"O Brasil é, sim, um país conservador, e, para mim, isso [o personagem homossexual] não deve ser assunto. Para mim, que sou pai de três filhos, foi muito mais forte o abandono do Ayrton", disse Moura. Segundo afirma, o grande público pode até se chocar com sua atuação, que contém cenas de sexo homossexual e nu frontal, mas ele não se importa. "A resposta sincera é que tanto faz."
No filme, dirigido pelo cearense Karim Aïnouz, o salva-vidas Donato trabalha na praia de mesmo nome, em Fortaleza (CE). Pela primeira vez em sua carreira, ele falha ao tentar salvar uma pessoa de um afogamento e conhece o amigo da vítima, o motoqueiro alemão Konrad (Clemens Schick). Donato parte então para a Alemanha em busca de uma nova vida, deixando para trás o irmão mais novo, que o idolatrava. Oito anos depois, Ayrton parte para a Alemanha em busca do irmão mais velho.
De acordo com Moura, classificar o seu personagem no filme como gay é algo simplista. "Não é um personagem gay. É um personagem com tanta coisa… E entre elas ele é gay. É só mais uma característica e não a identidade dele", diz Moura, que completa: "Em certo aspecto, talvez seja o personagem mais parecido com o Capitão Nascimento que eu fiz. Um personagem homossexual, por exemplo, também pode ser viril".
Companheiro de elenco de Moura, o ator alemão Clemens Schick concorda: "Você não pode rotular esses personagens de gays, mas vivemos em um mundo no qual ser gay é errado", disse. "Por que ninguém pergunta como eu fiz para me preparar para interpretar um personagem heterossexual? Quero ser idealista e pensar que talvez, no futuro, esse tipo de pergunta nem seja levantada."
"A diferença produz tolerância", disse o diretor Karim Aïnouz, tanto sobre o tema do filme quanto o fato de "Praia do Futuro" ser uma coprodução entre Brasil e Alemanha, países sem laços culturais muito diretos.
UOL