O policial rodoviário José Medeiros (PODE) estreou na vida política quase de gaiato, como membro na chapa ao Senado puxada pelo ex-procurador da República, Pedro Taques (PSDB). O grupo foi eleito, mas não havia expectativa dele de assumir o cargo. O cenário mudou com a eleição de Taques ao governo de Mato Grosso, em 2014. Exerceu metade dos oito anos de mandato e o encerrou com a polêmica da cassação, fato que ele mesmo diz ao Circuito Mato Grosso ter alquebrado a perspectiva de eleição à Câmara dos Deputados. Conseguiu mais de 80 mil votos na eleição de outubro passado, e um mês mais tarde acompanhava a apuração do segundo turno à Presidência da casa do candidato Jair Bolsonaro (PSL). Medeiros diz que a proximidade com presidente, de quem é vice-líder, vem dos anos de senador em que ambos eram outsiders da agenda extraoficial de Brasília – jantares, festas e articulações. Hoje, ele concorda que já apareceu, em nove meses na Câmara, mas do que nos quatro anos no Senado. Se diz fiel escudeiro de Bolsonaro, não se preocupar com as declarações polêmicas do presidente e seguir também a linha de “devolver na mesma moeda” as críticas – posição que tem o colocado no centro das polêmicas do governo Bolsonaro com simpatizantes e agentes políticos da esquerda – PT, PSOL -, principalmente nas redes sociais, onde uma pesquisa do Congresso diz ser o parlamentar de Mato Grosso mais influente. A receita seria não rebuscar.
No segundo semestre de 2018 o senhor saiu da posição de senador cassado para a de deputado eleito próximo ao candidato do momento à Presidência. Houve também mudança de opinião pública sobre o senhor?
Foi um processo muito duro. É duro quando você se envolve numa história que não lhe diz respeito, mas as pessoas ficam na dúvida. Confesso que considerei a minha eleição para deputado federal uma surpresa. Pra mim, as pessoas compreenderam a manobra que houve e me deram voto de confiança, então fiquei muito contente. Eu nem saí de casa na campanha, estava tão convicto que aquele processo de cassação tinha me arrebentado, que eu acabei nem viajando. Fiquei em casa. Aí, quando veio a votação eu até brinquei com minha esposa, na apuração, quando chegou a 80 mil votos, eu falei pra ela: essas urnas estão fraudadas mesmo (tinha aquele papo de urnas fraudadas), porque estão roubando pra gente. Pra mim que sou cristão, o que aconteceu foi um milagre.
Por que um milagre?
De mim mesmo, eu já não tinha mais força para lidar com aquilo, porque não adiantava você negar. Eu falava: Olha, eu não registrei ata, não tenho nada a ver com isso daí, mas não tinha jeito. Só falavam em diabo de ata, as pessoas só falavam que fui cassado. Daí, veio os 82.138 votos.
Sua proximidade ao candidato Jair Bolsonaro aconteceu, visualmente, no segundo turno. O que levou a ela?
No primeiro turno, ele estava esfaqueado e eu estava cuidando muito da minha campanha. Mas, o Magno [Malta, ex-senador pelo extinto PR] me ligou e falou: Olha, meu irmão, nós vamos ter que fazer a campanha do Bolsonaro porque ele está no hospital, vamos precisar da ajuda de todo mundo. Eu falei que o eu podia fazer é organizar algumas carreatas, porque a gente não precisa falar dele, o nome dele fala por si só. Organizei alguns movimentos, o Magno veio a Rondonópolis, depois em Cuiabá, acho que foi a maior carreata que teve aqui a que fizemos. Mas, lógico que no segundo turno a proximidade foi maior porque ela já tinha saído do hospital e estava com maior disponibilidade, toda semana a gente ia à casa dele pra gente fazer o feedback. A gente já se conhecia no parlamento… porque é assim: no Senado tem duas agendas, a oficial e extraoficial, que é a dos jantares, e o Bolsonaro não era dessa agenda, como eu também não era, a gente acaba se reunindo num restaurante lá, às vezes, eu, ele o Magno. Foi isso o que aconteceu. Fui de cassado a achado (risos).
