Em 2016, o poeta e filósofo Antonio Cicero deu uma entrevista ao quadro Leituras Sabáticas, do Estadão, no lançamento do livro Porventura. Na ocasião, citou uma “urgência” que sentia em publicar suas reflexões filosóficas. “Para mim, a poesia é mais importante do que o que eu escrevo em prosa. Mas a poesia não precisa ser publicada imediatamente, enquanto os artigos, a impressão que eu tenho, é que é importante publicá-los, até por razões políticas”, afirmou.
Ele falou também sobre seu processo de escrita, dando como exemplo a coletânea Porventura. “Eu escrevi poemas ao longo desses últimos dez anos e também letras de música. As letras foram logo publicadas. Os poemas, alguns foram, outros não. Quando me dei conta de que tinha um livro, a partir da junção desses poemas, passei dois meses mexendo neles. Corrigi alguns, acrescentei coisas a outros. E cortei algumas coisas. Muitas coisa, na verdade. O que precisa ficar é aquilo que eu acho que seja o creme de la creme.”
Sua produção ensaística também refletia, conceitualmente, sobre a poesia. A Poesia e a Crítica, por exemplo, trazia ensaios escritos entre 2006 e 2016 e que procuravam discutir o que faz de um poema um poema. Para tanto, Cicero evoca Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar e Armando Freitas Filho, entre outros. Para encerrar o volume, ele escreve sobre a influência de A Montanha Mágica, clássico de Thomas Mann, em sua vida.
NOVO
Em uma entrevista de 1992 ao Estadão, Cicero também falou sobre como via a cena musical brasileira. “Nela, já não temos mais a repetição de fórmulas consagradas, mas a busca do novo”, afirmou.
“A música brasileira tem hoje a obrigação de pensar sobre si própria. Não é mais uma técnica transmitida de geração para geração, mas algo a ser constantemente inventado. Todas as tentativas de enveredar pelo caminho da academia no Brasil se tornam projetos repressores. Nós, brasileiros, temos agora a oportunidade de fazer outra coisa”, completou.