A Polícia Federal analisa as gravações apresentadas pelo ex-ministro Marcelo Calero como prova de que foi pressionado por integrantes do governo Temer a tomar uma decisão que favorecia interesses pessoais do agora ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Calero informou à PF que gravou o presidente Michel Temer, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel, além de outros servidores do Planalto. Ele entregou uma série de áudios que comprovariam suas acusações.
Em depoimento à Polícia Federal, Calero afirmou ter recebido pressão de Temer e seus subordinados para que a decisão final sobre liberar ou não a construção de um prédio residencial em Salvador fosse da AGU e não do Iphan, órgão subordinado a pasta da Cultura, que já havia se posicionado contra. Geddel comprou um apartamento na planta nesse empreendimento.
Conforme investigadores, o equipamento utilizado para as gravações não era profissional e a qualidade do áudio captado é ruim. Por essa razão, as gravações estão sendo submetidas a tratamento técnico. Segundo relatos, em algumas conversas o áudio está muito ruim, o que dificulta ouvir os registros das gravações. Em outras, por outro lado, está muto bom.
Dessa forma, ainda não é possível dizer quais trechos do diálogo com o presidente Temer relatados por Calero em depoimento à PF foram captados pela gravação.
A Polícia Federal só irá encaminhar as gravações para a Procuradoria-geral da República após verificar se o conteúdo confere com as informações prestadas ou sugerem outras irregularidades envolvendo pessoas com foro. Para isso, é preciso concluir o trabalho de análise dos áudios apresentados.
A PF não pode investigar políticos com prerrogativa de foro sem autorização do STF. Por isso, nessa etapa de análise a perícia não deve entrar no mérito de quem são as vozes que aparecem nas gravações.
Calero prestou depoimento à PF no sábado, 19 de novembro. Um delegado que atua em Brasília foi ao Rio de Janeiro para ouvir o ex-ministro.
Ele disse que recebeu três telefonemas do então colega Geddel para tratar da liberação da obra de um prédio em Salvador, além de dois encontros. Com o ministro Padilha foram dois telefonemas e uma reunião.
Com o presidente Temer ele narrou três conversas. Duas delas no mesmo dia 17 de novembro, no Palácio do Planalto. Calero já havia se reunido com o presidente e retornou no final da tarde.
‘Especulação’
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse que o episódio terá que ser analisado. “O processo está sob sigilo. Os boatos sobre se há ou não gravações serão apurados para verificar em que condições foram feitas (as gravações), se é que foram feitas”, afirmou Moraes em evento do PSDB, em Brasília.
Mais tarde, em São Paulo, o ministro voltou ao tema. “O próprio ministro Calero emitiu nota (mais informações nesta página) e não deixou claro se houve gravações. O primeiro ponto é: houve ou não? Houve de quem e o que fala? Antes disso é uma especulação muito grande”, afirmou.
Fonte: Estadão