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Para analistas, investir na Petrobras é um negócio arriscado

A Petrobras divulgou o balanço não auditado do terceiro trimestre de 2014 e, mais uma vez, decepcionou, derrubando o preço de suas ações no mercado acionário e deixando o mercado sem consenso sobre a recomendação de compra ou venda dos papéis. 

O Ibovespa recuou 1,85% na quarta-feira (28), puxado principalmente pela queda das ações da estatal, que recuaram 11,21% (para R$ 9,03 o papel preferencial, PN) e 10,48% (para R$ 8,63, ON). Para se ter uma ideia, em 21 maio de 2008 a ação PN chegou ao teto, valendo R$ 40,25.

“Nós não recomendamos mais a compra de Petrobras agora. A empresa precisa recobrar a confiança dos resultados e da gestão. Precisa mudar a diretoria para dar credibilidade ao mercado e, principalmente, precisa divulgar o balanço auditado”, afirma Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos.

Para Celson Pácido, sem o balanço, é impossível saber o que vem por aí. Um dos motivos apontados é a interferência direta do governo no preço do combustível.

O recuo das ações PN neste ano, até o dia 27 de janeiro, é de -9,88%, enquanto as ordinárias (ON) caem 10,01%. Em 2014, recuaram 37,9% e 37,5%, respectivamente, fechando o ano a R$ 10,02 e R$ 9,59.

André Gordon, sócio da gestora GTI, acredita que os papéis da empresa, que já teve seu valor de mercado superior a R$ 300 bilhões e que hoje valem perto de R$ 110 bilhões, são uma boa opção para quem pensa em um investimento com prazo mínimo de cinco anos.

“O preço de mercado hoje só contempla a corrupção, mas os resultados absurdos que vemos hoje são o reconhecimento de tudo de ruim que já ocorreu. A empresa está na iminência de fazer ajustes e terá de reavaliar os ativos. Tudo será bem negativo, mas não tem efeito futuro. Do ponto de vista operacional, a empresa elevou a produção em 2014, tem grandes cenários para 2016 e 2017, com exploração do pré-sal”, analisa Gordon.

O executivo da gestora GTI considera ainda que o atual momento do petróleo no mundo (queda do preço em dólar), a volta da cobrança da Cide (Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico). “A Petrobras vai reconstituir caixa aos poucos [importando petróleo barato e vendendo caro], produzir mais. Minha esperança é que esse caso escandaloso de corrupção tem de melhorar a governança da empresa. O balanço auditado mudará isso e a empresa será obrigada a divulgar.”

A reportagem procurou pelo menos três analistas do setor que preferiram não falar sobre o que esperam da Petrobras, devido a uma fadiga de meses de surpresa nas informações, dados inconclusivos publicados no balanço e reviravolta em depoimentos de executivos que depõem na Justiça dentro da investigação da Operação Lava Jato, que deflagrou um esquema de corrupção na estatal.

Em seu relatório sobre a empresa, um analista da corretora Concórdia começou sua avaliação sobre o balanço da Petrobras com a seguinte frase: "Quando parece que não podemos mais nos surpreender!".  

A CoinValores não recomenda a compra, mas apenas a manutenção dos papéis para os investidores que têm ações da Petrobras. A manutenção, por ora, é recomendada até pelo menos 31 de março, quando espera que a empresa divulgue o balanço auditado com a revisão/atualização do plano de negócios da companhia para os próximos anos, entre fins de abril e começo de maio, que deve trazer diminuição dos investimentos e premissas atualizadas. “Até lá, recomendamos tão somente a manutenção dos papéis da companhia em carteira e somente após as informações da justiça (que servirão de base para os ajustes no balanço auditado) e revisão de investimentos é que saberemos com maior clareza quem será a Petrobras daqui a cinco anos”, informa a corretora em relatório ao mercado feito ontem.

A corretora do Itaú BBA manteve a estimativa de preço-alvo em R$ 16,50. Em relatório analítico, a corretora afirmou em relatório que com a divulgação do documento na madrugada de quarta-feira, sem ser auditado e não conclusivo, a Petrobras tenta apresentar um cenário pior – sobre a reavaliação de ativos, que levaria uma baixa contábil de R$ 61,4 bilhões – para reduzir as discussões em torno dos auditores.

Entenda o que o balanço não revelou

O principal destaque negativo veio das incertezas em relação ao critérios que deveriam ser empregados nas revisões dos ativos (impaiment) impossibilitaram a divulgação do documento auditado.

A Petrobras destacou que até chegou a aplicar duas metodologias distintas – uma considerando apenas os 3% de sobrepreço dos contratos, valor indicado como média de propina por operação pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, e outra considerando o valor justo dos ativos que estão envoltos nos contratos investigados. Na primeira opção não teria encontrado respaldo do auditor, nem consenso do Conselho de Administração (na segunda alternativa). A companhia ainda comenta que esta buscando uma alternativa que permita que as revisões sejam efetuadas em conformidade e atendendo às exigências dos órgãos reguladores das bolsas de valores brasileira e norte-americana (CVM e SEC, respectivamente).

Segundo o balanço, o ebitda ajustado recuou 10,4% (R$ 11,7 bilhões) e o lucro líquido caiu 9,1% (somando R$ 3,1 bilhões), na comparação com o terceiro trimestre de 2013. Os números foram afetados ainda pelo prejuízo de R$ 2,7 bilhões da descontinuidade dos projetos das refinarias Premium I e Premium II. A companhia não deu previsão para a divulgação dos balanços auditados do terceiro trimestre e do ano de 2014, mas informou expectativa de produção média superior em 4,5% ao registrado em 2014, investimentos entre US$ 31 e US$ 33 bilhões de dólares, além de estimativa de geração operacional de caixa entre US$ 28 e US$ 32 bilhões.

Fonte: iG

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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