Te surpreendeu a exposição? Porque o senhor já apareceu, nestes nove meses de deputado federal, mais do que em todo seu mandato de senador.
Isso é verdade. Talvez porque a vice-liderança da Câmara dos Deputados ela é mais intensa e pela minha proximidade com o presidente, talvez tenha sido por isso. No Senado, não. Eu era oposição ao governo, era um conflito muito, o governo dominava boa parte da mídia, era uma outra coisa. Nesta legislatura também foi uma renovação muito grande, e naquela legislatura [no Senado] era eu ao lado de pessoas como Magno Malta, Aécio Neves (PSDB), Tasso Jereissati (PSDB), só caras de ponta. Nesta legislatura houve uma renovação tão grande que boa das pessoas que chegaram, chegaram me considerando um veterano. Eu até estranhei. Aconteceu que acabo sendo chamado para pautas que outrora não era chamado. As coisas têm acontecido e eu confesso que não tenho pensado como elas têm acontecido. Tive a gratificação de já ter duas leis aprovadas, num seleto de grupo de parlamentares, a grande maioria passa pelo Legislativo e não consegue aprovar uma lei, porque não uma coisa fácil.
Isso significa que o senhor tem boa relação com o presidente da Câmara?
Hoje, em tenho uma relação muito boa com o Rodrigo Maia (DEM), o Davi [Alcolumbre (DEM), presidente do Senado] é quase um irmão. Eu tivesse a oportunidade de ajudar ele na formatação de estratégia de sua campanha. Mas, nem o parlamentar consegue ter essa proximidade com os presidentes das Casas. Pra Mato Grosso, isso é muito, e eu não falo isso pra me vangloriar. Mas, essa proximidade com o presidente da República, com o presidente da Câmara e com o presidente do Senado é importante pra o nosso Estado.
Como Mato Grosso pode ser beneficiado com essa relação de proximidade com os líderes políticos do País?
O estado de Mato Grosso ainda está procurando espaço no Brasil, porque, infelizmente, o Brasil ainda está de costas pra ele. O Brasil vive de frente pro oceano e de costas pro verdadeiro Brasil. Então, até os parlamentares de Estados como Mato Grosso se não cavarem seu espaço, eles costumam ser… É que se você não buscar esse espaço, fica difícil fazer representação. Agora, por exemplo, eu tenho buscado muito junto ao presidente convencê-lo da forma que ele tem uma grande chance de fazer justiça no Brasil com a reforma tributária. Se ele não fazer a reforma, vai perpetuar uma desigualdade sem tamanho no País. O eixo Rio-São Paulo, que é Minas Gerais também, ele tem 70, 80 deputados, etc. Eles fazem sua estrutura tributária e o restante do País que se lasque todo. As empresas se concentram no eixo, todo desenvolvimento fica no lá, e a pobreza no restante do Brasil. Mas, isso é ruim pra esses próprios Estados, porque boa parte do que se arrecada nos Estados do eixo vai ter salvar essa turma do restante.
Como é sua relação com o presidente?
É boa, ela é uma pessoa muito grata. Eu sempre fui de lados, nunca fiquei com os pés em duas canoas, eu não faço meio governo. Estou na liderança do governo, tenho apoiado o governo, acho que se esse governo se der bem, vai ser bom pra todo o Brasil.
Antes do Bolsonaro ser empossado, ainda no ano passado, e agora mais recentemente surgiram conversas de que o senhor estava na lista de cotados para ministérios. O senhor foi procurado realmente pelo presidente?
O Podemos é um partido que tem hoje a segunda maior bancada do Senado, é um partido que, em termos de força política, em tese teria estatura para indicar um ministério. Então surgiu lá em dado momento a conversa do Podemos indicar um nome.
No ano passado ou neste ano?
Neste ano. Feliciano Amaral, Roberto Lucena e Medeiros poderiam ser os ministeriais. Até num almoço informal, o presidente falou: “Pô, quer largar minha zaga, Medeiros?” Saiu realmente essa conversa, mas não é de descartar que o Podemos venha a ter um ministério. Creio que em algum momento, o Podemos pode ter um ministério.
