedoria, Andrea esclareceu que realizou trabalhos para a escuta de interceptações telefônicas, contudo só fez o que foi orientada por superiores. “Não havendo nada de ilegal em suas ações”, diz documento. 

Andrea contou que foi convidada pelo coronel PM Siqueira Júnior – atual secretário de Justiça de Direitos Humanos (Sejudh) -, do Centro Integrado de Operações Aéreas à época, a procurar o então comandante, coronel Zaqueu.

No encontro com Zaqueu, Andrea foi informada de que trabalharia na inteligência da Policia Militar subordinada ao coronel Gerson. Ele a apresentaria a sala e indicaria como funcionariam os trabalhos de interceptação telefônica. 

“Neste dia a declarante encontrou com o policial militar dentro da sala do coronel Zaqueu, sendo que Gerson disse que a declarante seria responsável por escutar policiais militares suspeitos de crime”, conta no documento.

Após alguns dias esperando em casa, a policial recebeu um telefonema de Gerson que lhe informou a localização da sala: Rua Desembargador Ferreira Mendes, nº 234 (233 como investigou a reportagem), Edifício Master Center, no Centro da Capital. 

O trabalho, que executava sozinha, tinha incío às 13h e terminava às 18h. A sargento deveria ouvir e fazer anotações de todas as partes que considerava importantes com às datas e horários. 

Andrea conta que Gerson aparecia esporadicamente no edificio, e devido o aumento da demanda de trabalho o policial militar, Clayton Dorileo, integrou a equipe e começou a trabalhar em um computador na mesma sala de Andrea. Ela ainda conta que todos os policiais militares possuiam um login e senha para acessar o sistema de escuta.

A policial permaneceu no apartamento até julho de 2015 e foi informada que deveria continuar os trabalhos de casa, utilizando o computador pessoal. “Que nesse período a declarante presenciou o Sgt PM Torezan que trabalhava no Gaeco e foi no apartamento para cadastrar a declarante e o PM Clayton Dorileo no sistema".

Em casa recebeu as instruções para instalar o programa de escuta no notebook pessoal, mas não conseguiu. Assim, o sargento Torezan instalou o programa de forma remota no aparelho.

Interceptações

No relato, a tenente afirmou que as interceptações tinham como alvo policias militares e sita alguns como alvo: “Cel PM RR Evangelista, Cel PM RR Adalberto Gonçalves, Sgt PM Cremilson, Sgt PM ROdolfo, Sd PM Vivaldo"

"Que ouviu uma traficante de nome Tati, bem como pessoas que estavam reclusas no Presídio, não sabendo informar de qual cidade”, diz declaração. 

Andrea afirmou que jamais ouviu políticos, médicos, juízes e jornalistas relatados no escândalo de arapongagem reveladas pela mídia. “A declarante afirma que jamais ouviu pessoas citadas na imprensa como a deputada estadual Janaina Riva”, revela documento.

Para isso, as pastas com as gravações eram identificadas com nomes e apelidos dos “grampeados”. "As caracteristicas eram identificadas de acordo com as conversas entre os presos, que levou a declarante a afirmar que os alvos eram presidiários

Demissão

Os trabalhos na residência de Andrea duraram até meados de setembro de 2015. Em novembro do mesmo ano, Andrea disse que recebeu uma ligação de Gerson, pedindo para que ela procurasse o coronel Siqueira, então secretário-chefe da Casa Militar, que à desligou do cargo. Andrea passou a trabalhar de recepcionista da Casa Militar.

Com a demissão, a sargento entregou um celular “institucional” que utilizava apenas para falar com Gerson e Torezan.

A sala

O apartamento continha dois quartos, em que funcionavam como duas salas de interceptação – uma para Andrea, outra para Gerson. No escritório de Andrea continha duas mesas de escritório, dois computadores, fones de ouvidos e equipamentos maiores que "aparentava uma CPU grande". 

No outro quarto, utilizado por Gerson, havia armários, aproximadamente 15 celulares, um computador com vários celulares acoplados.

O apartamento ainda havia um banheiro, uma sala – sem móveis -, e na cozinha apenas mesas com cadeiras.

Supostas provas

Ela entregou de forma espontânea o computador que utilizava em sua residência para ouvir os grampos. Entretanto, contou que por orientação de Gerson, o computador foi formatado em novembro de 2015.

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Cintia Borges

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