Paulo Cézar Bertocini, piloto sequestrado em dezembro de 2013, no munícipio de Juína (737 km da capital), afirma que a polícia boliviana não tem estrutura para investigar o caso do sequestro da aeronave de Janete Riva. Ainda em campanha ao governo estadual, a social democrata teve seu avião particular, um King Air – prefixo ATY, sequestrado em Pontes e Lacerda (483 km de Cuiabá), no dia 20 de setembro.
Na ação, os criminosos levaram como reféns o piloto Evandro Abreu e copiloto, Rodrigo Agnelli, que até hoje não estabeleceram contato com a família.
Paulo, que passou por uma situação parecida, conta que ficou sob o poder de dois bandidos, por 16 dias. Ele foi mantido sequestrado pilotando a aeronave enquanto os bandidos não conseguiam vende-la.
Quando foi libertado, recebeu o celular pessoal de volta e dinheiro boliviano, que foi usado para abastecer a viatura da polícia da Bolívia, que o trouxe de Santa Cruz de La Sierra até Vila Bela da Santíssima Trindade (562 Km da capital mato-grossense).
“Na Bolívia eles dependem do tráfico, não tem recursos para realizarem este tipo de investigação. Para chegar até Vila Bela, tive que abastecer o carro com o dinheiro que me foi dado pelos sequestradores”, afirmou Bertocini.
O piloto declarou que quando soube do sequestro envolvendo a família Riva, acreditou que o caso seria desbaratado rapidamente, devido à força do deputado no Estado. No entanto, isso não aconteceu. Assim como os familiares e colegas das vítimas, ele acredita que o governo estadual e o Itamaraty precisam atuar rapidamente no caso.
Na opinião de Paulo, esta é uma ação que se torna cada vez mais comum, na qual os aviões sequestrados são destinados a atender o narcotráfico. Questionado sobre a demora em informações dos desaparecidos, ele explicou que o modelo da aeronave pode dificultar a venda pelos bandidos.
“Pelo modelo da aeronave, é muito complexo encontrar um comprador, pois não serve para a necessidade de sua destinação, o tráfico de drogas”, explicou.
Sequestro em Juína
Paulo Cezar Bartocini lembra que no dia do crime, ele chegou cedo ao aeroporto para levar um grupo de pessoas para Cuiabá, porém, foi abordado por um dos homens armados, que o obrigou a ligar o avião e iniciar o voo.
O piloto conta ainda, que foi obrigado a pilotar o avião até chegar à Bolívia, e após isso, enquanto a quadrilha não conseguia negociar a aeronave, ficavam em regiões de fazendas, montavam acampamentos em locais isolados e logo saíam no dia seguinte para procurar outro local.
Para Paulo o sequestro do King Air pode estar sendo realizado, seguindo o mesmo padrão. “Durante o sequestro passei por 3 pistas diferentes, e só fui libertado após o grupo ter conseguido negociar a aeronave que pilotava”, afirmou.
Segundo o piloto, os sequestradores não agiram de forma violenta, deixando claro que o único objetivo era a de transportar a aeronave até o local definido na negociação.
“Eles perguntavam da minha família, e deixavam bem claro que queriam apenas o avião. No fim do sequestro devolveram meu celular e me deram dinheiro para voltar pra casa”, contou Paulo, que hoje continua sendo piloto, morando no estado do Pará.
Investigação
Após 17 dias de sequestro, o delegado regional de Pontes e Lacerda, José Emílio Gadioli, retomou as buscas na Bolívia. A previsão é que nesta quinta-feira (9), uma equipe saia da cidade mato-grossense com destino ao país vizinho, para trabalhar as informações repassadas por um grupo especializado da Polícia boliviana.
A expectativa do delegado é de piloto e copiloto, estejam vivos. “Ainda que sejam forçados a trabalhar para os bandidos, eles continuam vivos. Estamos fazendo todos os esforços para achar o local que está servindo como cativeiro. Também estamos aflitos com essa demora por resposta”, disse o delegado.
O trajeto da equipe da Polícia Civil de Pontes e Lacerda que retornará à Bolívia começará em San Ignácio, localizada na divisa com Mato Grosso, seguindo até La Paz, capital boliviana.