PM aponta arma para estudante durante protesto, em Goiás (Foto: Divulgação/Facebook)
Estudantes que lutam contra a terceirização das escolas estaduais de Goiás publicaram uma foto nas redes sociais de um homem apontando uma arma para um aluno que participava de uma manifestação contra a medida, em Goiânia. O grupo Secundaristas em Luta denunciou que ele se trata de um policial militar descaracterizado. Nesta quarta-feira (6), a PM confirmou ao G1 que o homem é um oficial.
A legenda da postagem critica a repressão policial durante o protesto, que aconteceu na segunda-feira (4). Os alunos, que ocupam 24 unidades de ensino em Goiás, denunciam que, o homem "ameaçou atirar" várias vezes durante o ato.
Ainda segundo o texto, ele roubou uma câmera fotográfica de um estudante e pegou a cadeira que ele carregava no pescoço. No entanto, nenhuma ocorrência foi registrada na PM no dia da manifestação.
Até o início da noite desta quarta-feira, a postagem tinha 600 curtidas e 430 compartilhamentos. Nos comentários, internautas criticaram a postura do oficial.
Em nota enviada ao G1, a PM confirmou que o homem que aparece com uma arma na foto é um militar e que ele já está à disposição da Corregedoria da corporação. Foi instaurado um processo disciplinar para apurar a atuação do agente.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) informou às 17h20 que não podia se pronunciar sobre o caso no momento. O G1 encaminhou ainda um email pedindo um posicionamento, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Protesto
O protesto, que aconteceu na tarde de segunda-feira (4), reuniu estudantes que ocupam o Colégio Estadual Robinho Martins de Azevedo, no Setor Jardim Nova Esperança, em Goiânia. Os alunos saíram da escola e se dirigiram ao Terminal Padre Pelágio, de onde retornaram para a instituição de ensino. O ato durou quase 3 horas.
O grupo promoveu um "cadeiraço", pois caminhou com cadeiras usadas nas escolas penduradas ao pescoço. Eles bloquearam algumas ruas ao longo da caminhada para chamar a atenção da população.
Postagem já teve 600 curtidas e 430 compartilhamentos nas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)
Um carro de som seguiu atrás dos estudantes, que gritavam palavras de ordem contra o governo. Alguns manifestantes cobriram o rosto. Grande parte deles carregaram cartazes com mensagens contra a proposta de terceirização.
A Polícia Militar acredita que 50 pessoas participaram do ato. Já os organizadores não divulgaram uma estimativa.
Alunos que ocupam escola saem às ruas em protesto contra OSs, em Goiás (Foto: Vitor Santana/G1)
Confusão
Durante a manifestação, um motociclista que tentou passar pelo bloqueio feito pelos estudantes ficou ferido com um corte no rosto. A confusão aconteceu no cruzamento das avenidas Anhanguera com Castelo Branco.
O motociclista, que trabalha como entregador em uma ferragista, foi derrubado no chão. Em seguida, PMs o retiraram da confusão.
"Eles [manifestantes] já tinham liberado a passagem. Aí quando eu fui passar, um menino pulou na frente da minha moto. Quando eu fui tentar seguir, veio outro e me empurrou e também levei uma pedrada quando caí", disse o entregador que não quis se identificar.
Ocupações
As ocupações começaram no dia 9 de dezembro. Desde então, os alunos já ocupam 24 unidades em Goiânia e mais quatro cidades. Na capital são 11 colégios: José Carlos de Almeida, Robinho Martins de Azevedo, Lyceu, IEG, Colu, José Lobo, Murillo Braga, Ismael Silva de Jesus, Pedro Gomes, Cora Coralina e Presidente Castelo Branco.
Anápolis, a 55 km de Goiânia é a cidade com mais colégios ocupados. Ao todo, são nove escolas: Hertha Leyser Odwyerm, Américo Borges de Carvalho, Carlos de Pina, Padre Fernando, Jad Salomão, José Ludovico de Almeida, Frei João Batista e Polivalente.
Em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana, os colégios Cecília Meireles, Nova Cidade e Villa Lobos também foram ocupados no ato contra as OSs.
Na cidade de Goiás, o Colégio Estadual de Aplicação Professor Manuel Caiado também foi ocupado.
Em São Luís de Montes Belos, na região central de Goiás, os estudantes acampam no Colégio Estadual Costa e Silva.
Implantação de OSs
A Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) informou que respeita as manifestações feitas pelos alunos e que sempre esteve aberta ao diálogo. De acordo com o órgão, a secretária Raquel Teixeira tem se reunido com entidades, estudantes e professores para esclarecer sobre a mudança na administração das escolas.
A Seduce explicou que, mesmo com a implantação das OSs, as escolas vão permanecer 100% públicas e gratuitas, pois “não se trata de privatização ou terceirização do ensino público, mas uma parceria”. A secretária Raquel Teixeira afirmou, em entrevista à TV Anhanguera, que os direitos dos professores e a gratuidade das escolas administradas por OSs serão garantidas.
"Muita informação inverídica está circulando. Primeiro que professor vai perder direito. Isso não existe, nada mais longe da verdade, todos os professores efetivos manterão todos os direitos adquiridos e todos os professores serão valorizados. A escola vai ser privatizada, nada mais longe da verdade. A privatização aconteceria se eu pegasse a escola e transferisse para um ente privado que ia ter lucro com ela e eu não teria controle. A secretaria que vai ter todo o controle, toda a política pedagógica, toda a orientação”, pontuou.
Raquel Teixeira disse ainda que “tem a convicção que este modelo será uma iniciativa inovadora, tornará o sistema mais ágil, mais eficiente e fará avançar a qualidade da educação”, garantiu.
Na segunda-feira (5), a Seduce publicou no Diário Oficial de Goiás o chamamento público para organizações sociais (OSs) interessadas em assumir a gestão de 23 escolas estaduais da macrorregião de Anápolis. Os candidatos têm até o próximo dia 22 para tirar dúvidas com a secretaria e os envelopes com as propostas devem ser abertos em 5 de fevereiro.
Fonte: G1