O sistema conta também com mais de 15 terminais integrados. A reunião com o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) sobre o dissídio coletivo dos rodoviários do Grande Recife foi realizada na terça (29) e terminou sem acordo. Em mais de seis horas de reunião, foi decidido que a greve entraria no terceiro dia. O julgamento sobre o dissídio coletivo foi marcado para esta quarta às 17h.No Terminal Integrado do Barro, em Jardim São Paulo, mototaxistas fazem ponto bem em frente e cobram de acordo com a demanda. O G1 conversou com alguns deles e constatou que o preço para ir até o Terminal da Macaxeira varia de R$ 10 a R$ 20. O preço normal da passagem de ônibus é de R$ 2,15, com o passageiro podendo pegar outro coletivo sem pagar ao chegar ao terminal.
O mototaxista Adriano Eufrásio explica que cobra R$ 10 para 'ajudar a população'.A gente sabe que fim de mês as pessoas estão sem dinheiro. Preciso cobrar isso porque não tenho corrida para voltar da Macaxeira, é raro, sai caro para a gente. Como o pessoal não pode chegar atrasado, acaba pagando, explica.Cobrando R$ 20 pelo mesmo percurso, o mototaxista Nilson Cunha justifica dizendo que precisa pagar a gasolina do veículo, além de arcar com as contas. O que eu ganhava no emprego era muito pouco para sustentar a família. Trabalho desde dezembro com isso. Cobro R$ 12 para deixar ali na [Avenida] Caxangá, detalha Cunha.
Para ir até Camaragibe, a vendedora Ana Raquel Silva estava disposta a pagar os R$ 25 que um mototaxista cobrou, aguardava autorização do dono da loja em que trabalha. Faz parte, eles estão trabalhando também. Durante greve de ônibus a gente tem que dar um jeito, é caro mesmo, acredita a vendedora.Para quem não quer ir de moto, algumas Kombis aparecem oferecendo lugar para ir até a Macaxeira, com o preço de R$ 5.Você paga aqui R$ 2,15 e lá não paga, se for nessas lotações, vai sair R$ 7,15. Trabalhador nenhum tem condições de ficar pagando isso, é um absurdo. Todo dia a gente sofre, com a greve piora só, conta o técnico em enfermagem Paulo Roberto da Silva, que desistiu de seguir em um ônibus que deixou o terminal com a porta aberta.
Para ir do Ibura até o Terminal do Barro, a empregada doméstica Mercês da Silva pagou R$ 3 para um motorista de Kombi. "Não estava passando muito ônibus, quando passava era lotado, estava há uma hora esperando. Melhor pagar um pouco a mais e ir", acredita.Trabalhando com turismo em um carro de oito lugares, o motorista João Ferreira relata que cobra R$ 5 para ir do Barro até a Macaxeira e também para quem quiser pegar no meio do caminho.Aproveito para ganhar um dinheiro extra, não é? Sou empreendedor individual. Quando fecha o terminal, eu aproveito para trabalhar, explica.Porém, chegar até a Macaxeira não é garantia de conseguir um novo coletivo.Sem opção, a camelô Shirlene André pagou R$ 30 para chegar da Macaxeira ao Centro do Recife na segunda-feira (28). Gastei R$ 60, não ganho isso por dia, é um absurdo. Só paguei porque tinha mesmo que ir, mas ontem [terça], não fui. Hoje está passando mais ônibus, mas tudo lotado, afirma.
Carona
Pagar nem sempre é uma opção. Muitos trabalhadores organizaram esquema de carona ou as empresas alugaram um carro para buscar os funcionários no terminal.Quando o metrô não para, dá para ficar na carona. Pego carro até o Barro, entro no metrô e rapidinho estou em casa, explica o auxiliar de enfermagem Sérgio Trajano.Sem ter conseguido trabalhar na terça-feira (29), a impressora de serigrafia Janete Silva contava com a ajuda de amigos para poder ir trabalhar.Desde a segunda-feira a gente sofre. Ontem esperei mais de duas horas o ônibus e não consegui ir para o trabalho. Tenho um amigo que mora no Ibura e ele vai passar aqui no Barro para me pegar. Sem carona, não tem jeito, afirma.
Problemas diários
O terceiro dia de greve de rodoviários no Grande Recife continua deixando muitos passageiros sem conseguir chegar ao trabalho e compromissos de ônibus. Nesta quarta-feira (30), no Terminal Integrado do Xambá, em Olinda, o intervalo entre os ônibus parece mais curto para alguns passageiros. Eles reclamam que a ineficiência do transporte, as filas e os empurrões não são exclusivos dos dias de paralisação do serviço, mas problemas diários.
É gente pulando a grade, furando fila, desrespeitando todo mundo que está esperando desde cedo.Isso aí é uma desumanidade, não é só em dia de greve, conta uma das passageiras.Estou aqui desde as 6h e ainda não consegui pegar um ônibus, quero ir para Joana Bezerra para trabalhar, explica outra passageira, que às 6h43 ainda esperava pelo transporte.Faz dois dias que não consigo chegar ao trabalho. [Eu digo ao patrão] que não tem como chegar. Cheguei aqui às 4h50 e não chega ônibus, é um absurdo. Vou ter que voltar para casa, conta outro passageiro. Com o aperto, muitos usuários desistem de embarcar.
No terminal do Barro, na Zona Oeste do Recife, os passageiros afirmam que a demora dos ônibus permanece a mesma dos dias anteriores à greve. Não há veículos suficientes para atender à demanda.Todo dia é um, mas de greve é pior. Ainda vou para Macaxeira, lutar por outro ônibus para chegar ao trabalho, reclama o ajudante de pedreiro Edvaldo Gomes.
O porquê da greve
Motoristas, cobradores e fiscais de ônibus decidiram cruzar os braços em assembleia realizada no dia 23. Eles aprovaram indicativo de greve e comunicaram a decisão ao Ministério Público do Trabalho (MPT). A categoria não aceita a proposta de reajuste de 5% nos salários e no tíquete-refeição, feita pelo Urbana-PE. Eles querem aumento de 10%, proposto pelo MPT, e elevação no valor do tíquete-refeição de R$ 171 para R$ 320.
G1