Na verdade, o Brasil tem um número grande de médicos. O que falta é uma política de saúde, com um plano de cargos, carreira e salários, para que o jovem médico saiba quanto vai ganhar hoje, amanhã e ao se aposentar, como ocorre com outras profissões. Precisamos de investimentos maiores na carreira médica.
Também trabalhei em áreas carentes, sem estrutura, e conheço as dificuldades de se clinicar sem recursos. Por isso, não adianta apenas interiorizar médicos, tem que interiorizar a saúde. Um médico, no interior, precisa de um local razoável para consultas, contato com outras especialidades, outros profissionais da saúde e condições para transferência de um paciente grave.
É importante que o profissional continue a manter vínculos com centros de referência nas grandes cidades. Ele não pode ficar isolado, estagnado. Também é necessário investir na formação, na qualidade da educação e dos cursos médicos, sempre com o controle do MEC. No entanto, não acredito que novos cursos sirvam para fixar profissionais nesses municípios.
Os jovens médicos têm que ter atrativos para se estabelecer em uma determinada região e a questão financeira é apenas um dos fatores. Com condições mínimas de trabalho, eles se interessarão pela mudança, deixando para trás o estresse das grandes cidades, com os congestionamentos no trânsito e a violência.
A Medicina é a nossa paixão. E a formação é exigente: são seis anos de graduação e dois, três ou até cinco anos de residência médica (cujas vagas precisam ser aumentadas). O médico tem que se apaixonar pela sua profissão e estar sempre se atualizando. É preciso haver retorno, uma atenção especial, mas, raramente, isso vem acontecendo no Brasil.