O Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidiu em julgamento em segunda instância nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, manter parcialmente a decisão da 3ª comissão disciplinar que retirou o Grêmio da Copa do Brasil em 3 de setembro, após caso de injúrias raciais de torcedores contra o goleiro santista Aranha, em 28 de agosto. Porém, houve uma pequena mudança na decisão. Os auditores votaram contra a exclusão e decidiram punir o clube com a perda de pontos, o que acarretou na eliminação do time gaúcho, já que perdeu o primeiro jogo para o Santos por 2 a 0. O clube paulista enfrenta o Botafogo no primeiro jogo do duelo na próxima quarta-feira.
Mesmo que o Grêmio não tenha sido excluído da competição, o STJD também votou pela não realização do jogo de volta, já que a partida não teria validade para a sequência do torneio, uma vez que o Santos já está classificado para as quartas de final. Quatro auditores votaram pela não realização do jogo e outros três optaram por deixar a decisão para a Confederação Brasileira de Futebol. A CBF pode reavaliar a decisão. O Pleno também manteve a multa de R$ 50 mil.
Na prática, a decisão mantém a eliminação do Grêmio. Apesar de nenhum relator ter levantado a questão durante o julgamento, a pena pode evitar a abertura de um precedente para excluir um clube do Campeonato Brasileiro, por exemplo, caso algo semelhante aconteça nessa competição. Não cabe mais recurso ao Grêmio na esfera desportiva.
O recurso do quarteto de arbitragem também fora julgado. Wilton Pereira Sampaio teve a suspensão reduzida de 90 dias para 45 dias, com multa de R$ 800. Já o quarto árbitro, Roger Goulart, foi suspenso por 30 dias e terá de pagar multa de R$ 500. Os árbitros auxiliares foram absolvidos.
Como foi o julgamento
O primeiro a se manifestar foi o procurador Paulo Schmitt, que denunciou o Grêmio pelos atos de injúrias raciais. Com um discurso contundente, ele reforçou o pedido de exclusão do clube e ainda solicitou o aumento da multa, inicialmente colocada em R$ 50 mil, e ainda a perda de mandos de campo, o que não foi levado em consideração pelos auditores.
– A reprodução da prova de vídeo que originou a denuncia era altamente relevante a esse processo, para que a gente não esqueça o que aconteceu, para a gente possa combater e para que o clube seja responsabilizado pelos atos de seus torcedores. Quando o clube teve a oportunidade, através de seus torcedores, e não se separa o clube e a torcida. Quem separa tenta desinformar a sociedade. Clube e torcida é uma coisa só. Quando o clube teve uma nova oportunidade, vaiou o goleiro, quando ele deveria ser aplaudido pela coragem, por trazer à tona o que a gente esconde debaixo do tapete – disse.
Logo depois, foi a vez da defesa do Grêmio se manifestar. Primeiro, o advogado do Grêmio Gabriel Vieira reforçou as ações do clube para combater o racismo antes do incidente na Arena e também as providências tomadas depois das injúrias, como a carta enviada por Felipão a Aranha e o pedido de desculpas por parte do presidente Fábio Koff. Já o Michel Assef Filho citou um caso semelhante ocorrido com a torcida do Paraná, que resultou em multa ao clube paranaense.
A defesa do árbitro Wilton Pereira Sampaio fez a sua participação antes do relator Paulo César Salomão Filho fazer o seu pronunciamento e, na sequência, o seu voto. Ele destacou que o órgão não considera o Grêmio um clube racista, mas decidiu por revogar a exclusão, mas punir a instituição com a perda de três pontos. Como o time gaúcho perdeu o primeiro jogo por 2 a 0, acabou eliminado da Copa do Brasil.
– O Grêmio foi eliminado, não excluído – resumiu o relator.
Todos os demais seis auditores que participaram do julgamento acompanharam o relator e optaram pela eliminação do Grêmio da competição nacional.
Depois das manifestações de cinco auditores, que concordaram com o relator, o presidente do STJD, Caio Rocha, fechou a sessão e fez o seu pronunciamento. Segundo ele, o Grêmio acabou eliminado em função do resultado do primeiro jogo.
– O ato da torcida está levando isso ao clube. As campanhas do Grêmio são louváveis, mas não resolveram o problema da torcida. O tribunal não está excluindo o Grêmio. O que excluiu o Grêmio foi ter perdido o primeiro jogo, no seu campo, por 2 a 0 – disse.
Relembre o caso
O incidente no jogo entre Grêmio e Santos, na Arena do Grêmio, em 28 de agosto, ocorreu aos 42 minutos do segundo tempo, quando Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio, alegando ter sido vítima de xingamentos por parte da torcida. O goleiro registrou boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia na sexta.
A maior repercussão recaiu sobre uma jovem mostrada pelas imagens do canal ESPN. Patrícia Moreira, 23 anos, foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar. Em 4 de setembro, prestou depoimento à polícia e, um dia depois, pronunciou-se à imprensa, pedindo desculpas a Aranha e ao Grêmio, sob forte comoção. Ao menos dez pessoas já foram ouvidas pela polícia, que ainda não concluiu o inquérito.
Globo Esporte