Política

Pesquisas eleitorais não captam movimento do eleitorado

O resultado das eleições 2018 causou surpresas em vários Estados pelo país pelo desempenho de alguns candidatos nas urnas que até às vésperas da votação as pesquisas mostraram como secundários na intenção de votos. No caso de Mato Grosso, a divergência chamou a atenção pelas vitórias de Nelson Barbudo à Câmara dos Deputados na primeira colocação e da juíza Selma Arruda, ambos do PSL (Partido Socialista Liberal), também como primeira colocada, para o Senado. 

A diferença entre as pesquisas e o resultado nas urnas fez surgir a dúvida sobre a validade dos números auferidos pelos institutos de estatística, de onde ocorreu o furo de levantamento. 

O doutor em direito constitucional e professor da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), Marcelo Theodoro, afirma que esta não foi a primeira eleição em que os números ficaram bem longe do resultado das urnas. Ele acompanha o fenômeno desde as eleições municipais de 2016, e mesmo sem compilações de dados aponta que ao menos dois fatores podem ser considerados na avaliação. 

O primeiro é a qualidade técnica dos trabalhos dos institutos que inclui a coleta de dados e o universo do levantamento de entrevistados, por exemplo. Erros na abordagem de campo podem gerar resultados de baixa fidelidade à realidade ou a distorções do cenário. 

“Há empresas que fazem pesquisas e erram sistematicamente. Esse erro pode ser da culpa da ineficiência com uso de tecnologias ultrapassadas, que não levam consideração tantas variantes, ou, ter a manipulação, mas a manipulação precisa ser comprovada e isso não é faço de fazer. E não diria que há manipulação, eu posso dizer sim que elas [as pesquisas] estão em xeque, elas justificar, ainda que seja pela incompetência porque teve tantas distorções. Isso vem acontecendo sistematicamente.” 

As justificativas que vêm sendo apresentadas pelos institutos de que o eleitor tem decidido seu voto nos últimos momentos da campanha eleitoral. São movimentos bruscos de mudança de opinião, que está sendo influenciada por redes sociais, como WhatsApp e Facebook. Esse fenômeno, que por ser caracterizado pelo dito de popular de “maria-vai-com-as-outras", foi apresentado, por exemplo, pelo Instituto Data Folha, para explicar divergências entre as apurações e resultado das urnas. 

Mas, professor Marcelo Theodoro diz ser cético quanto à mudança de opinião na reta final de campanha em magnitude de alterar cenários de pesquisa com inclusão e exclusão de candidatos. 

“Particularmente, não consigo compreender como ocorre esse movimento de mudança de voto, que nas pesquisas aparecem na casa de 20% de algum resultado. Há empresa X durante a campanha dá um cenário e no fim campanha dá outro cenário totalmente oposto”. 

Ele aponta as pesquisas para o Senado como o resultado mais discrepantes, e, logo em seguida, os números para o governo. “Se bem que a opinião para a eleição ao governo pôde ser sentida sem muita necessidade dos números. Mas, a do Senado surpreendeu todo mundo. Precisamos questionar quem está fazendo a pesquisa, que variantes estão sendo levadas em conta. Às vezes, entrevistam o sujeito e ele disse que ele vai votar em x ou y, mas ele está com o título cancelado. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tem esses números de onde houve mais títulos cancelados”. 

A manipulação de dados, citada como o segundo fator, deve ser considerada com elemento secundário pela dificuldade de identificar as fraudes. Neste caso, a suposta interferência estaria mais para especulação do que para um recorte científico do eleitorado. 

 “É algo difícil de identificar, mas não devemos fechar os olhos e não cogitar essa possibilidade. Acho que não deve a principal hipótese. Mas, há de se perguntar, por exemplo, qual é o recorte geopolítico das pesquisas, quem está sendo entrevistado. Pode ser que as entrevistas estão sendo realizadas em lugares que não refletem a realidade global”. 

Liberdade democrática e controle social 

O professor Marcelo Theodoro afirma que as pesquisas são realizadas para a assegurar a liberdade de expressão dos agentes políticos, contudo, é possível questionar a condução dos trabalhos. O problema é que a fiscalização das pesquisas para maior controle dos dados pode ser encoberta pela discussão sobre o tolhimento da democracia. 

 “As pesquisas são feitas para valorizar a democracia, e o controle de pode gerar debates sobre a liberdade de expressão. Acho que o controle pode vir dos eleitores, eles que devem questionar os resultados e as empresas que estão fazendo as pesquisas. Acho que em tempo dessa cobrança. Depois de vinte anos de eleição e divulgação de pesquisa, os eleitores conseguem saber quais empresas têm credibilidade e quais tentam ludibriar”. 

 O TRE-MT (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso) diz que a Justiça não analisa o teor das pesquisas eleitorais, sequer recebe o conteúdo delas. A legislação prevê apenas que a pesquisa deve ser registrada na Justiça Eleitoral, mas “este registro é de dados formais como quem contratou, quanto pagou, local das sondagens, quantas pessoas foram sondadas, margem de erro, etc”.  

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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