O PM suspeito de ser o autor do tiro que matou o menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, no Conjunto de Favelas do Alemão, era esperado para prestar novo depoimento nesta quinta-feira (9) na Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro, mas não compareceu. De acordo com o delegado titular da unidade, Rivaldo Barbosa, ele será novamente intimado a prestar esclarecimentos.
Dois PMs admitiram ter feito disparos no dia em que Eduardo foi baleado, mas, segundo os investigadores, a suspeita recai mais sobre um deles. De acordo com a Polícia Militar, ambos ficaram abalados psicologicamente com o caso e estão de licença médica.
Barbosa destacou que o depoimento do policial não é determinante para elucidação do caso. "A investigação não se resume apenas ao depoimento de um policial", disse, ressaltando a coleta de outros depoimentos e provas materiais do crime. Outros 4 policiais militares envolvidos na ação também devem ser ouvidos, além da família e de outros moradores da região.
Um dos familiares do garoto que serão ouvidos novamente é uma irmã que, segundo o delegado, teria presenciado o momento em que Eduardo foi baleado.
"Ele tinha duas irmãs. A menina, de 14 anos, deve ser ouvida novamente, assim como a mãe. Dentro dos nossos protocolos, os familiares diretamente envolvidos com a vítima só prestam depoimentos depois do enterro. Mas neste caso, os pais enterraram o filho em outro estado. Estamos aguardando o regresso deles para que possamos ouvir todo mundo de uma forma mais equilibrada, com os ânimos restabelecidos", afirmou o delegado.
PMs do caso Elizabeth
Compareceram na DH nesta quinta para depor três PMs envolvidos na ação que terminou com a morte de Elizabeth de Moura Francisco, de 49 anos, baleada um dia antes de Eduardo, também no Alemão. Dois deles estão participando de um curso de reciclagem e o terceiro está de férias.
Segundo a delegada Patrícia Aguiar, responsável pela investigação sobre a morte da mulher, ao deporem pela primeira vez, ainda na 45ª DP, os policiais defenderam a tese de que entraram em confronto com criminosos no dia em que Elizabeth e a filha foram baleadas dentro de casa.
“No primeiro depoimento, eles afirmaram não ter envolvimento na morte dela. Mas afirmaram que trocaram tiros com criminosos, revidando uma agressão", contou a delegada.
Reconstituições
Rivaldo Barbosa adiantou que as reconstituições do caso Eduardo, da morte de Elizabeth e do caso Wanderson. "A data ainda não foi definida porque dependemos dos depoimentos e de algumas variáveis da logística da Divisão de Homicídios", afirmou o delegado.
O delegado Rivaldo pediu que possíveis testemunhas dos três casos procurem a Polícia Civil para ajudar a elucidar os crimes. "Queria conclamar a comunidade para que, se alguém viu alguma coisa, nos procure na divisão de Homicídios ou nas delegacias para que possamos esclarecer o mais rápido possível este caso."
Tropa no Alemão será reorganizada
O comandante-geral da PM, tenente-coronel Pinheiro Neto, deu mais detalhes sobre o processo de mudança no policiamento do Conjunto de Favelas do Alemão, anunciado no último domingo pelo governador Luiz Fernando Pezão. Neto afirmou que a região não terá uma reentrada de tropas, e sim passará por uma reorganização e restruturação de seus homens. A informação foi passada para a imprensa em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (9), no Centro do Rio.
A redistribuição já começou com o uso de forças especiais Bope, Batalhão de Choque e Batalhão de Ação com cães e os agentes de UPPs serão realocados para pontos mais protegidos e fortificados. O processo de reorganização começou nas localidades cobertas pelas UPPs Fazendinha, Nova Brasília e Alemão.
O termo reocupação foi usado pelo governador Luiz Fernando Pezão, em entrevista ao Fantástico. Segundo Pinheiro Neto, porém, o que vai acontecer é uma redistribuição das tropas nas áreas mais conflagradas do Conjunto de Favelas, na Zona Norte do Rio.
Problemas pontuais, diz Pinheiro Neto
"Os conflitos aumentaram consideravelmente nessas comunidades. Precisamos entender o que está acontecendo. Mas isso não acontece em todas as UPPs, são problemas pontuais. A maioria absoluta da população quer a policia nessas áreas", afirmou o Pinheiro Neto. As instalações, segundo o comando da corporação, também serão fortificadas através da construção de bases permanentes.
Segundo ele, as comunidades Nova Brasília, Morro do Alemão e Fazendinha são focos de "turbulência" no projeto das policias pacificadoras, e terão reforço de segurança e treinamento dos policiais dessas unidades.
"Esses policiais estão sendo treinados em etapas, em turmas de 60 policiais, com treinamentos de auto proteção e avaliações psicológicas para todos eles, alem de cursos como gestao do erro, já que policiais são humanos e também erram", explicou. As turmas já começaram no morro do Alemão, onde o menino Eduardo, de 10 anos, foi atingido por um tiro de fuzil, e ja na semana passada na Nova Brasília.
Homens do Batalhão de Choque, do Batalhão de Operações Especiais, do Comando de Operações Especiais e do Batalhão de Ações com Cães reforçam a segurança na região. Segundo René Alonso, comandante do COE, a situação no conjunto se acalmou desde as mortes da última semana. "Desde a quinta feira, não houve confrontos na região e a resposta da população foi positiva", afirmou.
A relação dos policiais com os moradores em áreas de UPP também foi alvo de avaliação da PM. O coronel Robson Rodrigues admitiu que, se a população e os policiais sentem medo, perde-se a essência da pacificação:
"Precisamos mudar, criar mais solidariedade com a população", afirmou o coronel Robson. "E esse medo é ruim para todos, inclusive para o policial, que às vezes reage da pior forma", lamentou.
Fonte: G1