Mais de 150 milhões de hectares, o equivalente a 20% do território nacional, é ocupado com pastagem, segundo dados de 2014 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O estado de Mato Grosso é o que possui maior rebanho bovino do País, de acordo com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
Entretanto, ainda há muito a ser feito no que diz respeito à pegada hídrica, manejo nutricional, pontos de abate, qualidade da produção da carne, dentre outros. De olho nesse cenário, o III Simpósio de Bovinocultura de Corte (Simbov), realizado na UFMT, levou acadêmicos, pecuaristas e técnicos do mercado a discutirem a atual situação da pecuária no Estado.
“A meta do evento é trazer o pecuarista para dentro da academia, para que a gente possa ter uma interação mais ativa e frequente. Podendo também ter uma sintonia mais fina com eles em relação ao atendimento do perfil do profissional e em termos de tecnologia”, salientou o pró-reitor de Pesquisa da UFMT e coordenador do evento, Joanis Zervoudakis.
Com palestras de temáticas atualizadas e vivenciadas na cadeia produtiva, uma das principais discussões girou em torno da questão ambiental. A pegada hídrica é um dos principais gargalos apontados pelo grupo.
“O alto consumo de água para os sistemas de produção agrícola e da pecuária como um todo foi explorado. Ou seja, devido ao volume de água que é gasto no consumo de produção, há necessidade de a gente ter uma utilização mais sustentável desse recurso finito”, conta o coordenador do evento.
O uso de ferramentas para maximização no ganho em carcaça foi um tema altamente abordado. Um desses métodos é a utilização de aparelho de ultrassom no gado, visando mapear sua carcaça para saber quais unidades devem se multiplicar para uma maior produção e qualidade do corte. Há apenas 20 profissionais qualificados no País para realizar esse trabalho, segundo dados apontados no encontro.
Para a palestrante, especialista em ultrassonografia de carcaça bovina, Liliane Suguisawa, Mato Grosso é o estado brasileiro que mais tem potencial para produção de carnes de alto padrão, chamadas “carnes de grife ou de boutique”.
“A produção de carne de valor agregada é pouco usada aqui no Estado. A comida para o gado é barata aqui [Mato Grosso], e as condição climática são favoráveis. Mas ainda não chegou a informação de como fazer”, explica Suguisawa.
Um levantamento feito pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária [Imea], com auxílio da Secretaria de Comércio Exterior [Secex], aponta que no primeiro semestre de 2015 Mato Grosso é o estado que esteve entre os três melhores resultados do período em volume de exportação de carne bovina dos últimos 20 anos.
Apesar das condições favoráveis, para Suguisawa a qualidade da carne produzida no Brasil é de baixo nível e utiliza gado velho. Ela explica que a idade para o abate de um animal, visando uma carne macia e adequada para o consumidor final, é dois anos. No Brasil o abate costuma ser realizado com quatro anos.
“Precisamos começar abater animais jovens, com bom acabamento, para oferecer uma carne mais macia ao consumidor, como é esperado e acontece no resto do mundo. Isso só será realizado quando a informação chegar ao produtor. Há muita informação, mas ela não está chegando para a ação. E eu acredito que seja por falta de profissionais no mercado”, revela.
Confira detalhes da reportagem do Jornal Circuito Mato Grosso