A perda de peso sem motivo aparente, como uma dieta ou prática esportiva, podem indicar que há algo errado com o organismo e a causa deve ser investigada, afirma a endocrinologista Danielle Andreoni, do Hospital Israelita Albert Einstein.
As exceções são pessoas que têm facilidade em emagrecer devido a um fator genético – dispõem de um metabolismo aumentado e acabam gastando toda a energia consumida e acumulando pouca gordura no corpo – ou fator ambiental, relacionado à quantidade de massa muscular.
Segundo ela, quanto mais músculos, maior é o gasto de energia, e menor é a taxa de gordura corporal.
Mas nem sempre a perda de peso e a consequente magreza ocorrem dessa maneira. De acordo com Danielle, às vezes essa perda de gordura e até mesmo de massa muscular pode vir de câncer e doenças infecciosas.
Ela explica que, no caso do câncer, a perda de peso se deve ao consumo energético do tumor e também à sua interferência no centro de saciedade, levando a pessoa a perder o apetite e ter deficiências nutricionais.
Danielle alerta que, quando cerca de 10% da massa corporal é perdida, é recomendado que a pessoa procure ajuda médica, de preferência, um clínico-geral ou um endocrinologista, para que a causa seja investigada.
A endocrinologista também afirma que pessoas com baixo peso possuem uma tendência maior à osteoporose e, quando esse emagrecimento provoca uma perda de massa muscular intensa e Índice de Massa Corpórea (IMC) abaixo de 16, o coração é acometido e pode levar a uma morte por parada cardíaca.
O IMC é calculado pela divisão do peso da pessoa pela sua altura elevada ao quadrado. Para ser considerada abaixo do peso, o IMC deve ser menor ou igual a 18,5, ideal, entre 18,5 e 24,9; sobrepeso, de 25 a 29,9, e, obesidade, acima de 30.
Recentemente, a modelo e digital influencer Naiara Almeida, 24, mais conhecida como Nara, morreu devido a um câncer de estômago. Um dos fatores que mais chamou a atenção ao longo de sua batalha contra a doença foi a perda de peso excessiva.
Em seu Instagram, ela chegou a se manifestar sobre os elogios que ganhava sobre seu corpo. “Nas fotos parece que estou super saudável, magra, gostosa. Mas a realidade é que estou muito abaixo do meu peso, me sinto cansada, estou com anemia e vários outros problemas, só eu sei o quanto estou debilitada. Não consigo me alimentar mais, até a água que eu tomo coloco pra fora em questão de minutos, meu estômago não processa nada! Hoje o que me mantém viva é a sonda que faço alimentação via enteral. O preço que tô pagando pra ter esse corpo que vocês consideram dos ‘sonhos’ é muito alto”, desabafou.
Doenças que emagrecem
Danielle afirma que algumas doenças apresentam a perda de peso como um dos sintomas, como diabetes, hipertireoidismo, doenças do intestino, como doença de Crohn, colite e diverticulite, doença celíaca, câncer, AIDS, depressão, anorexia, bulimia e até mesmo o uso de drogas e álcool.
O diabetes é uma doença crônica que resulta no acúmulo de açúcar na corrente sanguínea e, quando descompensado pela falta de produção ou da ação da insulina, o nível de açúcar fica alto no sangue e não consegue entrar na célula para oferecer energia. Assim, o corpo produz mais glicose (açúcar), para tentar fazê-la entrar na célula. Para gerar essa glicose, o corpo consome o tecido gorduroso, e assim, gera a perda de peso, explica Danielle.
No hipertireoidismo, o metabolismo fica mais acelerado por conta da maior produção dos hormônios da tireoide, o que gera perda de gordura e até mesmo de massa muscular. Apesar da perda de peso, o paciente apresenta um aumento em seu apetite, informa a endocrinologista.
Doenças intestinais, como a doença de Crohn, colite e diverticulite resultam na perda de peso pela falta de absorção de nutrientes por parte do intestino. A pessoa pode também ter um aumento na defecação, o que pode machucar a mucosa intestinal, local em que se encontram as enzimas responsáveis pela absorção de nutrientes e degradação do alimento.
Em pacientes da doença celíaca, a perda de peso se dá por conta da falta de absorção de nutrientes e da diarreia porque a gliadina, substância presente no trigo, entra na mucosa intestinal e causa uma inflamação, afetando a mucosa intestinal, não tendo, assim, as enzimas necessárias para absorver tal substância.
Já o câncer ocorre por um crescimento anormal de células, fazendo o metabolismo celular aumentar por conta das atividades metabólicas do tumor, o que gera um gasto de energia, resultando na perda de peso.
A Aids pode emagrecer por vários motivos, entre eles, alterações na tiroide ou na glândula adrenal, responsável pela liberação de hormônios como a adrenalina e o cortisol, esclarece Danielle.
Em casos como a depressão, a pessoa pode perder ou ganhar apetite. Muitas vezes, a pessoa encontra na comida uma forma de consolo, o que faz com que seu apetite aumente. Já na perda de apetite, a pessoa pode não ter forças ou vontade de comer ou cozinhar ou pode também perder o prazer na alimentação, o que gera a perda de peso.
A bulimia provoca o aumento de apetite em alguns surtos. Porém, o sentimento de culpa a faz eliminar o alimento, provocando propositalmente vômitos e diarreia, ou evitando a ingestão de calorias. Já na anorexia nervosa, o paciente passa por um distúrbio de imagem, que faz com que ele se veja em um peso acima do da realidade. Por medo de engordar, a pessoa reduz sua alimentação ou evita se alimentar.
O uso de drogas como o crack e a cocaína inibem o apetite e aumentam o metabolismo, fazendo a pessoa perder peso. O álcool também gera uma baixa ingestão de calorias alimentícias.
Perda de peso está entre primeiros sintomas de câncer
O diretor de cirurgia abdominal e oncologista do Hospital A.C. Camargo, Felipe Coimbra, explica como o câncer age na perda de peso. Ele revela que um dos principais sintomas do câncer é o emagrecimento sem causa aparente e está relacionado principalmente a tumores no aparelho digestivo (esôfago, estômago, pâncreas, fígado e intestino). Outros cânceres que também podem apresentar esse sintoma são o de pulmão e o de rins.
Segundo Coimbra, estima-se que cerca de 80% dos pacientes de câncer do aparelho digestivo vão desencadear como um dos primeiros sintomas uma perda de peso significativa. Já pacientes de câncer de pulmão são cerca de 60% relatando esse como um dos primeiros sintomas.
Tumores de boca e de garganta também apresentam emagrecimento por conta da dificuldade e dores ao se alimentar. Outro fator se dá pelas toxinas liberadas pelo tumor, que podem gerar essa perda.
Os tratamentos de câncer também podem gerar um emagrecimento. Procedimentos como a cirurgia podem modificar o funcionamento do aparelho digestivo, fazendo o paciente necessitar de uma “reabilitação” alimentar. Tratamentos como quimioterapia e radioterapia podem gerar a perda de apetite, fadiga e fraqueza, sendo estes, sintomas das próprias drogas utilizadas.