Na primeira aparição pública após ser apontado pela Polícia Civil do Espírito Santo como responsável por estuprar, espancar e atear fogo no filho Joaquim Alves Salles, de 3 anos, e no enteado Kauã Salles Butkovsy, de 6 anos, o pastor George Alves revelou que foi abusado sexualmente quando criança. O depoimento aconteceu em audiência da CPI dos Maus-Tratos, presidida pelo senador Magno Malta (PR).
Preso desde o dia 28 de abril, o pastor George foi levado da cadeia até a sede do Ministério Público Estadual, em Vitória, onde ocorreu a audência da CPI. Interrogado pelo senador Magno Malta, o pastor disse que foi abusado na infância, sem dar detalhes, e afirmou que não guarda trauma.
– Mas não tenho traumas no presente – limitou-se a dizer o pastor.
O pastor contou que não conheceu a mãe, foi criado pelos avós e pelos tios. Ele também confirmou que já usou drogas e no passado também fez uso de entorpecentes. Quando foi questionado sobre o laudo da perícia policial que diz ter encontrado PSA (substância presente no sêmen humano) no ânus do filho e do enteado, o pastor afirmou que é tudo mentira.
– Eu não bati nos meus filhos, eu não estuprei eles, eu não coloquei fogo neles. Eu não fiz isso. Eu não estou mentindo – declarou.
Em outros momentos, com choro contido, ele voltou a afirmar:
– Eu não fiz isso, eu não fiz isso. Eu não fiz nada.
George afirmou que seu único arrependimento foi não ter demonstrado o sentimento de dor que teve pela morte das crianças. A declaração foi dada logo após a exibição de um vídeo em que ele e a esposa, a também pastora Juliana Salles, aparecem numa lanchonete, à noite, horas depois da morte das crianças.
– Errei ficando quieto, mas choro até hoje – desabafou.
A estratégia do senador Magno Malta para obter o depoimento do pastor foi usar citações bíblicas. O pastor contou que veio para o Espírito Santo trabalhar como cabeleireiro. Depois se casou com a pastora em Linhares onde teve um encontro com Deus e abriu a Igreja Batista Vida e Paz.
De acordo com as investigações da polícia, os dois irmãos morreram carbonizados num incêndio provocado pelo pastor, no quarto onde estavam, na cidade de Linhares. As cenas de horror começaram com o pastor abusando sexualmente das crianças. Substância existentes do sêmen humano foram encontradas na cavidade anal dos dois meninos. As investigação revelaram, ainda, que após o abuso, o pastor espancou os meninos até que ficassem desacordados. Em seguida, levou ambos para o quarto e ateou fogo com o objetivo de ocultar o abuso sexual.
Segundo a polícia, o pastor ainda tentou se promover diante da tragédia nas entrevistas que concedeu à imprensa. Numa delas, afirmou que "fez o que pode" para salvar as crianças, inclusive se queimando, mas um exame de corpo de delito encontrou apenas uma pequena bolha, do tamanho de uma moeda, num de seus pés.
A polícia vai indiciar George Alves por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro de vulneráveis. A soma das penas pode chegar a 126 anos de prisão.
No dia do crime a mãe das crianças, a também pastora Juliana Salles, estava viajando para Belo Horizonte onde participou de um congresso. A polícia chegou a apreender o celular dela durante as investigações, mas garantiu que nada foi encontrado e descartou a possibilidade de envolvimento dela com a tragédia.