A defesa de uma dissertação, em outubro de 2025, marcou um feito inédito na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Ligório de Jesus Ximenes tornou-se o primeiro intercambista de Timor-Leste a concluir o Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas (PGMP), consolidando uma trajetória acadêmica construída além das fronteiras culturais e linguísticas.
Seu título de mestre, porém, é mais do que uma conquista pessoal, é o primeiro passo de um contrato de esperança e desenvolvimento com sua pátria, consolidando a parceria internacional da universidade.
Ligorio chegou ao Brasil com a missão de aprimorar seu conhecimento em Agronomia, área na qual já possuía duas graduações. Mas a chegada foi um mergulho em um universo de desafios. “Eu vim estudar aqui no Brasil. Foi uma das experiências mais marcantes da minha vida”, conta Ligório. “Inicialmente, deparei-me com diferenças significativas em relação ao clima, idioma, cultura e estilo de vida”, diz o agora mestre.
A adaptação exigiu esforço extra, especialmente no idioma. Ligorio, cuja língua nativa é o tetum e também fala indonésio, chegou a nosso país sem domínio do português. “Na minha experiência, quando chego aqui, eu não falo nada de português”, revela. “Mas todos os colegas e professores colaboraram para que eu aprendesse. Todo mundo aqui é bom”, garante.
Ele aponta, ainda, uma diferença fundamental no modo de vida: “Em Timor-Leste, valorizamos a solidariedade e o apoio comunitário. No Brasil, percebi um estilo de vida mais independente, onde cada pessoa busca crescer por conta própria. Isso me ajudou a desenvolver mais responsabilidade e autonomia”.
O Propósito da pesquisa
A pesquisa de Ligório, ‘Fingerprint molecular na identificação de clones de teca com potencial para proteção de cultivares’, é um salto técnico e científico na cultura da teca, uma madeira de alto valor. O impacto, no entanto, é direcionado ao seu país: o conhecimento adquirido servirá como uma base para o fortalecimento de sua nação. “Acredito que a minha pesquisa dará uma importante contribuição para o desenvolvimento florestal e o manejo genético de espécies florestais em Timor-Leste. O conhecimento científico e técnico daqui servirá como uma base sólida para fortalecer os laboratórios e programas de melhoramento genético no meu país”, assegura Ligório.
A orientadora da pesquisa, Leonarda Grillo Neves, já havia destacado seu compromisso. “Os desafios eram bastante grandes e ele respondeu todos à altura. Demonstrou um constante compromisso com a melhoria acadêmica, com o trabalho em equipe, com a melhoria da rotina do laboratório, com o desenvolvimento do setor educacional em Timor-Leste. Tudo isto sempre esteve para ele como uma prioridade, ele voltar com o conhecimento mais amplificado, e isto nos motiva a ter mais parcerias internacionais, porque a troca que é feita, porque não é uma via de mão única, nunca é, sempre é uma troca”, explica a orientadora.
Para Ligório, esse título é uma transformação pessoal e profissional. “O mestrado não só transformou a minha vida acadêmica, como também minha maneira de pensar. Hoje, sinto-me mais preparado para contribuir com o desenvolvimento do meu país”.
Promessa do retorno
A dedicação de Ligório por dois anos de estudo ininterrupto significou um período longe de sua família: a esposa, Francisca do Rosário, e as quatro filhas. Por exigência do seu contrato de Estado, a volta para casa é imediata para cumprir dois anos de contribuição no Instituto Café de Timor, sua instituição de origem; mas o plano é retornar ao Brasil para o doutorado. “Espero inspirar outros jovens timorenses a buscar oportunidades e acreditar que a educação pode transformar a realidade”, afirma Ligório.
Com esse foco inabalável, a história de Ligorio de Jesus Ximenes, mestre em Genética e Melhoramento de Plantas pela Unemat, encerra o ano como um poderoso exemplo de que a internacionalização e a ciência são os melhores caminhos para construir pontes entre as nações.
Com Assessoria



