Além de estudos e pesquisas já apontarem os efeitos da poluição nos rios, pescadores também tem mostrado preocupação e mobilizado ações que possam minimizar os impactos ambientais. Assim como Glauco Levy, 40 anos, que leva seus filhos para ações de limpeza da Teoria Verde e Alain Pierre, 37 anos, que também está com uma campanha de arrecadação de óleo doméstico, cujo dinheiro será destinado à compra de alevinos para rios da região.
De uma família tradicionalmente cuiabana, Glauco é um apaixonado pela natureza e pescador há pelo menos 34 anos. Ele compartilha com o Circuito Mato Grosso que só começou a ter uma consciência sobre a importância da preservação da natureza após seus 30 anos de idade.
Após conhecer o trabalho da Teoria Verde e começar a participar há três anos, ele leva para as ações de limpeza os seus filhos. O trio auxilia na retirada de toneladas de lixo dos rios da região cuiabana. “As boas ações você tem que mostrar para ver se consegue recrutar mais pessoas. Infelizmente o ser humano é a única espécie que não se preocupa com a sua própria subsistência”, conta Glauco.
O pescador diz que fica assustado com a quantidade de lixo encontrado na região e preocupado com a qualidade dos peixes. Há nove anos ele pratica a pesca esportiva, mas os peixes já foram fonte de renda durante o desemprego. “O rio sempre me salvou nessas horas”.
Do outro lado, Allain Pierre conta que cresceu na beira do rio, criando um vínculo intenso com o mesmo, é pescador há 30 anos e atualmente também pratica a pesca esportiva.
Ele declara que sente que os rios estão acabando e por isso decidiu criar movimentos em busca da sensibilização das pessoas. “Daqui um tempo não haverá mais nada. Nem água, nem peixe e vai ficar só esgoto. E isso é algo que a própria população faz. Por mais que não tenha políticas públicas o suficiente, as pessoas não mudam”, declara Pierre.
Assim como Glauco, Allain promove e participa de ações de limpeza nos rios. O pescador tem um canal no YouTube onde lança vídeos sobre pesca e alguns deles com dicas. Além disso, ele conta que lançou a #PesqueeLimpe onde cada pessoa deveria tirar uma foto de um lugar sujo, limpar e postar nas redes sociais.
“A ideia é fazer as pessoas recolherem os resíduos e colocar no lugar certo. Eu tenho um caiaque e às vezes ele está cheio de lixo. Algumas pessoas ficam olhando, dão parabéns, mas não fazem mais nada”.
Relatos e ideias de quem vive nos rios
Glauco diz que não consegue compreender como ainda há tanta pesca predatória, excessiva. “Ou para a pesca por um período ou uma hora acaba porque acabou né”.
Ele conta que a pesca esportiva também tem responsabilidade na morte de vários peixes, visto que muitas pessoas não estudam e vão sem preparo. Não é só pescar e soltar. Tem que tomar cuidados com o anzol e onde segura o peixe, por exemplo. Muitos animais morrem após a soltura.
Quanto ao lixo que já encontrou nas ações de limpeza, já viu geladeira, fogão, sofás e ar-condicionado nos rios. “A gente não entende como foi parar lá. São coisas absurdas que já estão chegando ao Pantanal. Um riozinho limpo que é para o pessoal tomar banho, no Coxipó do Ouro, e em uma ação já retirou quatro toneladas de lixo”.
Allain sente muita diferença nos rios com o decorrer dos anos. Ele relata que no Rio Coxipó, na altura em que o esgoto chega no rio, é possível ver os peixes se alimentando daquele conteúdo que fica impregnado na carne.
“As pessoas jogam lixo por ali mesmo tendo lixeiro passando na rua, mesmo tendo contêineres disponíveis".
Outro problema apontado por Allain são as dragas, que são um tipo de embarcação usada para sugar areia dos rios para ser utilizada em construções. Segundo ele, essa atividade faz o rio perder suas corredeiras.
"As corredeiras dos rios funcionam como um filtro do esgoto, e sem elas ele não dilui. “A natureza vai se recompondo. Uma dessas defesas dos rios são as corredeiras”.
Entre as mobilizações que Allain busca incentivar está o projeto “Peixamento”. Nele os próprios pescadores realizam uma cota para comprar e soltar alevinos, peixes recém saídos dos ovos, nos rios da região.
Pensando na poluição e em uma forma de levantar dinheiro para a compra dos alevinos, Allain começou com a ideia da arrecadação de óleo doméstico usado em pontos de coleta.
“A minha meta é que toda dona de casa que joga o óleo na pia, sem nem pensar que está poluindo, possa doar. Quem tem um pouco de consciência ainda junta, coloca em uma garrafa pet, mas joga no lixo. Vai poluir igual. Eu quero que o rio melhore para as próximas gerações”.
Glauco desabafa que a população precisa se conscientizar e dar exemplos. “A gente precisa de educação ambiental dentro das escolas. As crianças são o nosso futuro. A minha expectativa são várias pessoas abraçando os projetos ambientais e que com cauda um fazendo pelo menos a sua parte, eu acredito em um futuro melhor”.
Doação de óleo para compra de alevinos
Atualmente os pontos de coleta são na Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP), localizado no Centro Político Administrativo de Cuiabá, no Bar Cão Latino, localizado na Avenida Edgar Vieira, ao lado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), na peixaria Dourado que fica no São Gonçalo Beira Rio e nas lojas Letícia Pesca na estrada que leva a Santo Antônio e na Damaforte, localizado na Avenida Fernando Corrêa da Costa.
Quem tiver interesse em doar ou em virar ponto de coleta na cidade pode entrar em contato com o Allain no telefone (65) 98111-3429 ou pelo e-mail oleocomunitario@hotmail.com.