Cidades

Poeta mato-grossense lança livro com versos no linguajar cuiabano

Eu fui num tchá, tchá coa Iaiá/ Txa tia djá djá me tchamô/ Tchamo na tchincha o tchata tchá/ Foi a Iaiá que me sarvô/ Dizendo:/ _Vamos tchacoaiá, tchacoaiá, tchacoaiá/ tchacoaiá e tchacoaiá. 

Por incrível que pareça, o trecho acima está em Português. Esse é o jeito de falar dos cuiabanos, que foi transformado em poesia por Aclyse de Mattos, professor de Comunicação Social da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Os exemplares estão organizados como um disco, com lado A e lado B, um mais musical e outro poético. 

Esse é apenas uma parte de um dos poemas que o autor está lançando no livro Festa, publicado pela Editora Carlini e Caniato. A obra, segundo Aclyse, foi baseada em seus estudos e memórias dos últimos 30 anos. “Das festas, das noites, da vida cuiabana e do Estado. Têm poemas de quando fui ao rio Araguaia, Poconé, em reserva indígena, e muita letra de música. Dos meus livros, esse é o mais sonoro”, revela. 

Dentre os versos há poema para o mato-grossense Silva Freire [já falecido], “Barroco Bugre”, numa referência à obra “Barroco Branco” [1989], na qual Freire teria instaurado um novo fazer literário em Mato Grosso. Aclyse escolheu o termo “bugre” pelo fato de o homenageado ser conhecido comoBugrinho, que tem até biografia adaptada para criança, escrita pela filha Daniela Freire. 

Há poemas que o autor classifica como conceituais. Um deles fala sobre a época em que Lévi-Strauss passou por Cuiabá, há quase 100 anos, e resultou no livro “Tristes trópicos”. Os versos estão organizados como se fossem teclas de piano nas sonoridades de “tristes trópicos”. “Ele assiste a um sarau aqui – Burguesinha Cuiabana –, mas queria era conhecer os índios. Então, o poema é um painel, um mosaico. ‘Tem o tuiuiú, nossa garça calva, nosso grocumbeta, jaburu cambá e cabeça seca’, é todo sonoro”, diz e declama o pesquisador. 

Claude Lévi-Strauss [já falecido] foi um antropólogo que lecionou na Universidade de São Paulo e cujos estudos fundamentaram a Antropologia na França. Fez várias viagens por todo o Brasil e uma das paradas foi Mato Grosso, em 1936, passando um período com indígenas da etnia Bororo. O percurso originou o livro “Tristes trópicos” (1955) e, mais tarde, um documentário produzido para contar sobre as andanças pelo Brasil.

Além de poemas com influência oriental, na obra de Aclyse também há poemas em homenagem aos poetas Antônio Sodré, natural de Jucimeira [MT], mas que vivia em Cuiabá e mantinha um sebo no Instituto de Linguagens da UFMT, até falecer [em 2011]; e Ivens Cuiabano Scaff, médico cuiabano, que também desenvolveu vários trabalhos na cultura e poesia. “É um livro feito para dançar”, conta. 

Entre os versos mais antigos está uma produção de 9 de julho de 1980 – dia, mês e ano da morte do poeta brasileiro Vinícius de Moraes. Nessa época, Aclyse estudava no Rio de Janeiro. “Festa é um livro que não tem tempo. É o tempo do escritor e do leitor”. 

Essa temporalidade também é registrada em dois poemas referentes aos cemitérios do Cai Cai e da Piedade, um em uma página e o outro na página ao lado. O primeiro cemitério existiu há muitos anos e tem a história relacionada à Guerra do Paraguai e mortes em massa devido a doenças como varíola, destinado a pobres e indigentes. Ficava na região conhecida como Cai-Cai. 

Já o cemitério da Piedade, localizado no Centro Histórico, está ativo e recebeu figuras ilustres. Foi fundado no século XIX, entre 1817 e 1819, e carrega, principalmente, traços de arquiteturas portuguesa, francesa e italiana. 

Além de Festa, Aclyse já lançou Um olhar sobre a cidade [2002]; Quem muito olha a lua fica louco – poemas [2000]; O sexofonista [1986]; e Assalto a mão amada [1985]. 

(Assessoria)

Redação

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