Um vídeo mostra que o casal suspeito de ter feito um pacto de morte chegou sozinho a hotel de luxo na Zona Oeste de São Paulo. Eles foram encontrados mortos em um quarto no domingo (16). O G1 teve acesso às imagens gravadas no sábado (15) pelo Maksoud de Plaza
As cenas das câmeras de segurança estão sendo analisadas pela Polícia Civil, que trabalha com a hipótese de homicídio seguido de suicídio para explicar o caso. Para a investigação, Luis Fernando Hauy Kafrune, de 19 anos, atirou na namorada Kaena Novaes Maciel, de 18, a pedido dela. Após assassiná-la, ele se matou.
A arma do crime é do padrasto da jovem, um policial civil aposentado. Kaena teria pego a pistola escondida dele, depois a entregou ao namorado. Ela foi encontrada na mão de Luis. Os dois foram achados sem vida sobre a cama do quarto 1509.
Diários, agendas e manuscritos em papel, atribuídos ao casal, reforçam a tese da polícia de que os namorados planejaram se matar. Eles traziam menções ao suicídio, como uma espécie de carta de despedida, e explicariam os motivos que levaram os dois a querem morrer.
Imagens
As imagens do Maksoud Plaza também reforçam a linha de investigação do 5º Distrito Policial (DP), Aclimação, de que não havia outra pessoa além do casal na cena do crime.
“As imagens mostram a chegada deles sozinhos no hotel, no hall, fazendo o checkin e entrando no elevador a caminho do quarto”, disse nesta terça-feira (18) o delegado titular do 5º DP, Gilmar Pasquini Contrera. "Na cena do crime não havia sinais de luta corporal".
O casal, que havia reatado recentemente, tinha se encontrado no sábado dizendo aos pais que iria a um shopping, mas depois se hospedou no Maksoud Plaza.
Numa foto feita a partir da filmagem é possível ver Luis abraçado a namorada. Os estudantes parecem sorrir quando passam pela porta giratória do hotel, que fica na Alameda Ribeirão Preto, área nobre próxima a Avenida Paulista, no Centro da capital.
Eles entram usando mochilas. Luis carrega papéis e Kaena segura uma coroa de cartolina de uma rede de fast food.
Diário
Nas folhas apreendidas no apartamento do 15º andar do hotel, estavam textos que sugerem o suicídio.
“Sei que estou fazendo todos sofrerem, mas isso é necessário para que eu pare de sofrer, obrigada por tudo que vocês fizeram por mim….”, informa um dos trechos dos manuscritos atribuídos ao casal, segundo consta no boletim de ocorrência do caso.
Também foram encontradas duas folhas de papel com as inscrições “passos” de “como aproveitar a morte”.
O delegado lamentou ter de cobrir um caso no qual os indícios levam a polícia a suspeitar que o casal tenha combinado a própria morte. “Pelo que foi colhido no local, tudo leva a crer que existe esse pacto de morte”, disse Contrera.
Os manuscritos foram encaminhados ao Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD) para confronto de impressões digitais.
Parentes
Os parentes dos dois jovens deverão ser ouvidos nos próximos dias para tentar esclarecer quais seriam as prováveis motivações para o casal decidir morrer, segundo apura a polícia.
Foi a família que descobriu que Kaena estava no hotel por causa do rastreador de celular. Após serem procurados pelos familiares do casal, funcionários do Maksoud teriam acionado a polícia, que entrou no quarto e encontrou o casal já sem vida, na cama.
O caso foi registrado inicialmente no plantão do 78º DP, Jardins, como homicídio seguido de suicídio, mas o delegado informou que o inquérito policial foi instaurado como “morte suspeita a esclarecer” porque ainda aguarda os laudos técnicos para comprovar que Luis matou Kaena e se suicidou.
“Porque ainda dependo dos laudos técnicos para comprovar que foi mesmo o rapaz que matou a namorada e se matou em seguida”, disse Contrera, que pediu, além do exame necroscópico no casal, a realização do residuográfico, sexológicos, de dosagem alcoólica e toxicológico.
O delegado também investiga se Luís teria matado Kaena por ciúmes, mas essa hipótese é considerada "remota" pela polícia.
Motivação
Por conta do mistério que envolve a motivação do crime, o delegado também orientou os investigadores a rastrearem as redes sociais do casal, e pegarem os depoimentos de familiares para traçarem o perfil de Luis e Kaena. O objetivo é saber o que teria levado os dois a decidirem morrer.
“Vamos ver se eles teriam se valido desses métodos para praticar o suicídio”, disse Contrera, se referindo ao “jogo da Baleia Azul” e à série “13 Reasons Why", da Netflix.
O “jogo da Baleia Azul” é disputado pelas redes sociais e propõe 50 missões aos adolescentes, como bater fotos assistindo filmes de terror, automutilar-se, ficar doente e, por fim, cometer suicídio. O fenômeno que aparentemente começou na Rússia se espalhou e chegou ao Brasil, com suspeitas de casos ocorridos no Mato Grosso e na Paraíba.
A série “13 Reasons Why”, baseada no livro homônimo de Jay Asher, conta a história da adolescente Hannah, que se mata e deixa 13 fitas gravadas para 13 pessoas que ela acredita serem as responsáveis por seu suicídio.
O que dizem
O G1 não conseguiu localizar os pais de Luis e Kaena para comentarem o assunto nesta terça-feira.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa do Maksoud Plaza havia informado que “está colaborando com as autoridades competentes envolvidas no caso ocorrido neste domingo (16) e, portanto, não pode comentar quaisquer informações”. O comunicado acrescenta que “a empresa se solidariza às pessoas envolvidas e continuará colaborando com a investigação”.