O ministro Paulo Guedes foi infeliz ao classificar como parasitas os funcionários públicos brasileiros sem as necessárias ressalvas. O termo é ofensivo e desnecessário, pois os servidores não cometeram nenhuma ilegalidade, apenas aproveitaram a cortesia que o PT fez com chapéu alheio nos últimos quase quinze anos. Neste período a população cresceu 15% e o funcionalismo, 30%; a diferença de salários dos servidores para os trabalhadores do mesmo nível na iniciativa privada passou de R$ 2.500 para R$ 10.000. O PT e a Frente Parlamentar do Serviço Público (255 deputados atualmente) são os responsáveis pela tragédia fiscal que vivemos hoje.
Tenho repetido diversas vezes que os servidores públicos de todas as esferas são a essência dos trabalhadores brasileiros, pois foram recrutados em concorridos concursos com baixa oferta de vagas.
Oriundos da mesma cepa que forma a sociedade não são eticamente melhores nem piores que os demais trabalhadores. O que eles têm é o “privilégio” de aumentarem os próprios salários e benefícios pressionando os governos através de sindicalistas e políticos, estes sim, talvez merecedores da classificação genérica do Ministro.
Entretanto uma notícia publicada semana passada na imprensa aqui do nosso Estado empresta alguma verdade ao discurso do Ministro da Economia: o Estado, através da Secretaria de Planejamento e Gestão, está fazendo uma campanha de conscientização dos servidores públicos para que se motivem a cumprir a jornada de trabalho.
Vocês não leram errado, não. É isso mesmo, o Estado precisa motivar os funcionários a cumprirem o mais básico de todos os deveres que é comparecer ao local de trabalho e permanecer nele durante o tempo que seu contrato define. Vejam que a campanha nem sugere desempenho conforme a remuneração recebida, mas somente que permaneçam no serviço até o fim do expediente.
Eis o texto motivacional da Secretaria: “Organize seu tempo como se fosse uma joia do infinito (sic). A poltrona de casa é uma delícia, mas vá embora somente após completar sua carga horária”. Com essa frase os dirigentes acham que vão manter trabalhando os funcionários que estão há 15 anos com a “rédea no pescoço”. Que tal tentar outra frase? “Papai do céu não gosta de pessoas que matam serviço”.
Estes chefes que encobrem ineficiência com campanhas infantis deixaram parte do funcionalismo público parasitar o hospedeiro (Estado/sociedade) e só não vão matá-lo (o hospedeiro) porque um parasita esperto não liquida a fonte que lhe dá o sustento.
Até os políticos – menos os da bancada dos servidores – já perceberam que precisamos urgentemente livrar a Nação dessa cultura nefasta que campeia em vários seguimentos do serviço público e dar a essa categoria a boa reputação que os servidores públicos têm em muitos países onde há – preservando o espírito da metáfora do Ministro – uma desejável simbiose entre servidores e população.
Os funcionários que cumprem suas obrigações devem ficar com os elogios que fiz acima ignorando, por não lhes caber, a críticas listadas na sequência. Essas são direcionadas aos maus gestores, a alguns seguimentos e, dentro deles, a indivíduos que parasitam o País.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor