Nacional

Partidos querem ampliar fundo público eleitoral que já é de R$ 1,7 bi

Partidos da base aliada iniciaram uma nova articulação com o Palácio do Planalto para engordar o fundo eleitoral, que neste ano terá R$ 1,7 bilhão em recursos públicos. A verba extra poderia sair do remanejamento do dinheiro destinado a programas dos ministérios. Outra alternativa sob análise seria usar parte do valor a ser arrecadado com a reoneração da folha de pagamento das empresas, em discussão na Câmara. O projeto tem enfrentado resistências na Casa, mas que poderiam ser neutralizadas em troca da verba para a eleição.

A cúpula do MDB avalia que o aumento do fundo eleitoral é prioritário para lançar a candidatura do presidente Michel Temer a um novo mandato. No ano passado, o líder do governo no Senado e presidente do partido, Romero Jucá (RR), apresentou projeto prevendo que o fundo poderia chegar a R$ 3,4 bilhões. O total representaria cerca de metade do que foi gasto nas eleições de 2014. A medida, no entanto, não passou na reforma eleitoral.

Agora, o que se quer é conseguir, pelo menos, uma parte do R$ 1,7 bilhão que deixou de ser aprovada, mas esse valor ainda não foi definido. Líderes aguardam o fim da janela partidária para fechar as contas. Parlamentares têm até o dia 7 de abril para trocar de legenda sem perder o mandato.

Para aumentar a reserva eleitoral, uma opção seria o governo abrir crédito suplementar com recursos do Orçamento. A medida dependeria de um aval de Temer e aprovação do Congresso. O obstáculo é o teto de gastos públicos, que limita as despesas da União.

Na articulação para ampliar o fundo, partidos da base já miram em recursos que podem ser obtidos ainda neste ano, caso a reoneração da folha de pagamento passe pelo crivo da Câmara e do Senado.

A proposta retira o benefício que isenta empresas de setores selecionados para recolher a contribuição previdenciária de 20% sobre a folha. Se o texto alterado por deputados for aprovado até abril, a projeção é de entrada de R$ 1,25 bilhão para os cofres públicos só neste ano.

Depois de várias tentativas, o governo conseguiu na última semana aprovar a urgência da proposta, mas ainda enfrenta dificuldades para chegar a um consenso sobre os setores afetados. A urgência permite que o assunto seja levado diretamente ao plenário da Câmara, sem a necessidade de passar por votações em comissões, dando velocidade ao processo.

Doação proibida. O fundo eleitoral foi aprovado em setembro do ano passado como forma de driblar a falta de recursos empresariais nas campanhas. Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a doação de pessoas jurídicas a partir das eleições do ano seguinte.

Com a criação do fundo eleitoral, legendas médias e pequenas que participaram da eleição de 2014 vão ter mais dinheiro neste ano do que seus diretórios conseguiram à época, quando a doação de empresas ainda era permitida. Essa vantagem vai atingir, por exemplo, o PRB – com a maior diferença: R$ 56,8 milhões a mais em 2018 –, seguido de PDT (R$ 53,9 milhões a mais) e PR (R$ 36,2 milhões).

 

O PRB vem sendo cobiçado por vários partidos em razão dos recursos que receberá com o fundo, considerado um “dote eleitoral”. Um dos que têm procurado a legenda é o empresário Flávio Rocha, da Guararapes Confecções (controladora da rede de lojas Riachuelo). Na sexta-feira, Rocha anunciou que vai deixar a diretoria do grupo para concorrer à Presidência. Em busca de apoio, ele vai se reunir na próxima quarta-feira, em Brasília, com deputados federais do partido.

A prioridade da sigla, porém, é eleger uma grande bancada no Congresso. Uma alternativa para o empresário, que é pernambucano e foi deputado federal, seria se filiar e concorrer à vice-presidência formando chapa com outro candidato, como o senador Álvaro Dias (pré-candidato do Podemos), o deputado Jair Bolsonaro (filiado ao PSL) ou até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Atualmente, o PRB conta com 24 parlamentares federais, dos quais dois senadores.

Já o MDB terá queda no valor arrecadado – ficará com R$ 234,3 milhões, ou 37,8% a menos do que em 2014. Para dividir esse bolo, a Executiva do partido decidiu, em fevereiro, que deputados federais candidatos à reeleição podem contar com R$ 1,5 milhão e senadores, com R$ 2 milhões.

Com isso, o montante destinado à disputa presidencial do MDB fica restrito. Na cúpula do partido, há quem defenda, nos bastidores, a candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sob o argumento de que ele poderia financiar a campanha com recursos do próprio bolso. O outro cenário seria ter Meirelles na chapa encabeçada por Temer.

Meirelles terá de definir até o próximo dia 7 se deixa a pasta e muda de partido, já que o PSD, do ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), acena com a possibilidade de apoio ao pré-candidato tucano Geraldo Alckmin (SP).

Clima. Presidente da Câmara e pré-candidato ao Planalto pelo DEM, Rodrigo Maia (RJ) afirmou não acreditar na aprovação de um aumento do fundo neste momento. “Política não é só recursos e não deve ser”, disse ao Estadão/Broadcast. Dirigentes do próprio DEM, no entanto, admitem que o atual fundo eleitoral limita a pretensão de crescimento do partido e não cobre o financiamento de todas as candidaturas.

Defensor da volta do debate sobre o financiamento de empresas nas campanhas, o ministro do STF Gilmar Mendes aproveitou julgamento na última quarta-feira – quando foi aprovada proposta que obriga os partidos a identificar as doações de pessoas físicas – para criticar o atual modelo.

 “Estamos na pré-campanha, quem está financiando essa gente? Estamos querendo enganar quem? Vou dar os números: 730 mil doadores nas eleições de 2016, eleição municipal, modesta. Trezentos e cinquenta mil sem capacidade financeira. É o maior laranjal do mundo. Produzimos isso e assumimos a nossa responsabilidade. E esperem as eleições de 2018”, afirmou Gilmar.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Nacional

Comissão indeniza sete mulheres perseguidas pela ditadura

“As mulheres tiveram papel relevante na conquista democrática do país. Foram elas que constituíram os comitês femininos pela anistia, que
Nacional

Jovem do Distrito Federal representa o Brasil em reunião da ONU

Durante o encontro, os embaixadores vão trocar informações, experiências e visões sobre a situação do uso de drogas em seus