Perdi a lua mas continuo na sua, cara cronista voluntariamente encastelada, quer dizer, enclausurada do outro lado do túnel em terras cariocas.
É que o tempo anda tão sem tempo quanto nós, ou melhor, vocês pobres mortais. (Se não o sou, ajo como tal e já incorporei o “physique du rôle”). Não fossem por certas peculiaridades que tão bem conhecemos, como poder visita-la num raio de lua, poderia facilmente passar por mais um perdido nesse baile da vida.
São tantas informações e acontecimentos que é impossível um registro ordenado e sistemático dos eventos. Imagine se ainda dá tempo para qualquer tipo de análise – por mais rasteira e superficial que seja – de suas causas e consequências.
Nem o supercérebro de minha nave espacial está dando contado recado. Especialmente agora que incorporou certos parâmetros terráqueos inexistentes em seu sistema original. Coisas como “dá um tempo”, “volto já” e “senha esgotada”. Quando a trucagem não é mais direta e objetiva com o emblemático “estamos atualizando os nossos sistemas”. Não tenho nem como argumentar, querida amiga. Lembre-se que não vim para esse mundo a passeio, mas com uma missão que, agora, sei impossível.
Principalmente por seu tempo (olha ele aí) indeterminado de duração. Culpa daquela circunstância imprevisível de não conseguir partir desse mundo para outros melhores. Graças a incapacidade da nave mãe de ultrapassar a camada de poluição que recobre a atmosfera local. E só piora. Arde o cerrado na Chapada dos Veadeiros, Mato Grosso é megacampeão de queimadas na Amazônia no mês de setembro!
Situação: todo (eu disse todo) o sistema de armazenamento está em colapso. Esgotamento total. É muita informação. Não param de chegar. Com um detalhe: juntando o que dá, a conclusão é catastrófica.
Mal comparando, sabe aqueles dias nublados e sem graça que por falta de estímulo físico, financeiro e mental, o destino óbvio é a praia? Imagine no final da tarde quando banhistas voltam para a casa tonalizados. Falo de matizes variadas, nas cores das cascas de camarões e lagostas. De rosa bebê ao pink punk. Com aquele bronzeado que será lembrado por dias seguidos a cada virada noturna, abraço ou tapinha nas costas.
Essa é uma imagem alegórica, reparou? (Me orgulho dessa capacidade de metaforicamente explicar uma situação. Aprendi e desenvolvi aqui entre os humanos). Só assim para entender que um dia como esse que parece um pouco triste e modorrento possa encobrir um mormaço torturante, como a vida aqui fora.
Enquanto assistimos cenas de violência explícita nas ruas; de escárnio, desrespeito e deboche nas mais altas “câmaras” governamentais; de intolerância e incompreensão entre iguais que querem para si direitos excepcionais e privilégios, mas não se unem para reivindicar o básico, tentamos (estou na vibe por me sentir 100% humano nesse roldão de eventos desgovernados) procurar bons motivos e melhores razões para seguir em frente.
“Pega leve e abstrai”, me aconselha o cérebro da nave mãe. A mim, o viajante que não acredita no que vive e vê…
O problema é que somente quando saímos (o que é cada vez mais difícil) do centro desse turbilhão conseguimos ter uma visão mais abrangente do mal que está sendo feito a corpos, mentes e, o que é pior, ao planeta em que habitamos (me incluo nessa evidentemente e involuntariamente). E não temos ideia do que será o “aloe vera” ou Caladril (santos remédios que diminuem os sintomas do excesso de calor acumulado no mormaço) que aliviará nossas dores e acalmará nossos pensamentos.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa matéria faz parte da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com