O Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) ofereceu denúncia contra o pedreiro Gilberto Rodrigues dos Anjos por quatro homicídios qualificados e três estupros, tendo como vítimas mãe e filhas. Os crimes foram cometidos entre a noite do dia 24 e a madrugada do dia 25 de novembro, na residência das vítimas, no município de Sorriso (420 km de Cuiabá).
Além da qualificadora de feminicídio, por terem sido os crimes praticados com menosprezo e discriminação à condição de mulher, o órgão entendeu que os quatro homicídios também foram cometidos de forma cruel, com a utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima, para assegurar a execução e garantir a impunidade de outro crime, e dois crimes, contra menor de 14 anos de idade.
O Ministério Público também imputou uma causa de aumento de pena, pois os crimes foram praticados na presença física de ascendente e descendente das vítimas. Três delas foram atingidas com golpes de faca e uma foi morta asfixiada.
A denúncia foi assinada pelo promotor de Justiça Luiz Fernando Rossi Pipino.
Crime brutal
A mulher e as filhas foram encontradas mortas, com diversos ferimentos no corpo, dentro da casa da família na manhã de 27 de novembro, no bairro Florais da Mata, em Sorriso.
Responsável pela investigação, o delegado Bruno França Ferreira, da Divisão de Homicídios da unidade policial de Sorriso, classificou a cena como brutal, cenário que marcará a vida de todos os policiais e peritos envolvidos na apuração do crime que chocou a cidade.
Gilberto Rodrigues foi preso em flagrante na mesma manhã em que foram encontrados os corpos das vítimas. Ele trabalhava em uma obra próxima à residência da família Cardoso e observou as vítimas antes de cometer os crimes. Ele invadiu a casa na sexta-feira à noite, 24 de novembro, e quando foi confrontado pela mãe, que tentou defender a família, matou Cleci e depois as três filhas dela, cometendo em seguida o estupro contra três, das quatro vítimas. Com o criminoso, a Polícia Civil encontrou uma peça íntima de uma das vítimas.
Diante da comoção na cidade, a Polícia Civil requisitou a transferência do criminoso para a penitenciária de Sinop. Depois, o juízo da comarca determinou que ele fosse transferido para a Penitenciária Central do Estado, em Cuiabá.
O lado pericial de confronto genético realizado pela Politec-MT apontou positivo para o DNA do criminoso em uma das vítimas que sofreu o estupro, a menina de 12 anos. Os demais laudos periciais ainda estão em fase de conclusão pela perícia oficial.
Diligências
Preocupado por não ter notícias da família, o pai e marido das vítimas entrou em contato com a PM em Sorriso e informou que estava em viagem a trabalho e não conseguia falar com a mulher e as filhas. Ele relatou ainda que ao telefonar para a escola das filhas foi informado da ausência delas, o que o deixou aflito e solicitou a assistência policial.
Uma equipe da PM foi à casa da família e viu o veículo na garagem e a agitação dos cachorros no quintal. Após chamar pelas moradoras, os policiais entraram no quintal e viram pela porta de vidro duas pessoas caídas no chão, aparentemente sem vida. O Corpo de Bombeiros deu apoio e fez inspeção na casa e identificou uma janela aberta, por onde um militar entrou e depois abriu a porta da casa, quando as equipes constaram que havia quatro vítimas mortas.
A Divisão de Homicídios da Delegacia de Sorriso assumiu a investigação e após a coleta inicial de informações, acompanhou o exame pericial conduzido pela Politec. Foi apurado que o autor do crime entrou na residência pela janela do banheiro, iniciando em sequência o ataque às vítimas. Os peritos identificaram ainda impressões de sola de chinelo nas manchas de sangue no piso da residência.
A equipe da Polícia Civil seguiu com as diligências e em duas obras em construção, onde vários homens trabalham, foram realizados levantamentos de informações. Entre os cinco trabalhadores do local, um deles dormia na obra, identificado como Gilberto Rodrigues dos Anjos. Ao ser entrevistado pelos policiais, ele ficou nervoso e alegou não ter ouvido qualquer barulho na casa das vítimas durante o final de semana. Questionado sobre onde descansava, ele apontou o local, no piso superior da obra, que dava uma visão para a casa das vítimas, e como documento apresentou apenas a cópia da identidade.
Ao vistoriar os pertences do suspeito, ele disse não ter calçados, mas os policiais civis encontraram um chinelo compatível com as marcas deixadas no piso da residência da família e foi confirmado se tratar do mesmo calçado.
Durante checagem dos dados pessoais, os policiais apuraram que contra Gilberto havia dois mandados de prisão em aberto, um pela Comarca de Lucas do Rio Verde por crime sexual, e outro pela Comarca de Mineiros, em Goiás, pelo crime de latrocínio.
Confrontado com as informações, ele confessou que atacou as quatro vítimas na noite de 24 de novembro. Depois de esfaquear três vítimas e, quando elas ainda agonizavam, ele cometeu abuso sexual contra a mãe e duas filhas. Já a menor de 10 anos morreu asfixiada.
Mortes brutais
Conduzido à delegacia e ouvido em interrogatório, ele admitiu a autoria do crime e alegou que após usar entorpecentes invadiu a residência das vítimas, pela janela do banheiro, com a intenção de roubar. Porém, ao ser surpreendido por uma das vítimas, Cleci Cardoso, ambos entraram em confronto ele pegou uma faca e atacou a mãe. Neste momento, uma das filhas, Miliane, saiu do quarto para socorrer a mãe e também foi atacada. Na sequência, ele confessou que assassinou as outras duas vítimas.
“Considerando o idêntico histórico de crime sexual do indiciado, bem como o fato de que absolutamente nenhum objeto de valor fora levado da casa, as afirmações dele em interrogatório não condizem com o que foi apurado. Ademais, o único objeto retirado da casa foi uma peça íntima da menor de doze anos”, atestou o delegado Bruno França.
Depois de matar a família, ele contou que saiu da casa pela mesma janela por onde entrou e voltou para a obra, onde retirou as roupas sujas de sangue e guardou em um contêiner. A Polícia Civil localizou as roupas e encaminhou para a perícia. Na sacola também havia uma peça de roupa íntima de uma das vítimas.
Outros crimes
Em setembro deste ano, em Lucas do Rio Verde, o criminoso invadiu uma residência e cometeu abuso sexual contra uma vítima, que estava dormindo. Após o crime sexual, ele ainda tentou matar a vítima que conseguiu reagir, mas foi ferida com uma facada no pescoço. Outra vítima que também estava na casa tentou intervir e foi atingida por um soco no rosto pelo suspeito, causando lesões no olho direito. Após os crimes, o criminoso fugiu em uma bicicleta.