O sonho de voltar para a cidade natal foi adiado pela enxurrada que levou todo o dinheiro que o homem guardava para retornar para Pesqueira, em Pernambuco. Passados 10 dias, o homem continua procurando uma sacola com R$ 2.700 em meio aos escombros.
A economia conquistada após meses de trabalho desapareceu, assim como casas e móveis de centenas de pessoas que foram vítimas da tempestade que castigou, principalmente, os moradores dos bairros Pilões e Água Fria, localizados ao lado do rio Pilões, que transbordou devido à chuva.
José Damião é morador do bairro Água Fria. Ele conta que a água invadiu a própria casa destruindo tudo. “Eu guardava o meu dinheiro, R$ 2.700, em uma sacola dentro de uma cômoda, mas a água cobriu esse móvel, tudo boiou. Eu cheguei a encontrar papéis meus até no quintal de casa, mas o saco com o dinheiro eu não achei”, lamenta o pedreiro.
Ele conta que juntou esse dinheiro trabalhando por meses como pedreiro. O objetivo era voltar para Pernambuco em junho deste ano. “Queria voltar para o São João. Lá tenho amigos e famílias. Com um pouco de dinheiro eu consigo erguer um barraco para morar. Era para isso que eu guardava dinheiro. Agora não tenho nem dinheiro para a passagem”, afirma José.
O pedreiro, que tem ex-mulher e filhos em Cubatão, afirma não querer mais morar no município, porque na cidade ele não tem uma casa própria. “Quando me separei minha ex-mulher ficou com o pouco que eu tinha. Meus filhos não podem me ajudar porque também perderam tudo com a enchente. Troquei uma casa em São Paulo por esse terreno na Água Fria, mas não sabia que era uma área invadida”, diz.
José Damião não perdeu apenas o dinheiro. Ele tinha mercadorias que levaria para vender em Pesqueira. “Eu tinha sacos de roupas para vender, mas a lama estragou tudo. Cheguei a lavar as roupas três vezes, mas não tem mais jeito, ficaram manchadas”, conta. Aos prantos, o pedreiro relata os momentos de desespero que viveu. “Fiquei procurando tudo que perdi em torno da casa. Até caí na água e perdi a minha dentadura”, lamenta.
Ele conta que chegou a receber um apoio da prefeitura de Pesqueira, que se comoveu com a história. “Ficaram de me ajudar com a passagem pelo menos, mas até agora não recebi nada. Fui até a assistência social de Cubatão também. Não sei como ainda, mas vou voltar para Pesqueira de qualquer jeito. Tenho fé que vou voltar se Deus quiser”, diz.
O homem, que sempre guardou o dinheiro em casa, diz que nunca teve uma conta no banco, mas que agora está tentando abrir uma para receber um auxílio. “Nunca tive conta no banco, porque o que eu ganho é para ajudar a família e me manter. Agora estou tentando abrir uma conta pela primeira vez na vida, mas não consigo porque não tenho comprovante de residência”, afirma.
José Damião vai continuar tentando abrir uma conta no banco, utilizando outros documentos pessoais. Enquanto isso, ele segue vivendo com a ex-mulher e os filhos até que a situação melhore. Apesar de tudo, ele mantém ainda a esperança de passar o São João com os amigos em Pesqueira.
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FONTE: PrimeiraHora | G1