O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) Orlando Perri afirma, ao justificar o pedido de prisão preventiva do ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques, que ele foi o principal elo com o escritório de inteligência da Polícia Militar para a realização de escutas clandestina de sua ex-amante Tatiane Sangalli Padilha e também dos advogados José Antônio Rosa e José Patrocínio de Brito Júnior.
Perri lembra que estes dois advogados trabalharam na eleição estadual de 2014, quando José Antônio Rosa era advogado da então candidata Janete Riva, e José Patrocínio, de Lúdio Cabral.
Lúdio Cabral e Janete Riva eram os principais adversários do atual Governador do Estado, Pedro Taques (PSDB), que, por sua vez, era patrocinado pelo escritório de Paulo Taques.
“Ora, coincidentemente, ou não, o único advogado – dos principais candidatos ao Governo do Estado – que trabalhou na campanha eleitoral de 2014 e que não foi interceptado, foi, justamente, Paulo Taques, razão pela qual é fácil concluir indícios de sua ligação com o grupo criminoso instalado para realização de grampos ilegais”, narra o desembargador.
Diante dos fatos apurados, Perri vê alta probabilidade da existência de uma organização criminosa que operacionalizou o simulado Núcleo de Inteligência da Polícia Militar para o cometimento de crimes.
Ele reforça sua tese pelo fato de Paulo Taques integrar essa organização também pelos fortes laços com os coronéis Zaqueu Barbosa e Airton Siqueira, ambos citados no caso dos grampos, sendo que o primeira foi preso por conta do escândalo.
Prisão
Paulo Taques teve uma ordem de prisão decretada nesta sexta-feira (4). Ele foi detido em sua casa, localizada no condomînio Florais dos Lagos em Cuiabá-MT, onde foi encaminhado até a 11ª Vara Criminal de Cuiabá no Fórum da Capital para a realização da audiência de custódia e levado para o Centro de Custódia da Capital.
Apontado como o mentor das escutas ilegais, o ex-secretário é acusado de ter ordenado policiais militares a fazerem escutas telefônicas de pessoas que não cometeram nenhum tipo de crime.
Entenda o caso
A existência de suposta central clandestina de grampos telefônicos em Mato Grosso veio à tona no 11 de maio, quando o governo do Estado anunciou a exoneração do ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques. Sua saída foi anunciada como um acordo entre Paulo e seu primo, o governador Pedro Taques, para que o homem forte do Executivo deixasse o Palácio Paiaguás e cuidasse pessoalmente das investigações envolvendo a suposta “arapongagem”.
No dia 23 de maio, o juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal Especializada em Crimes Militares de Cuiabá, determinou a prisão preventiva do ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, que teria atuado não só como mandante, mas como o responsável por manter contato pessoal com magistrados para viabilizar a quebra de sigilo telefônico ilegal em Mato Grosso.
O cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Golveia Junior – integrante do Núcleo de Inteligência da PM e teria assinado alguns pedidos de grampos à Justiça -, também foi preso.
O caso até então investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), após denúncia do ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, apontou que membros da Polícia Militar aproveitaram uma investigação relacionada ao tráfico de drogas na região de Cáceres (177 km de Cuiabá), para inserir números telefônicos de políticos adversários ao governo, médicos, advogados, jornalistas, servidores públicos e até desembargador aposentado de Mato Grosso, em um pedido de quebra de sigilo.
O requerimento para as interceptações teria sido encaminhado ao MPE, que por sua vez formalizou a solicitação à Justiça estadual. A autorização teria partido do juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, que não teria tido conhecimento de que nem todos os números relacionados pela PM estavam relacionados com o crime tratado no processo.
As escutas ilegais teriam começado no período das eleições de 2014, quando Silval Barbosa (PMDB) ainda era governador e Taques disputava as eleições. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas.
Segundo a denúncia, o esquema de escuta teria o envolvimento direto de pelo menos três policiais militares: os cabos Gerson Luiz Ferreira e Clayton Dorileo Rosa de Barros, e a sargento Andrea Pereira de Moura Cardoso.
Até o momento, o que se sabe é que os contatos supostamente inseridos de forma criminosa foram: a deputada Janaina Riva (PMDB); o advogado eleitoral José do Patrocínio; o jornalista José Marcondes dos Santos “Muvuca”; o atual secretário municipal de Trabalho e Desenvolvimento Humano de Cuiabá, Vinicius Hugueney (PP); o assessor do deputado Wagner Ramos (PR) Eduardo Gomes Silva Filho; o assessor especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) Romeu Rodrigues da Silva; a jornalista Larissa Malheiros Batista; Kely Arcanjo Ribeiro Zen, filha do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro; os servidores da Assembleia Legislativa Mario Edmundo Costa Marques e Carlinhos Bergamasco (já falecido); o desembargador aposentado José Ferreira Leite; e a gerente de Inteligência e Contra-Inteligência da Casa Militar, Claudia Rodrigues de Gusmão.
A lista de grampeados é composta, até mesmo, por uma empresária que teria tido um relacionamento amoroso com o ex-secretário-chefe da Casa Civil Paulo Taques, Tatiane Sangalli.
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