As notícias ruins, principalmente as sanguinolentas, têm muito mais poder de atrair nossa atenção do que as boas. Por isso que as manchetes de jornais e das mídias em geral usam sem parcimônia os fatos mais trágicos para prender nosso interesse. E o que eles fazem com o interesse captado? Simplesmente os vendem aos anunciantes, ou seja, as empresas de mídia negociam o nosso fascínio pelas notícias ruins, inserindo entre uma e outra o anuncio do produto que querem vender.
Mas não há, a rigor, nada de ilícito nesta atitude comercial de aproveitar nossa volúpia por catástrofes e fofocas para vender-nos produtos e serviços. Enquanto o telespectador vê um bombardeio em Israel, esperando a fofoca – ops novela – das oito não custa oferecer-lhe um novo cartão de crédito sem taxa.
Entretanto esta busca frenética pela atenção ofertando sangue e mexericos, nutre o viés da negatividade. Esta tendência de acharmos que tudo está degenerando, alimentada continuamente pela divulgação de más notícias nos faz pensar que o mundo está continuamente piorando.
Questionários aplicados pelo pesquisador do “Médicos Sem Fronteiras” Hans Rosling em diversos países do mundo mostram o grau de desinformação das pessoas, independentemente do nível de desenvolvimento dos países em que vivem. Este famoso médico, pesquisador, palestrante e escritor sueco morto em 2017, contraria, no livro FactFulness, lançado este ano no Brasil, o pessimista senso comum, mostrando com confiáveis dados estatísticos que o mundo está mudando para melhor. Mas, como ele mesmo diz “melhorando não quer dizer que está bom”.
Por exemplo: nos últimos vinte anos a proporção da população mundial vivendo em extrema pobreza caiu quase pela metade; a porcentagem de crianças com um ano de idade que já foram vacinadas contra alguma doença é de cerca de 80%.
Ainda, 80% da população mundial tem acesso à eletricidade; e para os que gritam – com razão contra – contra a discriminação feminina vem um dado animador: enquanto homens com trinta anos passaram dez anos na escola, as mulheres já alcançaram nove e vão passá-los em breve.
Só que nós, com o pessimismo que herdamos, continuamos afirmando que o mundo está piorando, mesmo sabendo que o índice de morte de crianças até cinco anos de vida e caiu drasticamente e que nunca desfrutamos de tanta prosperidade e bem estar como agora.
Não tenhamos, entretanto a pretensão de exigir dos meios de comunicação que deixem de ser pessimistas, porque esse pessimismo é nosso e eles somente o usam para vender seus produtos. Podemos sim, cada vez mais usar filtros eficientes para analisar as notícias, mas isto só se faz consultando fontes confiáveis e principalmente desenvolvendo e espírito crítico.
Entretanto, a despeito do aumento da educação e das estatísticas confiáveis, inacreditavelmente, prosperam falácias vindas da pura ignorância, que deveria estar enterradas há muito tempo: alguns afirmam que a terra é plana; muitos ”millennials” estão crendo em astrologia e outros pregando ideias nefastas contra a vacinação de crianças. Pior, esses pensamentos ridículos estão crescendo “bem duro” não na África pobre, mas na rica e culta Europa.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor
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