O Podemos, neste caso, seria representado pelo senhor?
Foram ventilados esses três nomes por causa da proximidade com o presidente. O presidente de cara brincou comigo que tenho que ficar lá na Câmara para não desfalcar o time.
O senhor considera o seu mandato atrelado ao governo Bolsonaro?
Todas que votações de que participei, eu votei a favor do governo, às vezes, até contrário ao meu partido, então é mandato totalmente ligado ao governo. Eu tenho conversado com o partido, pedi essa licença porque eu acredito nesse projeto, eu penso que não teremos outra chance de quebrar modelos, de encontrar caminhos. O País precisa dessa chance, fazer essas reformas que precisam, reformas doídas. Eu diria que reformas benzetacil.
O senhor tem preocupação com o que o Bolsonaro diz? Algumas declarações dele geram mais polêmicas do que as próprias ações de governo.
Bolsonaro é aquilo lá. Eu não me preocupo, não. Estou tranquilo. Às vezes, o deputado vem [reclamar]de que o Bolsonaro falou isso, falou aquilo. Eu digo: Rapaz, deixa o Bolsonaro falar. Vamos ver o que nós podemos fazer. Você não quer que o País melhore? Quero. Então, o que você acha de projeto que veio pra cá [Câmara] que o ministro tal mandou? Ah, mas o Bolsonaro falou… Deixa o Bolsonaro falar, você não conhece ele? Conheço. Ele era diferente, está te assustando o que ele diz? Vai ser assim o tempo inteiro, vamos tocar aqui. Ele está sendo o que propôs em campanha, as pessoas elegeram ele falando aquelas coisas. O público que é dele gosta, o público que não é dele odeia. O Bolsonaro é aquilo, a força da natureza.
O senhor acredita que o Bolsonaro pode fazer um bom governo?
Ele é um cara com muita vontade. Eu não perdoo má fé, mas eu sou muito de achar extraordinário as pessoas que podem até errar, mas que tem uma vontade imensa de acertar. E você vê uma vontade louca de fazer com que as coisas deem certo, com que o desemprego acabe, que nós tenhamos uma boa infraestrutura, que a economia come a crescer, de fazer com esse Brasil exploda em termos de indicadores de educação. Se ele falar isso ou aquilo, se a economia crescer a 3, 4%, não vai fazer a menor diferença se ele fala bonito ou feito. No frigir dos ovos, o que conta é a economia.
Segundo uma pesquisa do FSB Influência Congresso, o senhor é deputado federal de Mato Grosso mais influente nas redes sociais. Como casar esse comportamento mais de direita, com veículos que, em tese, agregam visões diferentes?
Outro dia me perguntaram qual é a minha receita. Eu nem sei qual é a minha receita. Eu sei que a minha assessoria, às vezes, fica doida com minhas redes sociais. A que dá mais trabalho é o Twitter, é a que eu estou mexendo mais. As pessoas não gostam muito do institucional, elas gostam mais da coisa espontânea. Se você fala ciclista, o cara pode até saber que ciclista é ciclista, mas, no geral, a pessoa vai quer que chame ele de bicicleteiro. A receita que eu sou é ser mais como eu me comporto no dia a dia em casa, não que eu vá bagunçar o coreto. É mais o seguinte: se você está na beira do campo e o cara te xinga, eu não respondo ou devolvo na mesma moeda.
O senhor considera isso uma contribuição política?
Nós estamos num momento em que se pode falar de assuntos sério, fazer inclusive formação, sem rebuscar muito, porque senão você não se comunica. As pessoas estão hoje com muita dificuldade de ler, tanto que está quase endemonizado o tal do texto. Você tem que arrumar um jeito de uma linguagem mais fácil e que se comunique rápido. Mas, tenho procurado não induzir muito, a gente procurado fazer uma formação política mais pelo exemplo do que pela fala. O que a gente viu do formador político que não deu em nada.