Fotos Ahmad Jarrah
Pouco mais de quatro meses depois de uma explosão que resultou na morte de três trabalhadores terceirizados que prestavam serviços a Assembleia Legislativa de Mato Grosso, cerca de cinco pintores, que estão fazendo uma reforma no Parlamento, foram flagrados trabalhando sem os Equipamentos de Segurança Individual (EPI’s), na tarde de quarta-feira (05.08), em Cuiabá.
O jornal Circuito Mato Grosso foi até o local e registrou as imagens da falta de segurança que os trabalhadores estão sendo expostos. De chinelo, sem luvas, máscaras, capacetes ou cordas para segurança os trabalhadores fazem a pintura do local. Em cima de andaimes, com aproximadamente três metros de altura, um dos pintores se equilibra para lixar uma das paredes da sala.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Cuiabá e Municípios (Sintraicccm), Joaquim Dias Santana disse por telefone que irá enviar técnicos para averiguar a denúncia do jornal Circuito Mato Grosso, nesta quinta-feira (06). “Isso é realmente um desrespeito às normas de segurança do trabalhador. Caso seja constatada irregularidade, o Sintraicccm irá oferecer denúncia a Superintendência Regional do Trabalho contra a empresa responsável”, disse Santana.
Ainda conforme o presidente do sindicato, todo trabalhador deve obedecer criteriosamente às normas de segurança como usar botas de borracha, capacetes, cordas para poderem subir em andaimes e a empresa deve oferecer técnico em segurança no trabalho para assegurar o uso dos equipamentos. “A responsabilidade de assegurar os EPI’s é da empresa contratada. Contudo se a Assembleia [contratante] for omissa ao ver as condições e não fizer nada, ela também pode ser responsabilizada”, disse.
Outro lado
Ao ligar para a assessoria de imprensa da Assembleia Legislativa, os assessores desconheciam que operários realizavam qualquer obra no local e até se surpreenderam com os questionamentos.
A empresa responsável pelos trabalhadores não atendeu as ligações e até o fechamento desta matéria.
Análise das imagens
A pedido do Jornal Circuito Mato Grosso a empresa cuiabana Excelência, especializada em segurança do trabalho, analisou as imagens enviada pelo jornal e deu as seguintes recomendações:
Itens incorretos:
Colaboradores sem EPI nas mãos; Sem proteção nas vias respiratórias; Sem proteção contra quedas de objetos dos andaimes; Colaborador com manga de camisa levantada; Andaime montado de forma incorreta (Assoalho incorreto, sem sapata, sem guarda corpo, sem escada para a subida); Falta de limpeza e organização no ambiente de trabalho; Sem proteção para os olhos; Sem linha de vida para o acoplamento para o cinto de segurança; Latas de tintas com as tampas levantadas gerando risco de cortes.
Recomendações: Manter limpeza e organização do ambiente de trabalho, treinamento sobre a importância do EPI, cobrar utilização do EPI, realizar a montagem dos andaimes corretamente e colocar linha de vida para a conexão do cinto de segurança, lata de tinta de maneira correta (somente a tampa conforme vem de fábrica). Uso de cinto de segurança para o colaborador que subir ao andaime, uniforme adequado (camisa manga longa e calça), calçado de segurança, Luva látex, capacete de segurança e mascara semifacial filtrante (PFF2), óculos incolor.
Incêndio na AL
O incêndio ocorreu no dia 13 de março, quando três funcionários de uma empresa terceirizada foram contratados para um trocar um carpete, no período noturno, do gabinete do deputado 114, que seria ocupado pelo deputado Gilmar fabris (PSD).
Entre os dias 10 e 11, eles instalaram o carpete, mas tiveram que retirá-lo. No momento da explosão, os trabalhadores faziam retirada da cola no chão do gabinete com uso de solvente, o que teria provocado a explosão.
No acidente, morreram Luciano Henrique Perdiza, Wagner Nunes de Almeida, Jonathan Bruno Paes. O laudo da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) apontou que o acidente foi provocado pela "concentração de vapor de solvente em ambiente sem ventilação, na presença de atrito e energia elétrica proveniente da enceradeira".
Diante do laudo e de informações colhidas junto a 20 pessoas, entre vítimas, sobrevivente, familiares de vítimas, funcionários da Assembleia e policiais que atenderam a ocorrência, a Polícia Civil concluiu "se tratar de acidente de trabalho decorrente do conjunto de equipamentos, material e ambiente inadequado".