Opinião

Pamploneando pra carnavalizar

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Estou querendo falar de Fernando Pamplona mas não sei o dia, nem sei a hora, nossa senhora! Sei onde quero chegar, onde quero passar, mas não como começar. Onde o conheci? Sei lá.

Sei que o que me atraiu na adolescência para as aulas de inglês do curso Lancaster que ficava em cima do teatro Santa Rosa, na Visconde de Pirajá (depois o espaço virou a mítica discoteca New York City), foi saber que o dono do curso, meu professor Frederico, era irmão daquele que, pra mim, já era lenda. Por aí dá pra ter uma ideia do encantamento que sinto desde sempre pelo mundo do carnaval pamplonistico.

Foi esse chamado que me levou anos depois, quando cursava Gestão de Eventos e Festas Carnavalescas, na Estácio de Sá, a um seminário organizado na FINEP, (agência pública Financiadora de Estudos e Projetos). Nele, o jornalista Fábio Fabato mediou um bate papo, em 2012, com craques como as carnavalescas Rosa Magalhães, Maria Augusta, o compositor Geraldinho Carneiro, Milton Cunha e Aydano André.

Joãzinho Trinta, o rei mendigo do carnaval”, colocou Fernando Pamplona e os demais convidados num palco com um piano mergulhado numa luz azulada ao fundo. Lembro que estava com uma câmera compacta e não tinha pedido permissão para fotografar.

Pelos registros, (depois comprovei no texto do álbum do acervo carnevalerio.com), deduzo que fiz as fotos de onde estava sentada na plateia. Via as expressões do carnavalesco emoldurado pelo piano que ele não via. Foi esse quadro que me instigou, chamou minha atenção. “É só reparar nas linhas da tampa do instrumento. Combinavam com as posições de Pamplona apontando ou gesticulando…”, brinquei na ocasião fazendo as fotos e observo agora, novamente, olhando as imagens e contando pra você, leitor.

Esse é só o começo da história que continua quando Fabato, um ano após, edita “O Encarnado e o Branco”, a autobiografia de Fernando Pamplona, e escolhe justamente uma das fotos feitas na FINEP para apresentar o autor na contracapa.

Voltei a cruzar com eles no lançamento do livro, numa festa salgueirense inesquecível no bar do Ernesto, na Lapa. Para essa fui preparada e em vez do piano silencioso ao fundo o estímulo foi uma ruidosa batucada. Nesse registro carnevalerio.com o que não faltou foi movimento…

O acreano inquieto que transformou o carnaval e sua narrativa com seus enredos e comentários, primeiro na TVE e, depois, na Rede Manchete, partiu em 2013 e voltou em espírito à Sapucaí no enredo da São Clemente “A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Pereira, da Tocandira e da Onça Pé de Boi!”, pelas mãos de Rosa Magalhães, em 2015. Chorei no alto da torre ao vê-lo passar sorridente se despedindo entre anjinhos no último carro da escola.

Pula para 2023. Foi quando soube por Tiago Ribeiro, editor da revista do 18º Prêmio Plumas e Paetês, distribuído para os artesãos da folia, que o homenageado da edição seria quem? E lá estão novamente na publicação as imagens que celebram o mestre, distribuídas no mundo do carnaval. (Parênteses para informar que Tiago é autor de “Uma Cidade Arquitetada na Fé”, livro sobre a história do Rio e sua relação com as igrejas católicas, na minha lista de desejos).

Missão cumprida? Ainda não. Faltava uma história, um resgate. Esse, ligado diretamente a Cuiabá, capital de Mato Grosso.

Em janeiro de 1992 assumi a direção de jornalismo da TV Rondon a convite do querido Nelson Réu. Primeiro projeto? Um programa sobre o carnaval cuiabano. Diário. Ao vivo. Durante o mês que antecedia os festejos. Uma loucura. Meire Pedroso na reportagem, Henri Falbo na edição, acho que Rafael de câmera. Fazia as entrevistas de estúdio ao vivo e apresentava a “atração”. Se não me engano, o tema musical era de Roberto Lucialdo. E montamos um pequeno banco de reportagens com histórias carnavalescas cuiabanas. Lembro de ter entrevistado, por exemplo, D. Adelina, mãe de Chico Amorim, esse mesmo.

Segundo projeto: a “transmissão” gravada dos desfiles cuiabanos. Junto com as reportagens, serviram de inserts na programação da Manchete de 1992, um carnaval de mais de 80 horas interruptas. A intenção de interiorizar as imagens da festa era mais um pulo do gato de Pamplona que, infelizmente, naquele ano não estava entre os comentaristas. E lá estava a TV Rondon, mandando ver para o Brasil todo no “Carnaval Campeão”, deixa da emissora. Coube a Pamplona valorizar não apenas o carnaval carioca mas, também, o dos Brasis profundos.

A TV Manchete fechou anos depois, em 1999. Na sua grade de despedida havia um especial sobre saúde repetido várias vezes nas derradeiras transmissões. Numa das matérias mostravam imagens da primeira escola de samba que abordou o HIV e, quebrando tabus, falou da AIDS no país. Era de Cuiabá! Foram registradas para a grande aventura da equipe do mestre Pamplona que apresentava e exigia passagem às manifestações populares brasileiras carnavalescas ali, no horário nobre da folia para o país inteiro.

PS1: Não consegui apurar que escola incluiu o HIV no seu enredo. Estrela do Oriente, talvez o Acadêmicos do Pedroca? Conto com a ajuda dos amantes do carnaval cuiabano para dar o crédito correto.  

PS2: Fazia tempo que queria desenrolar essa história, mas ia enrolando. Até que, numa outra missão, Fabio Fabato me “assombrou” numa imagem de 2022 pra me lembrar de fazer o registro. Olha ele aí…

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “É Carnaval” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com

 

 

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do