Dados divulgados no último censo do IBGE, ainda que defasados, informaram sobre a população indígena no país: 896.900 pessoas se declararam indígenas; são falantes de 274 idiomas e compõem 305 etnias distribuídas em 505 Terras Indígenas que compreendem 12,5% do território brasileiro, com significativa concentração na Amazônia Legal. Em 2020, por solicitação do Ministério da Saúde, em virtude da pandemia causada pelo Covid-19, o IBGE realizou um dimensionamento emergencial de populações residentes em áreas indígenas e quilombolas, com o intuito de planejar a imunização de grupos vulneráveis. Sobre os indígenas, foi estimado que “as localidades indígenas estão distribuídas em 827 municípios brasileiros. Do total de localidades, 632 são terras indígenas oficialmente delimitadas. O restante constituiu 5.494 agrupamentos indígenas, sendo 4.648 dentro de terras indígenas e 846 fora desses territórios. As demais 977 são denominadas outras localidade indígenas, aquelas onde há presença desses povos, mas a uma distância mínima de 50 metros entre os domicílios.”
No Brasil, é preocupante o grau de desconhecimento sobre populações indígenas pelos não indígenas. Diante à diversidade de povos indígenas que atualmente habita o território nacional, urgem instrumentos mais eficazes para que possam estar mais acessíveis à sociedade e, desta forma, discriminar positivamente seus modos de viver. O “Dia do Índio”, na grande maioria das vezes, é comemorado a partir da ideia de que para que um povo indígena seja considerado como tal, precisa se conservar como nos tempos anteriores à colonização europeia. Comemorar o “Dia do Índio” é respeitar a pessoa indígena, sua existência, seu modo de estar no mundo. De ser quem ele quiser. Conhecimentos sobre povos indígenas ainda deixam um vácuo no espaço escolar. Enquanto isso, estereótipos se multiplicam.
Fonte: Rede Sementes do Xingu
O povo Xavante, autodenominado A’we, é habitante do Estado de Mato Grosso. Aqui, a opção pelo povo Xavante recai em razão do recente Pocket Show de Estela Ceregatti e Jhon Stuart no encerramento da 21ª Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina – MAUAL, momento da estreia dos curtas-metragens “Rewaptu – a força da mulher Xavante”, de Jade Rainho e Carolina Rewaptu, e “Itinerário de cicatrizes”, de Glória Albues.
Carolina Rewaptu, primeira mulher cacica Xavante, lidera a rede “Mulheres Coletoras de Sementes”, da Associação Rede de Semente do Xingu. Formada em 2011, a associação tem como objetivo coletar sementes nativas destinadas ao reflorestamento de áreas desmatadas. Também promove o intercâmbio entre várias etnias, gerando renda para as mulheres. Em 2020, em plena pandêmica do Covid-19, elas coletaram 1 tonelada de sementes de 34 espécies: angico, caju, carvoeiro, copaíba, crotolaria, falso pau-brasil, feijão de porco, feijão guandu, inajá, jatobá da mata, mamoninho, tamboril, tamboril do cerrado, tento de olho de cabra, tucum, urucum, xixá… Há dez anos, as mulheres da etnia Xavante estão reflorestando a Terra Indígena Marãiwatsédé, território expugnado do povo Xavante para ser doado aos apoiadores da ditadura militar. Nessa época, Carolina Rewaptu estava com 6 anos de idade.
São as “Mulheres Sementeiras”, exaltadas por Estela Ceregatti. “Hum hê/ Hum hê/ Hum hê/ Hêa hum… Mulheres força da terra/ Emanação do bem maior/ Mulheres colares em penas de gavião/ Mulheres sementeiras/ Almas límpidas/ Colhem as sementes com as próprias mãos/ Mulheres anciãs, cacicas e xamãs/ Dão ao grão um novo chão”…
Estas e muitas histórias do povo Xavante e de tantos outros povos devem estar nos livros didáticos.
Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.