O conselheiro de Contas aposentado Antônio Joaquim lançou sua pré-candidatura ao governo de Mato Grosso com a propaganda de que tentará ocupar espaço político que está aberto desde o governo Blairo Maggi (2002-2010). Com duras críticas à gestão de Pedro Taques (PSDB), ele afirma que além de um “governo fracassado” na administração, com crises na saúde e educação, Taques não conseguiu criar um grupo político homogêneo que conseguisse representar postura estadista.
“O Taques vai sair menor do que ele entrou. Não tem perfil e nem competência para criar um grupo político hegemônico que representasse políticas estadistas, ele pensa ideias para o governo e não para o Estado”.
A proposta do PTB, partido ao qual se filiou já com a presidência do Diretório estadual nas mãos, diz ele, é criar para as eleições de 2018 um grupo de 12 a 15 siglas para agregar ideias de soluções para áreas da saúde, educação e segurança pública. O espectro cobre, em tese, uma gama de partidos grandes e outros nanicos que para Antônio Joaquim terão a oportunidade de fazer oposição um governo fraco.
“É verdade que o Taques não tem oposição hoje, mas também tem uma forte rejeição e um índice muito baixo de intenção de votos. Não digo que ganharia as eleições sem grande concorrência, mas realmente ele não tem adversários na oposição. Meu desejo é criar esse grupo forte de oposição, que pode concorrer com propriedade nas eleições de 2018 se conseguirmos nos organizar. O Taques vai ter adversário no ano que vem”.
PP, PR, PDT, PMDB são cogitados na aliança com PTB, num cenário que ainda está longe da definição. Republicanos e peemedebistas trabalham o lançamento de candidaturas próprias a cargos majoritários. No primeiro grupo, o senador Wellington Fagundes aparece como o potencial candidato; e Carlos Bezerra é provável representante do PMDB, partido ao qual Antônio Joaquim era próximo até as eleições municipais de 2016 e no qual chegou a cogitar lançar sua ao Palácio Paiaguás.
“Eu sei que nomes melhores que o meu podem surgir até as eleições [a partir de julho de 2018]. Em novembro vou iniciar minha pré-candidatura para, até maio, conseguir dar visibilidade ao meu nome e para conseguir agrupar partidos de construção de grupo coeso, para ocupar um espaço vazio que existe na política de Mato Grosso”.
Outro percalço que deverá ser enfrentado por Antônio Joaquim será a fragilidade atual dos partidos que pretender reunir ao seu redor. Além dele próprio implicado na delação premiada do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), líderes dos partidos maiores são investigados pela polícia como suspeitos de crimes.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), aparece em investigação do Tribunal de Justiça de Mato Grosso em suposto caso de compra de cadeira no Tribunal de Contas do Estado (TCE), no STF (Supremo Tribunal Federal) em caso de suposta negociação de propina por meio precatórios.
Carlos Bezerra, também citado na delação de Silval Barbosa à Procuradoria Geral da República (PGR), tem nome listado em pagamento de caixa 2 pelo grupo JBS, nas eleições de 2014, ano em que concorreu à reeleição a deputado federal e teve ajuda de R$ 500 mil do JBS.
Antônio Joaquim, que se deu início ao processo de aposentadoria do TCE, atualmente está afastado do cargo por determinação do STF. Ele outros membros titulares do tribunal são investigados em denúncia de pagamento de R$ 50 milhões para apoiar gestão de Silval Barbosa (2010-2014).
“Os 17 anos que fiquei longe da política me vacinaram contra a velha política. Mas se deve ressaltar que não são partidos que estão sendo investigados, são membros do partido que falharam. Além disso, a certeza da minha inocência que já estou anunciando minha pré-candidatura. Não acredito que serei sequer denunciado, pois não tem materialidade as denúncias feitas contra mim”.
‘O governo fracassado’
O conselheiro Antônio Joaquim afirma que o fracasso de gestão do governador Pedro Taques aparece nas crises na saúde, com atraso em repasses de recurso para as prefeituras, o caso de corrupção na Seduc (Secretaria de Educação), e na polêmica dos grampos telefônicos.
“Nunca antes em Mato Grosso se atrasou o repasse do ICMS, e agora as prefeituras estão cobrando o repasse do Estado. A saúde está caótica e o governo não consegue resolver. Ao contrário, fica em crise infindável e inútil com promotor de Justiça, com desembargador. E o mesmo governo que não consegue repassar R$ 2 milhões para hospitais, gastou R$ 70 milhões com fretamento de jatinho, de janeiro e a julho deste ano.”
Segundo a SES (Secretaria de Saúde), os serviços da área de saúde tem custo mensal de R$ 60 milhões, dos quais três meses estão atrasados, o que gera dívida de aproximadamente R$ 200 milhões com as prefeituras. A previsão que o ano de 2017 se encerre com essa falha nas contas do Estado.
A crise na Secretaria de Educação teve início em julho de 2016, quando Permínio Pinto (PSDB) foi preso em operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado), poucos dias após ser demitido do cargo de secretário. Ele é apontado pelo Ministério Público Estadual (MPE) como líder de grupo de empresários e empreiteiros que teriam fraudado licitações públicas de 23 obras, com desvio de R$ 56 milhões.
“A crise foi tamanha que o próprio Alan Malouf [empresário investigado pelo Gaeco] chegou a dizer que estava no esquema para recuperar R$ 12 milhões investidos em campanha [de 2014].”
Quanto à crise dos grampos telefônicos, Antônio Joaquim afirma “ser claro” que as operações de “barriga de aluguel”, coordenadas pela Polícia Militar, foram lideradas pelo Executivo.
“Está claro que os grampos foram liderados pelo governo. O governo diz que não, mas vemos que ele mostra preocupação. O pior que é que o caso é um atentado contra a democracia. Exceto o período da ditadura militar, não existe nenhum outro caso no Brasil de escuta de adversários políticos.”
A denúncia de grampos telefônicos, que teria começado em operação de barriga de aluguel a partir de 2014, abriu crise na gestão de Pedro Taques e levou para a prisão um ex-secretário e quatro secretários, hoje exonerados.