Foi preciso exterminar mais de 200 araras, entre vermelhas e azuis, que estão em extinção, na atividade ilegal milionária para deflagrar a operação “Ave Rara”, pela Polícia Federal (PF) de Mato Grosso. Uma denúncia à PF levou à descoberta de um casal que agia com o tráfico internacional de animais entre Brasil e França, por intermédio de índios da etnia Erikibatsa, na região de Brasnorte, em Mato Grosso. “Infelizmente a cultura do espelhinho, de troca, continua”.
Esta declaração é do delegado Cristiano Nascimento dos Santos, da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF em Cuiabá, quanto ao caso de tráfico de animais em Mato Grosso, cujo casal, o franco-brasileiro Eduardo L., de 50 anos, e sua esposa a brasileira Renata Beatriz, de 51 anos, era investigado pela Interpol (organização internacional que coopera com policias de diversos países), por meio da polícia ambiental americana, desde 2005.
E foi entre os anos de 2004 e 2005 que a brasileira conseguiu captar de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões dos ministérios da Educação e Saúde, em contrato com os órgãos brasileiros com a intenção presumida de atender as populações indígenas do Mato Grosso por meio de uma Organização Não Governamental (ONG) criada por ela.
Conforme a PF, possivelmente visavam à comercialização internacional de animais, principalmente de aves, por meio de um contato direto com os índios, a partir de então. Pois em 2005 a Interpol começara a investigar o casal por informações de que estariam vendendo peças de aves empalhadas para exposição, colecionadores, bem como suas penas soltas ou em artefato nos Estados Unidos.
“A ONG foi o cartão de visitas para ganhar a confiança dos índios”, conta o delegado da PF Cristiano Nascimento. E foi em 2004 que Mato Grosso estava no ranking como o segundo Estado em tráfico de animais.
Após quase 10 anos tudo começou a ser desmantelado, quando Renata foi pega com quatro sacolas de penas de araras azul e vermelha, por meio da denúncia anônima à PF de Mato Grosso, em setembro de 2013. Numa ação conjunta com a PF do Rio de Janeiro ela foi detida no Aeroporto Antônio Carlos Jobim (Galeão).
“Foi armado um esquema com mecanismo infravermelho para capturá-la. Em todas as viagens internacionais com destino à França era conferida a lista de embarque, até que um dia o nome dela constava. As penas foram coletadas de Brasnorte e foi preciso matar mais de 200 araras para aquela quantidade”, explica o delegado Cristiano Nascimento.
Renata Leroux encontra-se foragida na mansão do casal na França, numa propriedade de 700 anos, pois após ser detida ela foi liberada, quando assinou um documento que previa o seu comparecimento em juízo. Já Eduardo encontra-se preso em Juína desde setembro de 2014. Com mandado de prisão, ele foi detido quando tentava trocar 600 munições de calibre 22 por penas.
“É mais fácil a gente descobrir o tráfico nos locais por onde as penas e partes dos animais saem. Aqui é só a coleta e no litoral é que tem a grande movimentação de navio, avião, de aeroporto. Então como é que a gente não descobre? Porque a maior parte das ações e contatos telefônicos para conseguir equipamento de transporte acontece no Nordeste e Sudeste”, afirma o delegado da PF Cristiano Nascimento.