Opinião

Petróleo na Amazônia.

Nos animados happy hours diários, os almofadinhas de São Paulo e do Rio de
Janeiro, discutem com afetada desenvoltura preservacionista a necessidade de
deixar intocado o petróleo da margem equatorial brasileira.


Invocando prováveis mudanças climáticas que levariam à miséria as
populações dessa região, recomendam deixá-las na penúria já agora, para
evitar uma possível miséria futura. Ou seja, prescrevem um mal imediato e
concreto para evitar outro, futuro e incerto.


Exibindo cultura de almanaque cheia de clichês, discursam contra a exploração
de petróleo no Amapá e Amazonas, enquanto a Noruega amplia ano a ano sua
produção no fundo do mar e no ártico. Esta, para aliviar a consciência,
direciona uns caraminguás para mantermos os caboclos da Amazônia
impedidos de derrubar suas árvores e de perfurar poços de petróleo.


Quando a guerra Rússia/Ucrânia, iniciada há três anos, comprometeu a oferta
de combustível para a Europa, não houve movimentos no sentido de
economizar energia. Privar-se da calefação plena, gastar menos energia
elétrica ou reduzir as viagens (carros, aviões) estava fora de seus planos.
Acharam melhor reativar as usinas a carvão, reconhecidas poluidoras da
atmosfera. Não cogitaram restringir algum conforto em benefício do clima, mas
sugerem que a população amazônica deva se abster do progresso como
contribuição para o meio ambiente.


A floresta amazônica é, sem dúvida, um extraordinário depósito de CO₂ que,
se queimado aumentará a concentração desse gás na atmosfera. Entretanto, o
caboclo que lá vive não é obrigado a ser o eterno guardião não remunerado
deste estoque, enquanto os outros esbanjam o que ele economiza.


Interessante que os moradores do sul e do sudeste do Brasil esquecem que ali,
onde desfrutam do progresso com cidades modernas, estradas asfaltadas e
fábricas produtivas, há 400 anos era uma exuberante floresta. E que a eficiente
agropecuária que ali floresce só foi possível porque as árvores foram
derrubadas. Ou alguém supõe que lavouras de cana-de-açúcar, milho e café
produzem debaixo da mata?


Neste momento em que se discute no parlamento uma possível racionalização
dos processos de licenciamento ambiental, há um grande alvoroço das ongs
“marineiras” tentando impedir que se dê algum limite às ideológicas e absurdas
normas que impedem muitos projetos de prosperarem.


O carnavalesco Joãozinho Trinta dizia: “Pobre gosta de luxo, quem gosta de
miséria é intelectual” Ele insinuava que os bacanas romantizam a miséria dos
outros, enquanto usufruem dos privilégios da fartura.


Claro que não estou sugerindo a derrubada da floresta amazônica, mas sim
dizendo que não é lícito impedir o progresso dos habitantes das matas em
nome de uma missão impossível, como se eles fossem os responsáveis pelo
clima do mundo.

Quem adora árvores são os ricos e filósofos de poltrona, que já usam sem
escrúpulos sua cota de conforto e luxo. Os moradores dos cafundós só querem
acesso a estradas, luz elétrica e gás. O lucro do petróleo da margem equatorial
daria a eles esses “privilégios” e, quem sabe, um celular com internet.


Ou os cults de boteco — glamourizando uma experiência que desconhecem —
acham que os pobres preferem cozinhar no escuro, a pouca comida que têm,
usando o fogão a lenha?


Renato de Paiva Pereira.

Renato Paiva

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