Tentando explicar que através de uma pequena amostra de pessoas é possível quantificar a tendência de voto de todas elas, alguns analistas afirmam que é como numa sopa: experimentando apenas uma colherada dá pra avaliar o tempero de toda a panela.
A comparação é tola, porque há uma grande diferença, no caldeirão de sopa o tempero está homogeneamente distribuído, enquanto os eleitores se espalham de forma desigual em todo o território a ser pesquisado. Mas, sim, é possível saber as preferências deles com algumas poucas “colheradas”, desde que se defina um grupo que represente o total da comunidade escolhida.
Mas, como definir este grupo? Em uma pesquisa para intenção de voto temos que, através dos dados do IBGE e da Justiça Eleitoral, formar uma amostra que represente percentualmente a pluralidade dos indivíduos que convivem no universo de interesse. Assim, se em uma cidade ou país há 48% de mulheres, 5% de idosos, 40% que ganham até dois salários mínimos etc. a amostra deverá representar numericamente este perfil variado.
Feito isto, basta sortear entre estes os que serão entrevistados e em seguida abordá-los pessoalmente ou por telefone. Claro que, mesmo fazendo tudo certo, não é possível chegar a um resultado exato. Por isso toda pesquisa apresenta uma margem de erro e um índice de confiança, que variam conforme o tamanho da amostragem. Quanto maior a amostra, menor a margem de erro.
Então, os Institutos de pesquisas eleitorais são confiáveis? Nem todos, mas podemos nos resguardar dos picaretas selecionando aqueles que tem “quilometragem” e resultados positivos para apresentar. Os “espertos” vão ficando pelo caminho porque, a não ser um ou outro contratante que quer um dado fajuto para convencer eleitores, a maioria busca saber o real destino dos votos do grupo.
Aliás as pesquisas servem muito mais ao político que ao cidadão. É com elas que o candidato calibra seu discurso, adaptando-o ao gênero do eleitor que quer cativar, à condição social, à faixa etária ou ao grau de escolaridade.
Creio que a capacidade de influenciar o voto dos institutos de pesquisa é pequena. Ou alguém acha que um eleitor do Bolsonaro iria votar no Lula, porque este está na frente nas pesquisas?
Na verdade, a reação dos seguidores de um ou de outro político, é sempre taxar de comprada a pesquisa que dá vantagem ao candidato adversário. Foi o caso da acusação dos eleitores do Bolsonaro sobre as pesquisas divulgadas há cerca de 15 dias com resultados desfavoráveis para o presidente.
Esta ideia de compra de resultado não se sustenta. Como é que os institutos, sediados em estados diferentes, concorrentes entre si, se venderiam ao mesmo tempo e para o mesmo cliente? O raciocínio não se mantém, pois quem tem mais dinheiro é a chamada direita (Bolsonaro) e, no caso em questão, os que estão “comprando” os pesquisadores seriam os pobres.
É uma teoria conspiratória infantil: todos os principais institutos (Genial/Quest, Data-Folha, BTG/FSB, Ipespe, Ipec, Poder-Data etc) teriam se vendido à esquerda brasileira, para apontar o Lula como possível vencedor das próximas eleições.
Mas, se as pesquisas começarem a divulgar mudanças na preferência dos eleitores, será a vez dos lulistas alegarem que elas se venderam para a direita.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor